Roberto Nascimento, conhecido como o "Diabo de Preto", é um dos capitães mais temidos do BOPE, a elite da polícia militar. Sua vida é marcada pela violência das favelas do Rio de Janeiro, onde ele enfrenta diariamente traficantes e criminosos, impon...
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Morro do Turano, Rio de janeiro / Horas antes
Sigo com os punhos cerrados, os braços cruzados sobre o peito, sentindo a raiva ferver em minhas veias. Como é possível que esse garoto tenha a audácia de tocar nela?
Respiro fundo, tentando controlar a tensão, enquanto observo a dança entre o menino e Manuela. O sorriso dela é contagiante, e suas bochechas estão coradas de felicidade, como se o mundo estivesse girando em torno daquela dança inocente.
Olho para Amália, procurando algum sinal de que ela vai intervir. Em vez disso, ela parece estar encantada com a cena, os olhos brilhando com um brilho de aprovação quase maternal. Ela assiste a tudo com um sorriso suave, como se visse uma visão encantadora e não algo que pudesse causar qualquer preocupação.
_ Tudo bem, capitão? – pergunta Francis, notando a cor vermelha no meu rosto e me tirando do foco da cena.
Desvio o olhar por um momento, tentando recuperar a compostura.
_ Tudo ótimo – respondo mais ríspido do que pretendia, sentindo o peso da minha própria raiva.
Volto a encarar a cena com um esforço imenso para não ceder ao impulso de interromper a dança, separar as duas crianças e acabar com aquilo.
Por que, diabos, essa dança infantil está me deixando tão incomodado? Com o celular em mãos, decido enviar uma mensagem a Amália, a única maneira que encontro para expressar a urgência do meu desconforto.
Me: Tira Manuela daí agora
A mensagem é enviada e vejo Amália abrir a conversa. A resposta dela aparece quase instantaneamente.
Lia: Para de ser maluco
Ela ri, negando com a cabeça, como se meu pedido fosse uma reação exagerada, desconsiderando completamente a tensão que sinto.
Bufo de raiva e me viro, indo em direção à UPP. Não posso ficar parecendo um pai protetor agora; isso poderia complicar a vida de Manu e Amália.
Vejo a guarnição me seguindo e entro na minha sala, tentando me distrair. Pego o celular e vejo uma notificação do Instagram de Amália.
Ela havia postado uma foto nos Stories: o menino abraçando Manuela de lado, e ela dando um beijinho na bochecha dele.
Porra, quase infarto. Manuela é muito nova para estar dando beijinhos em coleguinhas de festa. Isso está me deixando ainda mais irritado.
Largo o celular, passando as mãos na cabeça.
Essa garota com toda certeza iria para um convento.
***
Tijuca, Rio de Janeiro
Bufo de raiva, vendo a demora de Rafael se arrastar. Olho para o relógio no painel do carro e vejo que já são quase cinco da manhã. Buzino mais uma vez.
