Just a kid

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— Então substitui o x na segunda equação — o piloto deslizava pelo quadro exibindo a caligrafia desenhada da professora de álgebra. Eu copiava cada letra e número, mas isso não significava que minha mente estava ali.

Ah não...nem por um segundo meu cérebro se empenhou para prestar atenção nas conjunções no quatro. É, eu devia estar prestando atenção, faltavam poucos dias para o teste, eu sei. Mas eu só via azul na minha frente, o profundo, intenso e misterioso azul daqueles olhos. E não precisava de esforço algum para sentir a memória do queimor que eles causavam sob minha pele enquanto me fitavam através da fumaça bruxuleante do cohiba. Era vivido, como se estivesse acontecendo diante dos meus olhos novamente, o sorriso sarcástico, o jeito que fumava, os olhos frios que de repente despontavam em pura malicia sombria e a forma como ele falava...argh! Como se fosse o senhor perfeição, o mais esperto da sala, como se pudesse mandar em mim, como se me tivesse nas mãos.

Porque se ele acha que eu vou fazer o que ele quer, apenas porque apareceu na minha casa e me fez ficar tensa a cada palavra que soltava...ele está muito enganado.

Um pequeno sorriso puxava o canto dos lábios quando a voz de Emily soou ao meu lado, exatamente como um grunhido.

Pisquei de volta a sala e percebi que a Sra.Gonzalez assim como o resto da sala me olhava.

Merda!

— O que ta havendo com você? — Emily indagou-me enquanto estávamos na biblioteca.

— Hum? — Virei para ela ainda tamborilando o lápis sobre o caderno, e a morena revirou os olhos.

— Avoada, você está em outro mundo — franzi o cenho, mas meu celular tocou no exato momento fazendo a bibliotecária me olhar com cara feia da bancada no centro do cômodo.

A direcionei um sorriso amarelo atentando a ligação antes que fizesse mais barulho e aqueles idiotas começassem a reclamar.

— Alô?

— Srta.Hastings, sou eu, Handerson.

— Handerson! — Exclamei. — Que bom que ligou, alguma novidade? Por favor me diga que é boa — falei baixo abaixo da minha mão em formato de concha.

— Conseguimos — eu soltei os ombros e deixei um suspiro escapar pelos meus lábios.

Emily me olhou curiosa.

— Ele ainda vai responder, mas em liberdade — ainda sim eu estava sorrindo.

— E quando ele sai?

— Bom, o alvará deve ser expedido hoje, então daqui para amanhã ele está voltando para casa.

A verdade é que eu me senti culpada pela prisão de Hart, ele foi legal comigo e protegendo quando tudo aconteceu, e enquanto eu fui liberada, ele foi preso. Fora toda a história que Bender me contou, eu não consegui ficar sem fazer nada.

— Obrigada, por tudo.

— É o meu trabalho — o advogado respondeu e eu desliguei.

— O que foi? — Emily perguntou baixo.

— Hart, ele está livre — ela suspirou, não como de alívio como eu, mas ainda sim me deu um sorriso fraco.

Eu não tenho certeza se ela acredita na inocência dele, na realidade, eu acho que ninguém acredita.

— Que bom, espero que ele esteja bem — anuí.

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