Far from them all

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Faithy


As cobertas pesadas sobre mim eram como um maravilho abrigo, quentinho e fofo. Me encolhi por uns instantes, aproveitando aquele momento, ainda de olhos fechados. Ouvi o som de passarinhos, e do vento entrando pela fresta de alguma janela. Gemi afundando a cabeça no travesseiro e aos poucos fui fazendo um resumo mental da ressaca que eu deveria estar sentindo. Ontem foi um dia ruim, e a verdade era que desde Nova York eu não tinha um dia desses, a última vez foi naquela noite. Eu lembrava da maioria das coisas e sei que não fosse por Jake, muito provavelmente teria acontecido algo pior. Algo que me faria estar morta, condenada ao internato, ou no mínimo estuprada. Eu sabia que tinha errado em cada decisão, sabia que havia sido irresponsável, mas doeu. E eu nunca soube lhe dar bem com a dor. Mas ele estava lá, como um anjo, meu anjo da guarda. Achei que ele fosse me julgar, achei que ele fosse desistir de mim, como minha mãe desistiu, como meu pai desistiu, eu estava acostumada a ser uma decepção, a fazer as pessoas se afastarem de mim porque nenhuma delas suportou o pior de mim. Mas ele me abraçou, me acolheu. E eu estava acostumada a ser punida de alguma forma, eu não estava acostumada com carinho, compreensão. Ele, o ideal de justiça e lei daquele condado, não me julgou. Quem eram os outros para me apontar? Santos?

Inspirei contra fronhas e alcancei o perfume dele ali, aquilo me fez lembrar a melhor parte daquele dia. Quando Jake me fez esquecer de tudo, quando eu explodi de felicidade só para ele, quando eu me desmanchei. Jamais me senti tão viva, tão inteira e tão leve. Sorri comigo mesma e apertei o travesseiro, as memórias ainda vividas, cada sensação como eletricidade sob minha pele. Eu não imaginava que era tão bom, quer dizer eu sabia que era bom, mas foi muito, muito melhor.

Será que foi por isso que eu estou tão bem? Bom, nenhum sinal de ressaca. E eu devia no mínimo estar com muita dor de cabeça, pela bebida e pelo tanto que chorei. Hunf! Eu jamais choraria novamente por causa daquela vadia.

Ah não! Vou pensar em coisas boas! Como os dedos de Jake deslizando entre minhas coxas, ou os lábios dele roçando no meu pescoço enquanto isso, ou ainda aquela ereção tão dura contra minha bunda...apertei as pernas uma contra outra sentindo um leve pulsar apenas com lembrança, mas naquele exato instante ouvi a porta sendo aberta.

Um ranger, então o cheiro delicioso de café com leite e canela, os passos firmes e lentos. Eu permaneci imóvel, ainda de olhos fechados, porque eu queria ter o prazer de ser acordada por ele. Ouvi quando o xerife colocou a caneca na mesa de cabeceira, a cama afundou um pouco assim que ele se sentou na lateral, e meu coração disparou quando senti seus dedos, suavemente, tocarem minha bochecha. Jake tirou alguns fios desalinhados de cima do meu rosto, e em silêncio ele deslizou a segunda falange sobre meu malar. Suspirei e deixei um sorriso plácido aparecer. Devagar me virei de barriga para cima e abri os olhos. Ele estava com um sorriso repuxando o canto dos lábios, uma camisa de flanela azul sobrepondo outra branca de malha, os cabelos levemente bagunçados de quem estava em casa e não precisava se preocupar.

— Bom dia — falei com a voz manhosa como quem havia "acabado" de acordar.

— Bom dia. Como está se sentindo?

— Ótima, por incrível que pareça — os lábios dele se esticaram um pouco mais.

— Que bom — então Jake pegou a caneca sobre a mesa. — Mas ainda precisa se alimentar bem, certo? — Ofereceu.

Curvei a boca em falsa gozação, me ajeitei na cama até ficar com as costas retas contra o encosto de ferro e peguei o café.

— Ta uma delícia — falei por fim e ele inclinou a cabeça com um sorriso terno, um de seus braços de apoiando do outro lado de minhas pernas. — E você? Dormiu bem no sofá? — Pergunto após mais um gole.

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