A Torre Invertida - Volume I

✶ Capítulo trinta e dois ✶

Uma coxa imensa de faisão foi depositada no prato de Loren, a garota já não aguentava mais comer.

— Estou satisfeita, Don — resmungou, tentando afastar o prato.

— Coma mais — ele insistiu, colocando uma porção extra de batatas assadas ao lado da coxa.

— Mas eu estou cheia, ninguém come tanto assim! — protestou.

— Eu como — interrompeu North, do outro lado da mesa. O grandalhão aproveitava a ausência do rei no jantar para se juntar à refeição dos amigos, sem ter sido convidado, é claro.

Loren revirou os olhos, e um pedaço de pão foi empurrado em sua direção.

— Ela não quer mais comer, você não percebeu? — Damon provocou, mirando o irmão com um olhar desdenhoso.

— Não se meta — Don retrucou, com a mandíbula cerrada.

— Por que você não a deixa em paz? — continuou Damon, cruzando os braços, claramente disposto a prolongar a discussão.

— E por que você não some da minha frente? — rosnou o guerreiro.

— Don, por favor, pare — Loren sussurrou, lançando um olhar de súplica na direção dele, tentando evitar que a situação piorasse.

Don ficou em silêncio por um segundo, antes de se levantar abruptamente, os punhos cerrados. Sem uma palavra, deixou a mesa furioso.

— Babaca — murmurou Damon, sem se importar com quem escutasse.

— Não fale assim de seu irmão, Damon — a garota pediu.

— É Vossa Alteza para você! Eu não sou seu amigo, não me chame de Damon! — ele retrucou friamente, levantando-se da mesa com um ar de superioridade, desaparecendo logo em seguida, deixando apenas Loren e North embasbacados.

North puxou o prato da sacerdotisa para si e começou a devorar a refeição.

— Ele me odeia — ela desabafou, seus olhos fixos no lugar vazio onde o príncipe herdeiro havia estado minutos antes.

— Ele não te odeia — respondeu North, com a boca cheia de pão. — Na verdade, ele nem liga pra você. — Essa última afirmação, dita com a brutal honestidade fez o coração dela se apertar ainda mais.

— Não, ele me odeia, eu posso sentir — insistiu, carregada de tristeza.

North parou de mastigar por um instante, refletindo sobre o que ela disse, e deu de ombros. — Bom, pelo menos ele sente alguma coisa por você então — disse, sorrindo enquanto se servia de mais vinho.

Loren bufou, sem esconder a frustração. — Uau, que maravilha, ódio era tudo o que eu queria vindo dele.

— Minha mãe sempre me contava histórias de como ela odiava meu pai quando o conheceu, o amor transforma tudo. No fim, eles eram o casal mais apaixonado que esse reino já viu — pontuou North. 

Loren soltou um leve suspiro, balançando a cabeça. — Você sente falta deles? — perguntou, com um sorriso melancólico, seus pensamentos voltando-se ao Senhor e à Senhora Darkbane. O pai de North, o antigo comandante general antes de Don, e sua esposa, haviam morrido tragicamente devido a uma peste que dizimou quase metade do Vale no passado.

Loren nunca se perdoou por não poder curá-los.

North ficou em silêncio por um momento, seus olhos perdidos em lembranças. — Muita falta — respondeu ele, seu tom mais sério agora. — Meu pai foi o melhor guerreiro deste reino. Eu... eu não sou nem metade do que ele foi.

— Você é um Darkbane, qualquer um treme de medo só de ouvir seu nome — ela acrescentou, tentando reconfortá-lo. E não era mentira. O legado de North era memorável.

— Não se importe com o Damon, enquanto ele te ignora, existem pessoas próximas a você que te amam verdadeiramente. — O grandalhão se levantou satisfeito da comida e com uma piscadela se retirou do banquete.

Loren permaneceu ali, sozinha e em silêncio por um bom tempo.