Beto dirigia com pressa, os prédios e luzes da cidade passando rapidamente pela janela.
Eu desviava o olhar para o espelho do para-sol, os dedos trêmulos enquanto abria a bolsa à procura do meu batom. Ao encontrá-lo, suspirei, observando meu reflexo.
As marcas e machucados no meu rosto ainda eram evidentes, mesmo depois de tanto tempo. Será que foi por causa disso que elas me trataram mal? Ou foi o vestido? O batom vermelho que escolhi?
Eu nunca fui uma daquelas dondocas perfeitas, mas... porra. Será que eu estava tentando ser algo que não era?
Beto percebeu minha hesitação e, sem tirar os olhos da estrada, disse com firmeza
— Não pensa nisso. Você não fez nada de errado.
Eu apenas assenti, apertando o batom em minha mão como se ele pudesse de alguma forma apagar a dúvida que me corroía.
Enquanto ele passava pela catraca do estacionamento, à procura de uma vaga, a inquietação ainda estava ali, uma sombra persistente nos meus pensamentos.
Eu sabia que ele estava tentando me tranquilizar, mas as palavras dele ecoavam vazias, incapazes de alcançar a profundidade da minha insegurança.
Beto finalmente encontrou uma vaga, e o carro parou. Eu respirei fundo, tentando reunir a força para mandar a humilhação embora.
Descemos do carro em silêncio, o ar da noite carregado de uma tensão que ambos sentíamos, mas não mencionávamos.
Caminhamos lado a lado em direção ao elevador, nossos passos ecoando no estacionamento vazio.
Passei a bolsa pelo ombro, tentando ignorar o peso das dúvidas que ainda me rondavam.
Quando as portas de metal finalmente se fecharam, senti a mão de Beto envolver a minha com firmeza. Era um gesto simples, mas que carregava uma promessa não verbalizada.
Olhei para nossas mãos entrelaçadas, o contraste entre sua pele áspera e a minha suavidade, e sorri, reconhecendo o esforço dele em cumprir o que havia prometido: cuidar de mim
As portas do elevador se abriram com um leve tilintar, e Beto não perdeu tempo. Ele avançou com determinação, quase me puxando pela mão, e só então percebi o detalhe que havia me escapado até aquele momento: ele ainda estava usando o uniforme do BOPE.
A camisa preta colada ao corpo musculoso, as botas pesadas e as calças táticas... Ele parecia uma fortaleza ambulante, alguém que poderia enfrentar o mundo sem hesitar.
Era estranho vê-lo assim, fora do contexto das operações, em um momento tão pessoal. Mas ao mesmo tempo, me dava uma sensação de segurança.
Eu sabia que, com ele ao meu lado, estaria protegida, não importava o que viesse pela frente.
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Ambições Secretas | Capitão Nascimento
FanficRoberto Nascimento, conhecido como o "Diabo de Preto", é um dos capitães mais temidos do BOPE, a elite da polícia militar. Sua vida é marcada pela violência das favelas do Rio de Janeiro, onde ele enfrenta diariamente traficantes e criminosos, impon...