✶ Capítulo trinta e sete ✶

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O quarto da sacerdotisa estava mergulhado na penumbra, iluminado apenas pelas runas entalhadas na parede

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O quarto da sacerdotisa estava mergulhado na penumbra, iluminado apenas pelas runas entalhadas na parede. Damon se movia com cautela, observando cada detalhe do ambiente, desde os intrincados bordados das tapeçarias até os artefatos religiosos dispostos com precisão nas prateleiras.

Seus olhos varreram o espaço em busca de qualquer pista, qualquer indício que pudesse guiá-lo. Ele abriu cuidadosamente um dos armários, examinando as túnicas sagradas, meticulosamente organizadas. Tudo parecia estar em seu devido lugar, como se nada tivesse sido tocado por mãos que não fossem as da sacerdotisa.

Damon ajoelhou-se ao lado da cama, procurando por algo escondido nas dobras das mantas e entre as tábuas do assoalho. Seu coração batia acelerado, a adrenalina pulsava em seu corpo, enquanto sua mente se enchia de perguntas. O que ele estava buscando exatamente? Qualquer coisa que pudesse revelar os segredos que pareciam estar tão próximos, mas ao mesmo tempo inalcançáveis.

Foi então que um brilho lhe chamou atenção. Sobre o pequeno altar de pedra, repousava um colar. A corrente fina e delicada refletia a luz das runas mágicas, mas o que realmente lhe chamou a atenção foi a ausência da pedra que deveria estar ali. A moldura que segurava a gema estava totalmente vazia. Damon pegou o colar com cuidado, examinando-o de perto. A pedra não poderia ter se soltado por acidente; parecia ter sido removida de proposito. A sacerdotisa nunca estaria sem seu talismã, principalmente longe da torre, ele sabia que algo importante estava acontecendo.

O príncipe herdeiro colocou a corrente de volta no lugar com cuidado, ajustando-a delicadamente para não deixar nenhuma suspeita, uma gota de suor escorreu por sua têmpora enquanto ele afastava a mão. Seus olhos percorreram o quarto uma última vez e com o coração martelando no peito, ele recuou lentamente, abandonando um quarto que, embora aparentemente inalterado, agora guardava uma conspiração que lhe intrigava.

Caminhando pelos corredores da torre superior, ele parou abruptamente ao se deparar com a figura do rei que marchava em sua direção. 

— Beatrice chega nos próximos dias, então espero que você não cometa nenhum erro — avisou o monarca.

Damon soube que o rei havia enviado seu irmão para buscar a princesa. Ele sentiu o habitual aperto no peito, aquela sensação que o acompanhava sempre que via Don atravessar os portões do Vale, livre para explorar o que existia além das muralhas. Ao contrário de seu irmão, que viajava a serviço do reino e conhecia terras distantes, Damon sempre foi mantido como um prisioneiro invisível, alguém que nunca foi capaz de escapar da sombra autoritária do monarca a sua frente.

— Sei muito bem o que devo fazer — respondeu o príncipe, sem traçar qualquer emoção.

O rei se aproximou lentamente e Damon se manteve imóvel, recusando-se a sair do lugar, por mais que seus instintos gritassem para fugir dali.

— Só estou lhe dizendo para não assustar a garota — continuou o seu pai, com um desprezo que escorria em cada palavra.

— Assustar a garota? — o príncipe ergueu uma sobrancelha em desafio e abriu as mãos, indicando o ambiente ao redor. — Olhe para este reino. Você realmente acha que é a minha presença que a assustaria?

Ele viu o sorriso amargo e condescendente distorcer os lábios do rei.

— Tente distraí-la. Você é bom em enganar as pessoas.

Damon permaneceu em silêncio por um breve momento diante do "elogio", resistindo ao impulso de responder tudo o que lhe vinha à mente, seu rosto, no entanto se mantinha inexpressivo.

— Não se preocupe, majestade — disse finalmente, com voz controlada. — Não farei nada que comprometa seus planos.

Damon vivia em um estado de apatia constante, como se algo dentro de si já estivesse morto há muito tempo. Mesmo despertando a cada manhã, sentia-se como um fantasma, uma sombra de quem um dia fora. Tudo havia mudado naquele maldito dia, quando ele era apenas uma criança, inocente, correndo e brincando pelos corredores da torre, até ouvir as vozes exaltadas vindas do quarto de seus pais. Seu doce coração disparou com a ansiedade e a curiosidade que só a infância proporciona. Silencioso, aproximou-se da porta entreaberta.

Pelo vão, ele viu sua mãe, a rainha, parada junto à janela, o rosto marcado por lágrimas e uma dor tão profunda que parecia insuportável. O rei, próximo a ela, a encarava com uma frieza que Damon conhecia muito bem. O semblante do pai era temível e as palavras cortantes, repletas de uma ira contida que ameaçava explodir a qualquer momento. A discussão entre eles se intensificou rapidamente, e antes mesmo que Damon pudesse compreender o que realmente estava acontecendo, seu pai estendeu a mão e empurrou a rainha com brutalidade.

O tempo pareceu desacelerar quando o pequeno garoto invadiu o quarto e correu com todas as forças para o parapeito da janela, dominado pelo desespero de salvar a mãe. O coração batia forte ao ponto de doer, mas ele jamais chegou a tempo. Paralisado de horror, o príncipe herdeiro assistiu impotente enquanto o corpo da rainha despencava no ar. O grito agudo que escapou de seus lábios ecoou por toda torre, reverberando como um lamento interminável. O som se cravou em sua própria mente como uma lembrança visceral que jamais seria apagada. Ele continuou olhando fixamente até que o corpo de sua mãe se tornasse uma figura indistinta lá embaixo, perdida para sempre.

O rei não demonstrou arrependimento algum. Seu rosto permaneceu impassível, seus olhos frios encontraram os do filho, ele se aproximou, agarrando o menino com força pela nuca. Com uma voz firme e controlada, ordenou: "Pare de chorar".

O príncipe soluçava sem parar e as lágrimas queimavam suas bochechas. Em um ato de bravura dominado pela raiva, ele começou a golpear o peito de seu pai com seus punhos pequenos e fracos. O rei, segurou seus bracinhos com força, imobilizando-o e com um tom mais baixo, mas não menos amedrontador, completou: "Os sacrifícios que fazemos pelo reino são necessários. Quando chegar a sua vez, você fará pior."

Daquele momento em diante, o menino que corria alegremente pelos corredores desapareceu. Em seu lugar, surgiu alguém frio e indiferente, um sobrevivente num palácio de sombras e segredos. Damon aprendeu a esconder suas emoções, a mascarar seus pensamentos, a jogar o jogo cruel do rei, enquanto aguardava ansiosamente o dia em que, finalmente, poderia fazer justiça.

Claro que ele considerou contar a verdade a seu irmão, mas quando se aproximou de Don, que chorava agarrado ao túmulo da mãe, foi difícil encontrar coragem para revelar a cruel realidade do assassinato. Quando finalmente tentou, Don, com o rosto inchado de choro, o interrompeu dizendo: "Pelo menos ainda temos nosso pai."

Foi nesse instante que Damon decidiu proteger seu irmão da terrível realidade. Ele não queria que Don se tornasse um órfão como ele próprio se sentia, a perda não se limitava apenas à sua mãe; seu pai também havia morrido para ele. Assim, o menino manteve esse segredo enterrado profundamente dentro de si, decidindo que aquele fardo seria exclusivamente seu.

 Assim, o menino manteve esse segredo enterrado profundamente dentro de si, decidindo que aquele fardo seria exclusivamente seu

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