✶ Capítulo sete ✶

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Na manhã seguinte, Don desceu até o salão principal para comer alguma coisa

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Na manhã seguinte, Don desceu até o salão principal para comer alguma coisa. Passara a noite em claro, corroído pela raiva por ter sido tão babaca ao deixá-la daquela forma no quarto. A sensação de que algo a mais estava acontecendo com Loren não o deixava em paz. Cada detalhe do que tinha acontecido se repetia em sua mente, ampliando suas suspeitas e inquietações.

Uma coisa era ser tocado por ela, nos momentos de cura, mas poder toca-la... Droga, será que ele foi longe de mais? E se ela nunca o perdoar? 

Um misto de vergonha e frustração percorreu seu rosto ao se deparar com Loren sentada à mesa, comendo seu desjejum ao lado de North. Ele a observou rir de algo que o canalha contava apenas para fazê-la sorrir. Uma pontada de ciúmes surgiu com a cena, mas Don encarregou-se de engolir os sentimentos e sentou-se do outro lado da mesa, encarando ambos.

Loren estava vestida com uma de suas túnicas sagradas, de um escuro tão profundo quanto a cor de seus cabelos. Um colar de prata exibia uma pedra de obsidiana. A pedra, mais do que um simples acessório, era uma ligação com o poder místico que permeava o mundo ao seu redor, uma conexão com a magia ancestral que fluía através dela como um rio invisível, alimentando sua vontade e seus poderes.

Sua sacerdotisa parecia radiante, apesar dos eventos turbulentos da noite anterior.

O café da manhã era simples, mas abundante. Uma cesta de pães frescos repousava no centro da mesa, acompanhada por uma seleção de frutas da estação, queijos e uma jarra de suco de laranja.

— Bom dia, Don — North o cumprimentou com uma pequena reverência, um sorriso malicioso brincando em seus lábios. O príncipe se perguntou se Loren teria contado a ele o que acontecera na noite passada.

— Bom dia — ele desviou o olhar para ela. — Você está bem essa manhã? 

— Estou me sentindo melhor, mas vou seguir a orientação de North e viajar na carroça — Loren respondeu com um meio sorriso, embora sua expressão revelasse uma irritação contida.

— Ah, sim, claro, orientação de North — Don comentou, lançando um olhar para o amigo, que deu de ombros e não conseguiu conter uma risada. Aproveitando a distração, ele pegou um pedaço de pão, ansioso para encher o estômago.

— Quem me dera se eu fosse um príncipe e pudesse te dar ordens, não é? — ele perguntou, dirigindo-se a ela, tentando provocá-la um pouco enquanto engolia o que poderia definir como o pior pão que já comera na vida.

— Pelo menos ela finge que te respeita na frente do rei — North pontuou, mastigando um pedaço de queijo e se acomodando melhor no assento, com aquele sorriso irritante ainda estampado no rosto.

— Ela finge porque tem medo de perder a cabeça — Don acrescentou, com um tom ácido.

Era verdade. Loren era teimosa, mas diante do rei, ela se transformava em um modelo de cortesia e obediência. Fazia reverências exageradas, concordava com as suposições do seu bravo guerreiro e o servia de forma impecável. No entanto, assim que o rei se retirava, sua máscara caía: ela o provocava, ignorava e, principalmente, desobedecia-o. Essa última atitude era a que mais o irritava, mas, paradoxalmente, quanto mais ela o enfurecia, mais atração ele sentia por ela.

Reza a lenda pelo Vale que um dia a sacerdotisa deu um soco tão forte no estômago do príncipe que ele quase voltou para a infância em um único golpe. Claro, ninguém jamais conseguiu provar a veracidade dessa história. 

— Eu não sou a única que quebra as regras aqui — ela retrucou, travando o olhar no dele por um instante, antes de desviar para comer um pedaço de fruta.

Memórias da noite anterior inundaram a mente de Don, e ele respirou fundo. Muito fundo.

— Eu perdi alguma coisa? — North parecia confuso, o sorriso morrendo em seus lábios.

— Nada de importante. — Don levantou-se da mesa e caminhou até a porta. O frio e a neve lá fora pareciam muito mais reconfortantes do que continuar com aquele diálogo.

Ao sair da estalagem, foi recebido por um tapete branco de neve. Dirigiu-se ao estábulo, uma estrutura antiga e robusta. A porta rangeu de maneira sinistra ao ser empurrada, revelando o interior mal iluminado, impregnado pelo familiar cheiro de feno e couro.

Seu cavalo estava na baia, uma majestosa figura de pelos escuros que contrastavam com o brilho da neve do lado de fora. Seu nome? "Docinho", um resultado direto dos caprichos da sacerdotisa. Ela teve a brilhante ideia de batizá-lo assim em um momento de inspiração mágica e, apesar dos esforços de Don para se opor à ideia, acabou cedendo as vontades da garota, como se docinho fosse o nome mais apropriado para um cavalo robusto e imponente...

O animal inclinou a cabeça, reconhecendo a presença dele com um leve relincho. 

Enquanto acariciava a crina do cavalo, ouviu o som suave de passos se aproximando. Virou-se ligeiramente e viu a porta do estábulo se abrir com um rangido baixo e prolongado. A sacerdotisa empurrou a madeira com um movimento decidido. O capuz de seu manto deslizou ligeiramente para trás, revelando seus olhos que brilhavam com raiva. Ela avançou, parando a poucos metros dele. Don respirou fundo, preparando-se para o confronto inevitável.

— "Nada de importante?" — as sobrancelhas de Loren se ergueram enquanto ela cruzava os braços.

— O que você quer que eu diga? Que eu perdi a porra do controle e te toquei ontem? — Don sentiu a impaciência borbulhar dentro de si e deixou as palavras escaparem em frustração.

Os olhos de Loren se estreitaram com mais raiva enquanto ela respondia, acusadora:

— Você enxugou uma lágrima e saiu correndo como se tivesse tocado em alguém com lepra!

Don respirou ainda mais fundo, tentando se controlar.

— Você não entende, Loren — murmurou ele, seus olhos buscando os dela, implorando por compreensão. Não podia permitir que uma discussão irrompesse no meio do estábulo, com os soldados ocupados ao lado de fora.

— Então me faça entender — ela pediu, sua voz ganhando uma suavidade repentina que quebrou o príncipe.

Ele fechou os olhos por um momento, lutando para encontrar as palavras certas. Como poderia explicar as emoções que ela despertava nele? As insanidades que passavam pela sua mente enquanto a imaginava e o quão perigoso foi tocá-la daquela forma.

— Me diga, Don, o que eu não entendo? — sua voz suplicou, e ela se aproximou, reduzindo a distância entre eles. Antes que ele pudesse responder, a conversa é interrompida pelo soldado que surge quebrando o momento.

Loren se afastou rapidamente.

— Comandante — o soldado se apresentou com uma continência, antes de continuar — sacerdotisa, desculpem a interrupção, mas a tempestade está se intensificando rapidamente.

— Avise os outros, partiremos em breve. — Don deu o comando e se voltou para Loren — podemos continuar essa con...

— Não! — Ela se afastou em direção à saída. Uma onda de frustração invadiu Don, ele estava exausto, e a neve que cai ininterruptamente parece intensificar ainda mais seus problemas.

 Uma onda de frustração invadiu Don, ele estava exausto, e a neve que cai ininterruptamente parece intensificar ainda mais seus problemas

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