Enfio Lia no carro com um movimento rápido, irritado demais para prolongar o drama. Dou a volta, deslizando para o banco do motorista. Quando me sento, percebo o beiço nos lábios dela, os braços cruzados com força contra o peito.
A testa franzida me diz tudo o que preciso saber antes mesmo de ela abrir a boca.
— Você não tem esse direito! — Ela dispara, a voz tremendo, embargada pela raiva ou pela bebida, não consigo distinguir qual dos dois, talvez ambos.
Reviro os olhos, puxando o cinto de segurança dela sem me dar ao trabalho de responder de imediato. O clique do cinto ecoa no carro silencioso, abafando temporariamente o caos que deixamos para trás na boate. Lia me encara, olhos semicerrados, como se quisesse me fuzilar ali mesmo.
— Você está bêbada — acuso, mais uma constatação do que uma ofensa, mesmo que ela receba como tal.
Ela aperta os olhos, a boca formando uma linha fina de teimosia.
— Isso não é da sua conta — rebate, a voz áspera e desafiadora.
Nego com a cabeça, mantendo as mãos firmes no volante enquanto começo a dirigir, ignorando sua resistência.
— Eu não vou pra sua casa... — Ela percebe o caminho que estou tomando, o rosto se contorcendo em desagrado quando vê que estou indo em direção ao Leme.
— Tenho que cuidar dos seus machucados. — Minha voz sai mais firme do que eu pretendia, mas não posso evitar. Ela pode ser teimosa, mas eu não vou deixá-la sozinha assim.
Lia vira o rosto para a janela, as luzes da rua refletindo em seu olhar perdido. Ela não responde, mas posso sentir o peso do silêncio que cai entre nós, tão carregado quanto as palavras que trocamos.
Estaciono o carro na minha vaga habitual, desligando o motor com um suspiro silencioso. Olho para o lado, vendo Lia ainda com o semblante fechado, o beiço firme nos lábios e os braços cruzados como se fosse uma muralha indestrutível.
Saio do carro e caminho ao redor, abrindo a porta do carona. Estendo a mão para ajudá-la, mas ela recusa com um gesto brusco, desviando o olhar.
Com alguma dificuldade, Lia finalmente sai do carro, seus joelhos ralados dificultando os movimentos. Mesmo assim, ela teima em se manter firme, a expressão dolorida escondida por trás da teimosia.
Seguimos juntos em direção ao elevador, o silêncio entre nós pesado como chumbo. Ela ainda não fala nada, mas o leve bater impaciente do pé no chão metálico do elevador diz mais do que qualquer palavra.
— O painel tá errado — ela murmura, os olhos fixos no horário incorreto que pisca sobre a porta fechada.
As portas do elevador finalmente se abrem, e ela sai na frente, com passos rápidos, quase tropeçando. Eu a sigo em silêncio, mantendo uma curta distância até chegarmos à porta do meu apartamento.
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Ambições Secretas | Capitão Nascimento
FanfictionRoberto Nascimento, conhecido como o "Diabo de Preto", é um dos capitães mais temidos do BOPE, a elite da polícia militar. Sua vida é marcada pela violência das favelas do Rio de Janeiro, onde ele enfrenta diariamente traficantes e criminosos, impon...