19 - Sobreviver

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Gatilho: Violência física

"Lágrimas negras caemSaem, saem"Lagrimas - Baco Exu do Blues

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"Lágrimas negras caem
Saem, saem"
Lagrimas - Baco Exu do Blues

Calçadão do Leme, Rio de Janeiro

Suspirei ao olhar para o celular. Outra mensagem de Luiz, insistindo para que eu passasse um fim de semana no morro. Ele dizia que precisávamos nos entender, mas eu sabia que essa proposta era mais complexa do que parecia. 

As coisas não estavam fáceis, e a cada dia, a pressão aumentava. O aluguel estava apertado, e apesar do salário de Amanda ajudar, não era o bastante para aliviar o peso que eu sentia nos ombros.

A ideia de dobrar minha meta de trabalho passou pela minha cabeça, mas a realidade me puxava de volta. Nas últimas semanas, mal conseguia alcançar o que já havia estabelecido como meta, e a frustração só crescia. 

A pista também estava sombria. As outras meninas estavam começando a cogitar caminhos que eu me recusava a seguir, algumas pensando em ir para a zona, outras considerando se vincular a cafetões. 

Eu não queria isso para mim. 

Nos últimos tempos, me distanciei de Nascimento. Ele sempre pagava bem, mas a maneira como me tratava começou a me desgastar. A cada encontro, ele me olhava apenas como uma prostituta, alguém para satisfazer suas vontades, e isso me corroía por dentro. 

Sei que é meu trabalho, e, por muito tempo, aceitei essa realidade, mas chega um momento em que algo dentro de você muda. 

Eu era mais do que uma puta. 

Enquanto essas reflexões passavam pela minha mente, abracei meu próprio corpo, buscando algum conforto naquele momento. O vento frio do fim de tarde batia de leve, e continuei caminhando, voltando para o calçadão. 

Aquele lugar tinha se tornado parte de mim, mas ao mesmo tempo, havia uma distância emocional que crescia a cada dia. 

Talvez fosse o cansaço, a rotina desgastante, ou simplesmente a consciência de que eu merecia mais, mesmo que fosse difícil acreditar nisso.

_Ei! - Ouço alguém gritar atrás de mim. - Atende dois?

Viro o rosto apenas o suficiente para ver de relance os dois homens parados na calçada. Estão visivelmente alterados, balançando de um lado para o outro como se o álcool ou outra substância fosse o único que ainda os mantinha de pé.

Não respondo, ignorando o comentário, e continuo caminhando em direção ao calçadão. O som dos saltos dos meus sapatos ecoa nas ruas vazias, cada passo aumentando a distância entre nós.

Acabei de sair da casa de um cliente, e embora não tenha batido minha meta, uma coisa é certa: nunca, jamais, fico com mais de um homem por vez

_Meu amigo falou com você, vagabunda! - O grito do segundo homem ressoa com mais força, carregado de raiva e frustração.

Aperto o passo, sentindo a urgência correr pelas minhas veias. Os saltos, que antes me davam confiança, agora parecem pesos, me arrastando para trás, me tornando vulnerável. Cada passo parece mais difícil, como se o asfalto se tornasse mais pegajoso, tentando me prender no lugar.

Olho em frente, buscando a segurança do calçadão, esperando que a presença de mais pessoas me proteja do que está por vir.

_ Porra de saltos - murmuro para mim mesma, os pés protestando a cada passo, mas não me permito parar.

A adrenalina começa a tomar conta, e só consigo pensar em uma coisa: sair dali o mais rápido possível.

Antes que eu consiga virar a esquina, sinto um puxão violento me arrancando do chão. Meu corpo é arrastado para trás e, em um instante, caio nos braços de um dos homens. Suas mãos ásperas e impiedosas começam a me apalpar, cada toque carregado de violência e desrespeito.

_Me solta! - Ordeno com a voz trêmula, tentando impor autoridade, mas tudo o que consigo arrancar deles é uma gargalhada cruel.

Desespero toma conta de mim, e em um último esforço de resistência, levanto o pé e cravo o salto no dele, com toda a força que consigo reunir.

_Vadia! - Ele berra, a voz carregada de dor e ódio.

Antes que eu possa reagir, sinto o impacto de uma bofetada que estala no meu rosto, seguida por outra, e mais outra... Até que um soco brutal atinge meu queixo, me lançando para o lado.
Minha visão embaça, e meu corpo cambaleia até que caio de joelhos no asfalto frio. Uma dor aguda atravessa meu corpo, mas não há tempo para processar.

Eles não me dão tempo. Sinto o primeiro chute atingir minhas costelas, seguido por um segundo, ainda mais forte, arrancando o ar dos meus pulmões. O gosto metálico de sangue invade minha boca, e eu cuspo, tentando clarear a mente.

Com esforço, empurro o chão para me levantar, meus braços tremendo com a dor. Tropeço nos meus próprios pés, mas não posso parar. Tento correr, a única coisa que importa agora é escapar.

Porém, quando dou os primeiros passos, sinto meu vestido ser puxado com força, e o som agudo do tecido rasgando ecoa na minha mente. Não ouso olhar para trás, não ouso parar. Cada fibra do meu ser está focada em um único objetivo

Sobreviver.

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Curtinho, mas juro que solto outro hoje.

Beijocas 

Esse capitulo tem aproximadamente 900 palavras 

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