Parado diante da carruagem que os levaria ao reino portuário, Don não conseguiu conter um sorriso malicioso ao observar Edric, enfurecido, tentando acalmar seu cavalo rebelde enquanto murmurava maldições e puxava os arreios com força.
O príncipe entrou na cabine para fugir do frio e se deparou com a sacerdotisa, completamente enrolada em seu manto felpudo, parecendo uma majestosa pilha de lã. Deslumbrante, sim, mas com um olhar gélido que poderia devastar todo reino.
— Oi, encrenca — ele a cumprimentou com um largo sorriso no rosto.
— Vá se danar — ela retrucou, apertando-se ainda mais em seu manto.
— É a viagem dos seus sonhos, por que você está tão brava? — o príncipe provocou, ele claramente não tinha amor a própria vida.
Antes que ela pudesse soltar seu veneno, o mago entrou na carruagem de maneira dramática, quase tropeçando nos próprios pés, e se jogou ao lado de Don, ofegante e com os olhos arregalados, como se tivesse acabado de ver um dragão usando uma coroa.
— O que diabos pensa que está fazendo? — Don perguntou, arqueando uma sobrancelha.
O olhar de Ryan estava focado no lado de fora, o pânico estampado em seu rosto.
— Vamos? Acredito que já podemos partir, certo? — ele deu dois toques rápidos e nervosos na lateral da carruagem, sinalizando que estavam prontos para partir.
— Ryan... — Don chamou sua atenção, buscando entender o que estava acontecendo.
— Bom... — Ryan começou, visivelmente desconfortável, enquanto escorregava para baixo no banco, na tentativa de se fundir com o estofado. — Eu e Loren... temos muitos manuscritos para traduzir. Muitas cartas de Kalandor, você sabe. Não podemos perder tempo...
Don olhou para o lado de fora e foi então que viu o rei, furioso, marchando em direção à carruagem como um touro prestes a investir.
— Seu pai quer me matar, vamos logo! — o mago exclamou.
Loren, que até então mantinha um silêncio elegante, finalmente ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— O que foi que você fez agora, Ryan?
— Bom... digamos que... um certo sacerdote fofoqueiro tenha visto uma garota correndo pelas escadarias da torre invertida... depois de sair do meu quarto. Agora, estou meio que... bastante encrencado, na verdade.
Don riu tão alto que até Loren se surpreendeu, enquanto isso Ryan se afundava ainda mais no banco.
— Meio encrencado? — ela provocou. — Acho que o seu "meio encrencado" está prestes a virar um "bem decapitado".
De repente, a porta do outro lado da carruagem se abriu e North apareceu, coberto de neve. Ele balançou a cabeça, lançando flocos de neve para todos os lados.
— Ei, vai para lá! — Loren resmungou, afastando-se instintivamente, tentando evitar a pequena nevasca que o grandalhão acabara de trazer para dentro.
Com um sorriso travesso, ele se jogou ao lado dela, se acomodando como se tivesse todo o direito de estar ali.
— Eu não vou cavalgando lá fora nesse frio congelante. Vou quentinho aqui com vocês — disse, ajustando-se com um suspiro de alívio. Seus olhos se voltaram para o mago, que se afundava ainda mais no assento, soltando um gemido frustrado.
— O que esse infeliz faz aqui? — North perguntou, surpreso.
— Sou convidado especial de Don — o mago mentiu descaradamente.
Sem mais palavras, Don deu dois toques no assoalho, e a carruagem começou a se mover ao som dos cascos dos cavalos sendo abafado pela neve que caía pesadamente do lado de fora.
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A viagem até Navalor normalmente levaria poucos dias, mas com a neve espessa, eles precisaram do dobro de tempo. Os primeiros dias foram uma batalha constante contra o frio. A carruagem balançava e rangia a cada movimento, enquanto o vento gelado assobiava entre as frestas das janelas, fazendo-os encolher nos assentos.
Durante os breves momentos em que paravam para descansar e esticar as pernas, o frio penetrante parecia morder seus ossos, fazendo-os caminhar apressados, batendo os pés no chão para afastar o gelo. Loren ajeitava o manto ao redor do corpo irritada, e North, sempre disposto a brincar, pegava punhados de neve e os lançava na direção de Ryan, que, já paranoico quase surtava a cada vez que era atingido. O príncipe por sua vez, observava tudo isso com um sorriso discreto.
Assim que a escuridão começou a cair e o frio ameaçou congelar suas almas, uma luz cintilante, lá no horizonte, surgiu. Conforme se aproximaram dela, a forma acolhedora de uma taverna foi revelada, emergindo como um oásis no deserto gelado. As paredes de madeira, pareciam abraçar o calor interno e a fumaça da lareira subia preguiçosamente pela chaminé, dançando contra o céu noturno como um sinal de boas-vindas.
— Ah, finalmente, um pouco de calor! — North exclamou, saltando da carruagem e praticamente correndo em direção à taverna. Ryan achou aquilo patético, desceu da carroceria com elegância, mas, assim que uma rajada de vento gélido passou por ele, sua postura mudou drasticamente. Sem pensar duas vezes, ele disparou logo atrás de North.
Don ergueu os olhos para a placa que balançava suavemente sobre a porta, a inscrição meio apagada revelava um nome peculiar: "Taverna do Cão". Diziam que o nome se devia aos inúmeros cães que vagavam pela região, mas a verdade era que a tal taverna ganhara esse nome por causa da esposa do taverneiro, que, segundo rumores, era tão feia quanto um cão.
Ao atravessarem a porta da taverna, foram imediatamente envolvidos pelo aroma reconfortante de comida recém preparada e pelo cheiro familiar de cerveja. O calor do ambiente os envolveu como um abraço acolhedor, o crepitar do fogo na lareira soava quase como uma melodia celestial após horas na estrada.
— Bem-vindos, caros viajantes!— anunciou o taverneiro com um sorriso e uma barba tão farta que poderia facilmente esconder uma família de esquilos.
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A Torre Invertida - Volume I
Fantasy🪙 ROMANTASIA ✶ DARKFANTASY ✶ WEBNOVEL +18 ✶ Em uma terra onde a magia é tanto um presente quanto uma maldição, Loren, uma sacerdotisa com poderes de cura, vive sob um decreto real que a torna intocável. Ironicamente, o príncipe designado como seu p...