10 - Francis

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Morro do Turano, Rio de Janeiro

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Morro do Turano, Rio de Janeiro

Franzo o cenho ao olhar para Manu, que apareceu com a brilhante ideia de se tornar policial do BOPE. Não costumo levar muito a sério as profissões que minha filha deseja seguir; no mês passado, ela estava convencida de que queria ser princesa.

No entanto, essa ideia do BOPE persiste há mais de duas semanas, uma novidade que não parece ter data para mudar.

A visita à UPP parece ter alimentado sua cabeça com uma enxurrada de ideias românticas. Manu agora se transformou na maior defensora do BOPE que eu já conheci.

Qualquer um que ousasse falar mal deles era o suficiente para que ela entre em cena com quatro pedras na mão, preparada para se armar com um arsenal de argumentos a favor dos "heróis do batalhão".

Não há quem possa abrir a boca para falar mal deles sem que ela imediatamente se transforme em uma advogada implacável, com a convicção de alguém que acabou de descobrir uma grande verdade.

Manuela daria uma ótima advogada.

— Tá bom, Manuzita — concordo com a menina que não para de falar sobre o BOPE.

Pago o sorvete e entrego o copinho para Manu, enquanto pego minha casquinha. Manuela acabou de sair da aula, e o Rio está mais quente do que o normal hoje. A brisa, quente e úmida, não alivia o calor.

Observo minha menina se sentar à mesa, e me acomodo ao seu lado, vendo-a saborear o sorvete com um sorriso satisfeito. O contraste entre o frio do sorvete e o calor intenso do dia parece animá-la.

De repente, ela aponta com um brilho nos olhos e exclama:

— Olha ali o Capitão Nascimento!

Sigo a direção do seu dedo e vejo um homem descendo de uma viatura, sua postura firme e a expressão séria lembrando os heróis que eu costumava imaginar.

Ele me observa fixamente enquanto passo a língua pelo sorvete, o movimento feito com a lentidão que me permite sentir cada gota fria derretendo na minha língua.

Seu olhar intenso não vacila, mantendo-se constante e penetrante.

Ele realmente cumpriu o que prometeu. A última vez que ele pagou por mim foi naquela noite, quando me comeu deitada sobre a mesa dele.

Desde então, ele nunca mais dirigiu a palavra a mim, nunca mais olhou para mim, e nunca mais se aproximou da minha casa. No entanto, quase todas as noites, ele ainda para no sinal do calçadão do Leme, um ritual silencioso que parece preencher o vazio deixado por seu afastamento.

Observo enquanto uma mulher desce da viatura, vestida com a farda preta impecável. Seu olhar está fixo na UPP, e alguns fios loiros, que escapam do coque meticulosamente arrumado, balançam levemente com o vento. Ela franze o cenho e dirige algumas palavras a Nascimento, seu tom de voz carregado de autoridade.

Ambições Secretas | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora