38 - Seda

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Vila das Laranjeiras, Laranjeiras, Rio de Janeiro

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Vila das Laranjeiras, Laranjeiras, Rio de Janeiro

Eu estava sentada na cama, olhando para o telefone, vendo pela centésima vez o nome da minha mãe cair direto na caixa postal.

Uma semana. Uma semana inteira sem uma resposta, sem uma mensagem.

Nada. As mensagens nem sequer chegavam, e a irritação pulsava no fundo do meu estômago. Levantei da cama sentindo o peso do cansaço acumulado nos ombros, e caminhei de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos, tentando conter a raiva que crescia a cada segundo.

Eu havia ido ao trabalho dela. Achei que fosse só o celular quebrado ou alguma desculpa boba, mas ela tinha pedido demissão. Demissão! E não me disse uma palavra. Não que ela me devesse satisfações, mas...  dias de silêncio? Isso não era normal.

A raiva me cegava a ponto de não me preocupar com o que aquilo poderia significar. Eu estava puta demais. Minha mãe, a mulher que me criou, havia mentido a vida inteira para mim.

E agora, com tudo o que eu descobri, a probabilidade de eu ter deitado com o meu próprio pai me fazia querer gritar. O nojo e a angústia me corroíam por dentro.

Suspirei fundo, tentando afastar esse pensamento perturbador, mas ele voltava, insistente, como uma maldição. Passei a mão pelo cabelo novamente, tentando liberar a tensão, mas o cansaço era insuportável. Estava há dias sem dormir direito.

E como se isso não fosse o suficiente, a obra do salão também estava atrasada, o que só aumentava o meu nível de estresse. O salão, que costumava ser minha única distração, agora se tornava mais uma preocupação.

Manu já tinha voltado a estudar, e eu passava a maior parte do dia em casa. Não que estivesse tranquila, pelo contrário, eu ficava andando pela casa, mudando os móveis de lugar, tentando preencher o vazio e a ansiedade que cresciam a cada dia.

A casa era enorme. Muito maior do que qualquer coisa que eu imaginava ter um dia. O quarto principal tinha uma suíte com banheira e um closet, e ainda tínhamos uma área de churrasqueira com piscina.

Beto estava pensando em contratar mais alguém para ajudar Sol, a mulher que já trabalhava para nós e que, ultimamente, era minha maior companhia. Mas, enquanto isso não acontecia, eu ajudava como podia, ocupando o tempo enquanto o salão não ficava pronto.

O celular vibrou na minha mão. Era Igor, enviando mais uma de suas milhares de ideias para o salão. Ele estava empolgado, me mandando inspirações, referências de cores, móveis, e até nomes para o lugar. Eu sorri de leve, mesmo em meio ao caos.

A gente ainda tinha que decidir a cor dos móveis, das paredes, e, claro, o nome. Beto estava me enchendo o saco sobre isso, dizendo que precisava escolher logo para contratar alguém para fazer o letreiro.

Olhei para a mensagem de Igor e suspirei. O salão parecia ser o único projeto que me mantinha sã no meio de toda essa confusão. Mas minha cabeça estava em outro lugar. Peguei o celular e gravei um áudio para minha mãe, a voz embargada de frustração:

Ambições Secretas | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora