✶ Capítulo dois ✶

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Enquanto empilhavam as lenhas, formando piras funerárias que logo seriam consumidas pelas chamas, a mente de Don se perdia em pensamentos sombrios, refletindo sobre as escolhas que os haviam trazido até ali

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Enquanto empilhavam as lenhas, formando piras funerárias que logo seriam consumidas pelas chamas, a mente de Don se perdia em pensamentos sombrios, refletindo sobre as escolhas que os haviam trazido até ali.

Até onde valia a pena lutar?

O fogo que agora devorava os corpos criava uma dança de sombras ao redor, parecendo espectros em uma coreografia macabra de despedida. Ele odiava o cheiro que isso exalava. Sentia-se exausto, muito exausto, não apenas pelo peso físico da armadura e pelas noites sem sono, mas pela carga emocional que carregava.

À medida que as últimas faíscas se extinguiam e o silêncio da noite se instalava, uma sensação de vazio tomava conta dos soldados. As estrelas acima pareciam distantes e indiferentes aos tormentos terrenos. Os homens pareciam presos em um ciclo interminável de morte e destruição, sem propósito claro além de sobreviver ao próximo dia.

Será que os deuses os haviam abandonado?

A noite caía sobre o acampamento que se estendia pela planície, um mar de tendas de lona e couro. Don mantinha os olhos fixos em um estandarte enterrado ao chão, trazendo consigo o brasão que representava sua casa: a torre. A mesma torre que trouxera terror ao rosto daquele escudeiro, a mesma cravada em seu peito. Se o símbolo era tão imponente, imagina o que o garoto sentiria ao vê-la de verdade, a verdadeira fonte de poder.

Soldados caminhavam de um lado para o outro, envoltos em mantos pesados para se protegerem do frio que penetrava até os ossos. Alguns estavam sentados ao redor das fogueiras, suas faces iluminadas pelo brilho das chamas, conversando em sussurros baixos enquanto aqueciam as mãos. O murmúrio do acampamento foi suavemente interrompido quando os primeiros flocos de neve começaram a cair da escuridão. No início, eram poucos e esparsos, mas rapidamente se tornaram mais densos, cobrindo todo o campo. Alguns dos homens erguiam os rostos para o céu, deixando que os flocos tocassem suas peles ásperas, em um raro momento de paz.

Os cavalos, abrigados em estábulos improvisados, relinchavam baixo, inquietos com a mudança repentina no clima. O fogo das fogueiras crepitava mais alto, lutando contra a umidade crescente. As tendas começavam a acumular neve em seus topos, e os caminhos entre elas tornavam-se trilhas escorregadias.

Mas, no centro do acampamento, uma tenda maior e mais robusta se destacava. Don se movia com urgência pelos corredores estreitos em direção a ela. Cada passo parecia mais pesado, como se a própria terra estivesse tentando detê-lo.

A entrada estava parcialmente aberta, e a luz suave das lamparinas interiores filtrava-se para fora. Ao afastar o tecido, seus olhos se ajustaram à penumbra dentro da tenda. Lá estava ela, sentada em uma das macas improvisadas, vestida com uma túnica sagrada, agora totalmente manchada de escarlate. Parte da vestimenta estava rasgada até a coxa, revelando sua perna esquerda envolta em bandagens encharcadas de sangue.

A Torre Invertida - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora