Residencial Jardim, Leme, Rio de Janeiro
Eu saio do banheiro cantarolando baixinho, secando os cabelos com uma toalha. A letra escapando dos meus lábios com leveza
– Faz uma loucura por mim... Sai gritando por aí, bebendo, e chora... Toma um porre, picha um muro que me adora... Faz uma loucura por mim...
Quando entro no quarto, o som da minha voz morre abruptamente. Meu coração quase para ao ver Beto sentado calmamente no pé da cama, me observando com aquele sorriso discreto. Eu dou um pequeno pulo de susto, levando a mão ao peito.
– Porra, quer me matar do coração? – exclamo, ainda tentando me recompor enquanto ele solta uma risada baixa.
– Você tava cantando tão bonitinho que eu não quis atrapalhar – ele responde, o tom de voz suave, mas carregado de carinho.
Eu sorrio, balançando a cabeça. Já fazia quase uma semana que estávamos morando juntos. A convivência fluía melhor do que eu imaginava, apesar da nova rotina.
Beto decidiu que Matricularia Manu na escola só depois das férias. Ele passava longas horas no quartel, e eu acabava ficando em casa a maior parte do tempo, com minhas únicas companhias sendo Solange e a própria Manu.
Ele me puxa delicadamente para mais perto, com aquele toque firme e protetor que aprendi a conhecer bem.
– Vem cá – diz ele, com o olhar atento.
Sem dizer mais nada, ele abre o cinto do meu roupão com cuidado, revelando meu corpo. As marcas das cordas já estavam em um tom esverdeado, sinais de que a cura estava progredindo, e a dor havia diminuído consideravelmente.
Ele me levou ao médico logo depois do incidente, e agora eu seguia o tratamento para a queimadura, que estava muito melhor.
Beto examina cada marca com uma expressão atenta, como se estivesse memorizando cada detalhe. Sua preocupação é palpável. Ele aponta para a mesa ao lado.
– Pega lá os remédios – pede, sem tirar os olhos de mim.
Caminho até a mesa de cabeceira e pego a pequena bolsinha que guarda os medicamentos. Ao voltar, ele já colocou uma luva em uma das mãos. Sento ao seu lado enquanto ele começa a aplicar a pomada sobre as áreas mais sensíveis da queimadura. A sensação de frio na pele é imediata, mas logo é seguida por uma leve dor que me faz fechar os olhos.
– Ai... – resmungo baixinho, mordendo o lábio para não soltar um suspiro mais alto.
– Sei que dói, mas já está bem melhor – ele murmura, concentrado na tarefa, os movimentos gentis, mas firmes, como se estivesse cuidando de algo extremamente precioso.
– É... pelo menos não tá mais ardendo tanto – digo, forçando um sorriso, apesar do desconforto.
Ele termina de aplicar a pomada e levanta os olhos para mim, seus dedos ainda traçando suavemente as bordas da queimadura, como se quisesse garantir que tudo está certo.
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Ambições Secretas | Capitão Nascimento
Fiksi PenggemarRoberto Nascimento, conhecido como o "Diabo de Preto", é um dos capitães mais temidos do BOPE, a elite da polícia militar. Sua vida é marcada pela violência das favelas do Rio de Janeiro, onde ele enfrenta diariamente traficantes e criminosos, impon...