✶Capítulo quarenta ✶

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Os primeiros raios de sol mal haviam atravessado a sacada do quarto quando a porta se escancarou sem cerimônia

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Os primeiros raios de sol mal haviam atravessado a sacada do quarto quando a porta se escancarou sem cerimônia. Don olhou furioso para o mago que entrou com um sorriso largo e um brilho travesso nos olhos. Ele parecia estar em seu auge, como se a noite anterior tivesse sido repleta de diversão e desordem.

O príncipe nem ousou questionar.

— A princesa quer nos levar para um passeio! — anunciou Ryan com uma alegria irritante.

O guerreiro resmungou um palavrão que provavelmente faria até os deuses corarem, enquanto a contragosto, se levantava da cama. Antes que pudesse reclamar mais, o mago, pegou a camisa de Don que estava pendurada num gancho e, sem aviso, jogou-a diretamente em sua cara.

— Vai se vestir logo, alteza rabugenta.

— Passeio? — choramingou o príncipe, enquanto puxava as mangas da camisa com irritação, como se o próprio ato de se vestir fosse um insulto à urgência da situação. — Não temos tempo para passeios. Sem chances. Vamos pegar essa garota e dar o fora daqui.

— Foi ideia da sua sacerdotisa, ela ouviu histórias sobre um poço dos desejos na cidade e quer ir até lá. A princesa se ofereceu para nos guiar. — Concluiu o mago, desafiando Don a recusar.

O príncipe balançou a cabeça, visivelmente contrariado, já sabendo que aquela era uma batalha perdida. Se Loren havia decidido que queria ir até o tal poço, então eles teriam um maldito passeio.

Beatrice liderava o caminho pelo porto com entusiasmo. À sua frente, a cidade se desdobrava em um vibrante mosaico de vida e cores. Casas de madeira, desgastadas pela maresia, alinhavam-se ao longo de ruas pavimentadas com pedras antigas. O aroma salgado do mar misturava-se ao cheiro de peixe fresco, enquanto vendedores chamavam a atenção com gritos animados, oferecendo suas mercadorias a clientes apressados que se desviavam de crianças correndo e rindo pelas ruas. O porto estava repleto de navios de todos os tamanhos, suas velas ondulando suavemente ao vento. Pescadores trabalhavam com destreza, arrumando redes e descarregando as capturas do dia. Gaivotas planavam acima, soltando seus gritos agudos e incessantes, sempre à procura de uma oportunidade para roubar algum peixe, enquanto os mastros dos navios rangiam e gemiam, como se fossem seres vivos.

Após alguns minutos de caminhada, eles chegaram ao centro da cidade, onde um poço magnífico se destacava, envolto por uma serpente marinha esculpida em pedra. Suas grandes escamas, serpenteavam pelo contorno, formando o corpo do poço. A cabeça da criatura emergia no topo, com a boca aberta e presas pontiagudas, de onde pingava uma água salgada, como se estivesse ligada ao próprio mar. As bordas do poço estavam desgastadas pelo toque de incontáveis mãos que, com esperança ou desespero, buscavam um milagre nas profundezas.

Beatrice se aproximou do poço com elegância, Loren, ao seu lado, exibia uma expressão que alternava entre um leve desdém pela presença da princesa com um encantamento genuíno pela estrutura a frente. Ryan, sempre curioso, observava os detalhes do lugar, enquanto North, por sua vez, se mantinha afastado, aparentemente alheio a tudo, mas com os olhos sempre atentos à princesinha.

— Este é o poço dos desejos — sinalizou Beatrice. — Dizem que ele tem o poder de realizar os desejos mais profundos de quem joga uma moeda e faz um pedido sincero.

Loren olhou para Don, com uma expressão de desafio surgindo.

— Bem, o que estamos esperando? — perguntou Ryan, já tirando uma moeda do bolso e se preparando para fazer seu pedido. — Eu desejo permanecer jovem e belo para sempre.

Ele lançou a moeda com um gesto teatral, e o brilho metálico desapareceu nas águas profundas do poço. O som do tilintar se perdeu na escuridão, enquanto o mago observava com um sorriso satisfeito.

Foi a vez de North, que se aproximou com uma timidez quase cômica. Sua postura nervosa e hesitante contrastava fortemente com a potência de seu tamanho.

— Eu desejo... — começou ele, mas a voz saiu como um murmúrio quase inaudível.

— Não ouvi nada do que você disse — provocou Ryan com um sorriso zombeteiro.

— Mas não é para ouvir mesmo. É você ou o poço que vai realizar meu desejo? — North corou ligeiramente tentando se justificar.

Loren se aproximou em seguida, e imediatamente ambos deram espaço para a garota. Seus olhos brilharam enquanto uma moeda era lançada ao poço. Seu gesto era sereno, mas sua expressão revelava uma intensidade que parecia dialogar com as forças do lugar. Fechou os olhos, juntou as mãos em uma prece silenciosa e proferiu palavras em uma língua antiga. O vento parecia sussurrar seu pedido aos ouvidos da criatura marinha esculpida no poço, enquanto as águas escuras absorviam suas palavras como se fossem segredos ancestrais.

Quando seus olhos se abriram, encontraram os de Don. A eletricidade no ar fez o coração do príncipe disparar, e por um instante, ambos se perderam em uma conexão inexplicável, como se o tempo e o espaço tivessem se tornado irrelevantes.

— Sua vez, Don — a voz do mago despertou o guerreiro.

— Não, obrigado. Não acredito nessas coisas — o príncipe recusou, mas Ryan não estava disposto a aceitar um não como resposta.

— Ah, vai, não seja bobo. Toma, jogue essa moedinha aqui — o mago respondeu, empurrando Don gentilmente em direção ao poço e entregando-lhe uma moeda de seu próprio bolso.

O príncipe respirou fundo e lançou a moeda, ouvindo o tilintar desaparecer nas águas escuras. Um silêncio expectante se instalou ao redor, e até as gaivotas pareciam ter diminuído o volume de seus gritos, como se também esperassem pelo desejo do príncipe. Don hesitou por um momento, e então declarou.


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