43 - Ânsia.

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Complexo do AlemãoHoras antes

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Complexo do Alemão
Horas antes...

Me ajoelho ao lado de Manuela, que finalmente adormeceu na cama improvisada no canto do cativeiro. Seu rostinho, marcado por lágrimas secas, me parte o coração. 

Com cuidado, passo a mão por seus cabelos, tentando transmitir algum conforto, mesmo que eu esteja completamente despedaçado por dentro.

— Ela é uma menina linda — a voz feminina ecoa suavemente de um canto mal iluminado do quarto. Marina está sentada ali, observando. Mesmo assim, permaneço em silêncio, sem forças para responder. — Se não quiser falar, tudo bem... — continua ela, sem perder o tom calmo, quase íntimo.

Olho para ela. Marina está relaxada, quase casual, sentada em uma cadeira de metal. Sobre a mesa ao lado dela, uma arma reluz sob a luz fraca. 

As pernas estão cruzadas e seus dedos batucam ritmadamente na superfície da mesa de metal, criando um som oco que se mistura à tensão no ar.

— Eu tive uma menina uma vez — ela começa, com um sorriso amargo se formando em seus lábios. — Ela era linda. Mais pretinha que Manuela, com cachinhos nos cabelos. Tinha um sorriso que iluminava qualquer lugar... — Ela faz uma pausa, enquanto meu dedo desliza pelos cabelos de Manuela, tentando conter o tremor nas minhas mãos. — Mas tiraram ela de mim.

Engulo em seco, sentindo o nó na garganta crescer. 

— Sinto muito — sussurro, mal reconhecendo minha própria voz. — Não consigo imaginar a sua dor...

— Ah, mas Alemão sofreu mais... muito mais, depois que o assassino de Clara foi premiado com medalhas por "pacificar" a favela. - Marina sorri, um sorriso distorcido, sem alegria.

Meu olhar encontra o dela, confuso. 

— O quê? — pergunto, sem entender o que ela insinua.

— Ele nunca te contou? — ela ergue as sobrancelhas, divertindo-se com meu desconcerto. — Foi por isso que ele virou capitão... Ele matou minha filha.

Meu estômago revira. Uma parte de mim quer gritar que essa mulher só pode ser louca, que isso não faz sentido. Mas outra parte, aquela que conhece os horrores que o passado pode esconder, permanece em silêncio, sentindo o peso da revelação.

— Por que eu tô aqui? — pergunto, minha voz saindo mais firme do que eu esperava. Mas, no fundo, já sei a resposta.

Marina se levanta, pegando a arma com uma calma perturbadora.

— Porque eu quero que ele sinta a mesma dor que nós — responde, sem hesitação.

Respiro fundo, tentando pensar rápido.

— Você sabe que, se me matar, ele vai trazer o inferno pra esse morro, não sabe? — As palavras escapam antes que eu possa filtrá-las.

Marina sorri, mas dessa vez, há algo cruel naquele gesto. 

Ambições Secretas | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora