A Torre Invertida - Volume I

✶ Capítulo vinte e sete ✶

Fora da sala, enquanto caminhavam pelos corredores, Don percebeu Loren ao seu lado, claramente desconfortável. Sua respiração estava ofegante, e ela fazia um esforço visível para acompanhar o passo acelerado dele.

— Ei, vá com calma — ela arfou, tentando recuperar o fôlego.

Don parou abruptamente e se virou para ela. Ainda envergonhado por ter permitido que a garota presenciasse algo tão deprimente. 

— Me desculpe — disse ele, em um tom mais suave. — Como você está? Se sente melhor?

— Para onde vamos? — ela ignorou sua pergunta.

— Buscar a princesa — respondeu ele, observando atentamente suas expressões, procurando qualquer sinal de reação.

Loren franziu a testa imediatamente, e um desconforto estampou-se em seu rosto.

— Você está brincando, né?

— O que você acha?

Ela balançou a cabeça, soltando um suspiro irritado.

— E eu tenho que ir? — ela parecia indignada.

— Ordens do rei — Don respondeu, mantendo o tom firme.

— E você não vai nem tentar impedir? Não acredito vai me levar junto para buscar a noiva de D...

— Preciso me encontrar com North. Te encontro mais tarde, pode ser? — cortou ele sem nem esperar por uma resposta e logo se retirou de sua presença. Honestamente, não estava em condições de ouvir os dramas da garota sobre seu irmão naquele momento.

Desde o "incidente" entre eles, o príncipe mal teve contato com sua pequena. Nas poucas vezes em que conversaram, ficou evidente que ela não queria mencionar o ocorrido, evitando o assunto com uma frieza sutil, mas inconfundível.

Bom, se ela precisava de espaço, ele também.

Passando pelos corredores, Don notou uma movimentação suspeita perto da porta de sua sala de comando. Seu coração acelerou levemente, e uma sensação de apreensão cresceu.

Quando se aproximou, viu Damon visivelmente irritado, gesticulando de maneira enérgica enquanto conversava com um soldado. Era Edric. As palavras eram inaudíveis, mas a tensão entre eles era palpável. Damon, com o rosto contorcido em uma expressão de fúria, lançava olhares furtivos ao redor, como se temesse ser observado.

Edric mantinha uma postura rígida, mas seus olhos traíam preocupação. O que quer que estivesse sendo discutido, claramente não era algo que ele gostaria que fosse público. Don se escondeu na penumbra, observando a cena com atenção.

As portas da sala de comando do guerreiro estavam entreabertas, revelando apenas um vislumbre do interior mal iluminado. O que Damon e Edric estariam discutindo com tanto fervor? Don decidiu se aproximar silenciosamente, tentando captar ao menos uma parte da conversa. Damon baixou a voz, tornando ainda mais difícil ouvir. A postura defensiva de Edric endureceu, e ele balançou a cabeça, um movimento sutil, mas suficiente para transmitir sua obediência.

Antes que pudesse ouvir qualquer coisa, os dois saíram pelo corredor, suas figuras desaparecendo na penumbra. Don empurrou a porta da sala de comando e entrou, caminhando até a mesa intrigado.

Ele examinou rapidamente os papéis espalhados, procurando qualquer indício do que poderia estar acontecendo. Mapas de batalha, relatórios de patrulha, correspondências oficiais—nada parecia fora do comum. A frustração crescia dentro dele. Revirou gavetas, procurando desesperadamente uma pista, mas tudo estava exatamente como deveria estar, o que apenas aumentava sua inquietação.

De repente, Don ouviu passos ecoando pelo corredor. A porta rangeu ao se abrir, e North entrou, seus olhos azuis fixando-se nele com uma expressão inquisitiva.

— Loren disse que você estava me procurando. Encontrei com ela no corredor, e parecia furiosa. O que aconteceu?

Don respirou fundo antes de responder.

— Vamos para Navalor buscar a maldita princesa.

North engoliu em seco, uma sombra de preocupação passou por seu rosto antes que ele pudesse esconder. Havia algo a mais naquela reação do grandalhão.

— Com essa nevasca? — ele apontou com a cabeça, mas lá fora não estava nevando. Parecia que os flocos haviam dado um tempo desde que voltaram. North estava buscando uma desculpa?

— Mesmo se estivesse caindo enxofre do céu, isso não faria o rei reconsiderar sua ordem.

— Nossa, às vezes parece que ele te odeia.

Um sorriso amargo escapou dos lábios de Don.

— Às vezes? — ele respondeu com ironia, mas não havia humor em seus olhos.

— Prepare as coisas para partirmos esta semana. Chame Edric, quero ele ao nosso lado durante toda a viagem — ordenou.

— Por que Edric? — North questionou, franzindo a testa.

— Acredito que o filho da mãe tenha algum envolvimento no dia do ataque.

— Edric? Mas ele é da guarda real. 

— Exatamente, isso só o torna mais suspeito. Você pode ficar de olho nele? — Don fixou o olhar em North, esperando sua concordância.

— Às ordens, meu bravo comandante. — North bateu continência de maneira exagerada. 

— Para de ser besta — Don soltou uma risada, balançando a cabeça. Ele odiava essas formalidades, especialmente vindas de alguém que ele considerava como um irmão. — Agora me diz, por que não quer ir para Navalor?

North disfarçou, desviando o olhar, parecendo subitamente envergonhado.

— Não é nada... só queria poder descansar mais um pouco. Vou preparar as coisas que me pediu, até. — Ele se apressou visivelmente desconfortável com o rumo da conversa e se retirou da sala antes que o príncipe pudesse dizer qualquer coisa.