21 - Seu

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Eu queria ver no escuro do mundoAonde está o que você querQuase um Segundo - Cazuza

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Eu queria ver no escuro do mundo
Aonde está o que você quer
Quase um Segundo - Cazuza

Roberto estacionou o carro na primeira farmácia que avistou, desligando o motor com um clique seco. Sem dizer uma palavra, pegou as receitas e saiu, o som das portas se fechando ecoando no silêncio desconfortável.

Fiquei observando ele se afastar, a sombra de preocupação que parecia pesar em seus ombros me deixando inquieta. Não que eu reclamasse de sua ajuda, mas o tenho medo do preço que isso pode me custar.

Os minutos se arrastaram até que Beto reapareceu, carregando várias sacolas plásticas em ambas as mãos. Hoje ele parecia... humano.

Ele vestia uma camiseta polo preta que acentuava seus ombros largos, combinada com um calção bege que contrastava com sua pele. O óculos de sol, que ele ainda mantinha no rosto apesar da hora, adicionava um ar irresistível ao seu semblante sério.

Pela primeira vez, notei a leveza em seus movimentos, a forma como ele evitava me encarar diretamente, como se estivesse imerso em pensamentos que não ousava compartilhar.

O carro balançou levemente quando ele entrou novamente, ajeitando as sacolas no banco de trás. O cheiro forte de medicamentos se misturou ao ar abafado do veículo, trazendo consigo um alívio incerto, mas também um novo nível de ansiedade.

Olhei para ele, esperando algum sinal, qualquer coisa que explicasse o que se passava em sua mente, mas ele apenas se ajeitou no banco, fechando os olhos por um breve momento antes de finalmente dizer

— Está tudo aqui — disse, entregando os medicamentos e os itens de primeiros socorros. — Vamos para casa e ver o que mais você precisa.

O caminho de volta para sua casa foi silencioso.

— Preciso ir pra casa — minha voz saiu meio falha, a garganta seca. — Manu tem aula.

— Eu busco ela — Nascimento respondeu sem hesitar, já encostando o carro no meio-fio.

Ele saiu do carro sem pressa, enquanto eu ficava ali, remoendo o silêncio pesado. Alguns minutos depois, ele voltou com Manuela no colo, o rostinho dela encostado no ombro dele.

Fechei os olhos por um segundo, tentando afastar a preocupação. Manu só tem cinco anos, nunca teve um pai por perto. Esses gestos dele podem mexer com a cabeça dela.

Quando eles chegaram, forcei um sorriso. Nascimento ajeitou o cinto de segurança nela com cuidado, como se fosse rotina.

O resto do caminho foi em silêncio, mas não era desconfortável, só... carregado. Ele dirigiu pela rua de trás da minha casa, aquela onde dá pra deixar o carro sem passar na frente da UPP. Evitamos qualquer olhar ou conversa que a gente não queria ter.

— Vai pro banho, Manuzita — eu disse, e ela saiu correndo para o banheiro, os olhos brilhando de animação, aliviada por estar em casa.

Eu fiquei observando até ela desaparecer pelo corredor, e então me virei para ver Nascimento entrando com as sacolas de medicamentos. Ele colocou tudo em cima da mesa, mas não parou por aí.

Ambições Secretas | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora