The ecstasy of the angel

65 4 0
                                    


Inspirei fundo virando a próxima folha do relatório da reunião que perdi hoje, já devia passar a meia noite e eu estava pelo menos 4 horas sentado na mesa do meu escritório, meu segundo quarto, depois daquele que Faithy estava dormindo lá em cima. Confesso que o fato de ter lido algumas vezes a mesma página era por culpa da minha desconcentração, e minha desconcentração tinha nome e sobrenome... minha garotinha me deixou preocupado hoje, mas do que qualquer vez antes, muito mais, porque dessa vez não parecia um simples caso de rebeldia. Ela parecia mal, afundada em um poço na qual a jogaram sem piedade. Então sim, eu pensava sobre isso entre uma página ou outra. Eu queria saber quem fez tão mal a ela, porque eu perseguiria aquela pessoa..., mas eu também não a forçaria a dizer nada, jamais forcei, por mais que quisesse saber. Então esperaria Faithy me dizer, confiar em mim o suficiente para me dizer. Eu teria paciência quanto a isso.

Balancei a cabeça e voltei a me concentrar em tudo o que foi decidido na reunião, nas descobertas relatadas por Karen, eram interessantes, na verdade, animadoras. Aparentemente tinha provas o suficiente para achar o suspeito de roubo de fazendas no sul do condado, as imagens de câmera não ajudaram muito, ele estava de costas sempre, usava capuz..., mas um dos fazendeiros havia o baleado no braço. O suspeito fugiu e provavelmente ainda deveria estar vivo, mas deixou um rastro de sangue e uma amostra foi para Nashville a dois dias, semana que vem, tendo registro sanguíneo igual no banco de dados nacional, concluiríamos a busca e eu poderia enviar o relatório final para o tribunal. Seria um caso fácil pericialmente, com o sangue, não havia como mentir. Ainda mais porque havia se passado apenas 3 dias do fato e ele ainda devia estar com o braço fodido. Se o desgraçado tivesse fugido do condado, teria que acionar os demais departamentos, isso daria mais trabalho, mas prendê-lo seria mais satisfatório ainda.

Passei para página seguinte e o instante que pousei os olhos no primeiro parágrafo ouvi o barulho que as portas duplas deslizantes do meu escritório faziam ao serem abertas. Ergui os olhos da papelada e lá estava ela, minha menina com o rosto amassado e os cabelos bagunçados de quem acabara de acordar. Linda como o inferno.

Ela sorriu plácida, apoiando a lateral no corpo na porta.

— Já acordou? — Me ergui e segui na sua direção. Ela anuiu, coçando os olhos. — E dormiu bem?

Deslizei os dedos pelo seu rostinho delicado, as maças salientes. Ela suspirou fechando os olhos, apreciando meu toque. Eu amava como ela mostrava tudo para mim, amava suas reações.

— Sim, sua cama é ótima — sorri e puxei seu queixo para cima.

— Com fome? — Faithy abriu um sorriso, mas não era aquele que eu costumava ver quando o assunto era comida. Ela já não estava mais tão embriagada, já havia se lembrado o porquê de tudo aquilo, ainda estava triste e o mais importante, não estava escondendo de mim.

— Sempre.

— Ótimo — envolvi sua mão com a minha e a puxei na direção da cozinha, Attiicus a perseguindo logo atrás. — Porque você presenciará um milagre — a deixei sentada na mesinha ao lado na janela e abri a geladeira. — Essa geladeira não ficava cheia assim desde a última vez que minha mãe insistiu em mandar comida aqui para casa, e isso já faz pelo menos uns 8 anos.

Ela riu genuinamente, apoiando a cabeça na palma da mão.

— Então o que quer comer mocinha? — Faithy suspira e olha para a geladeira.

— Ok, tem muitas opções — ela parece ponderar, mas por um momento seus olhos anuviam e eu tenho a impressão de que está pesando em outra coisa. — Na verdade, Jake — ela baixa os olhos e suspira pesadamente. — Acho que eu não to com tanta fome assim.

TENNESSEEOnde histórias criam vida. Descubra agora