27 - Lar

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Beto solta um suspiro frustrado, claramente irritado com minha insistência

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Beto solta um suspiro frustrado, claramente irritado com minha insistência. Ele está de braços cruzados, a testa franzida, como se tentasse manter a paciência, mas eu sabia que deixar tudo dentro de casa o incomodava profundamente.

_ Amor... – ele diz, e por um momento, quase sorrio com o apelido.

Ele só tem me chamado assim desde que nos entendemos no casamento. Cada vez que o escuto, sinto uma mistura de carinho e alívio.

Quando confessei tudo a ele, sobre Alemão e o que eu havia passado, senti um medo esmagador de que algo ruim pudesse acontecer. Havia uma sombra que pairava sobre mim, a incerteza do que o futuro reservava, como se eu estivesse sempre esperando o próximo golpe.

Mas, na noite anterior, sonhei com Caveira. No sonho, ele estava rindo, sua gargalhada profunda ecoava pelo ambiente, mas não havia maldade em seus olhos. Ele me olhava de uma maneira diferente, quase como se estivesse orgulhoso.

"Precisei mostrar a moça o lado ruim, para que pudesse aceitar somente coisas boas."

As palavras dele no sonho ecoaram na minha mente, trazendo um estranho consolo. Era como se, de alguma forma, tudo aquilo tivesse sido necessário para que eu finalmente entendesse o que era importante.

Olho para ele agora, apesar da sua irritação momentânea, e vejo mais do que um homem de temperamento forte. Vejo alguém que esteve ao meu lado, que me protegeu e que, de alguma forma, se tornou meu porto– Beto, eu só trouxe duas mudas de roupa pra mim e pra Manu – digo, tentando manter a calma.

– A gente compra roupa nova, Amália – ele responde sem tirar os olhos da estrada, a voz firme, mas um pouco impaciente.

Eu respiro fundo e encosto a cabeça no vidro do carro. Embora tivesse aceitado ir para sua casa, não era tão simples assim para mim. Precisava das minhas coisas. Não era só sobre roupas.

– Não é só isso, Beto – insisto, minha voz soando mais firme. – Tem documentos, os materiais escolares da Manu... Minha certidão de nascimento é da Bahia, já pensou no caos que seria tirar uma nova?

Ele aperta o volante com mais força, claramente contrariado. O silêncio toma conta do carro por alguns segundos, e apenas o som suave da estrada quebrava a tensão.

Passamos o fim de semana no sítio onde o casamento de Igor aconteceu, e agora, enquanto Rafa e Manu dormiam no banco de trás, já passava das 20h.

Beto suspira, como se estivesse refletindo sobre minhas palavras, e me lança um olhar breve antes de voltar a atenção para a estrada.

– Tá, eu entendi... – ele começa, sua voz agora mais controlada. – Deixa que eu resolvo isso.

Eu aceno, concordando silenciosamente, mas a preocupação ainda paira no ar. Havia muito mais em jogo do que apenas roupas, e eu sabia que voltar para pegar tudo não seria tão simples assim.

Ambições Secretas | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora