✶ Capítulo cinco ✶

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O vento frio castigava impiedosamente, e a neve caía sem tréguas havia dias

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O vento frio castigava impiedosamente, e a neve caía sem tréguas havia dias. O batalhão de guerra, exausto, avançava com dificuldade pelas trilhas geladas, enquanto os cavalos bufavam vapor no ar. Os soldados estavam cobertos de gelo, mas os estandartes, apesar de rasgados e sujos, ainda eram levantados com orgulho.

À medida que a noite descia como um véu fúnebre sobre a paisagem congelada, avistaram uma estalagem solitária surgindo entre as árvores retorcidas. Sua estrutura maciça de madeira escura erguia-se diretamente do solo, como se estivesse enraizada nas profundezas da floresta que a cercava. Luzes trêmulas emitiam uma luminosidade fraca através das janelas pequenas e sujas, e o tilintar distante de copos, junto ao som abafado de vozes enevoadas, comprovava a presença de vida dentro da estalagem.

Ao se aproximarem, a porta rangeu em protesto ao abrir-se, revelando um interior quase convidativo. O ar estava impregnado com o aroma pesado de madeira velha, fumaça e algo mais indefinível. O dono da estalagem, um gigante de barba grisalha e olhos que faiscavam com uma intensidade quase sobrenatural, os observava com uma expressão que mesclava desconfiança e indiferença. Seu cumprimento foi um gesto frio e mecânico, como se apenas tolerasse a presença dos viajantes naquele domínio que ele considerava seu.

Os homens, cansados e famintos, entraram um a um, sentindo o calor do fogo na lareira envolver seus corpos gelados. A sala principal estava repleta de mesas de madeira maciça, e várias já estavam ocupadas por outros viajantes e mercadores. Os soldados se acomodaram, alguns removendo as armaduras pesadas e estendendo as mãos para o fogo, tentando trazer de volta a sensação aos dedos entorpecidos. Os servos da estalagem logo trouxeram canecas de cerveja e pratos fumegantes de ensopado. North, sentado à cabeça de uma longa mesa, levantou seu copo.

— À vitória e ao descanso merecido! — brindou, e o batalhão respondeu com vozes roucas, erguendo suas canecas e bebendo como se o líquido pudesse purificar suas vidas.

À medida que a noite avançava, a atmosfera se tornava mais leve. Risadas ecoavam pela sala, histórias de batalhas eram contadas e recontadas, e, por um momento, a guerra parecia um pesadelo distante. Don caminhou até o balcão de madeira escura, as botas deixando marcas úmidas no chão, a neve derretendo lentamente. Apoiou no tampo e respirou fundo enquanto o calor do ambiente lutava para aliviar a rigidez do seu corpo.

O balconista, um senhor de idade avançada, aproximou-se com um sorriso que mal conseguia iluminar o tédio perpetuamente enraizado em seus olhos cansados.

— O que vai ser para o senhor, comandante? — perguntou o velho, reconhecendo a patente de Don ao observar a armadura que o distinguia dos demais.

— Uma cerveja, por favor. 

O velho pegou uma caneca e a encheu com a bebida espumante, lançando lhe um olhar questionador.

— E o resto do exército? Não vejo muitos de vocês.

O peso da pergunta claramente se refletiu no rosto do príncipe.

— Não há mais sobreviventes — disse ele, com a voz baixa e sombria. — Estávamos em uma patrulha quando o exército inimigo nos pegou de surpresa. A batalha foi feroz, e perdemos muitos homens. — Don não sabia exatamente o por que havia revelado essa informação. Não que fosse um grande segredo, mas talvez o velho estivesse acostumado com confissões "sigilosas" o que lhe concedeu uma certa liberdade para um desabafo.

O balconista entregou-lhe a cerveja, seus olhos agora cheios de compaixão. O comandante não esperava por isso.

— Mas vocês venceram, não é? Eu ouvi rumores de vitória... — O olhar do velho se voltou para onde a maioria dos soldados estavam sentados.

Don assentiu lentamente, levando a caneca aos lábios e tomando um longo gole antes de continuar. O líquido desceu pela garganta, ajudando a empurrar a angústia.

— Sim, vencemos. Mas é uma vitória amarga. Os homens que você vê aqui são os únicos que restaram. Os outros... deram suas vidas para garantir que pudéssemos voltar.

Houve um momento de silêncio pesado, interrompido apenas pelo murmúrio distante das conversas e risadas abafadas. O velho suspirou, apoiando-se no balcão.

— Lamento ouvir isso, comandante. Que seus homens encontrem paz. E que aqueles que restaram possam encontrar força para seguir em frente.

Don ergueu sua caneca em um gesto de agradecimento e respeito, bebendo mais um gole enquanto seus olhos percorriam o salão.

— Eles foram verdadeiros heróis — desabafou, mais para si mesmo do que para o balconista. — E vamos honrar seus sacrifícios. Hoje à noite, brindamos a eles. E amanhã, continuamos lutando, por eles e por tudo o que defendemos.

Um tempo depois, nosso príncipe aproximou-se da lareira, tentando afastar o frio que ainda teimava em permanecer em seus ossos. As brasas crepitavam, lançando fagulhas ardentes que dançavam como fadas malignas em um ritual profano. Seus olhos cansados vagaram pela sala em busca dela, a única cujo olhar podia trazê-lo de volta à vida.

Então, ele a viu.

A sacerdotisa, com sua graça etérea, levantou-se da mesa onde estava sentada e começou a caminhar em direção às escadas que levavam aos quartos do andar superior. Seus movimentos eram suaves, mas Don notou como seus passos eram calculados por causa da dor. Maldita Loren, apenas para provocá-lo, não havia descido do cavalo em nenhum momento.

Uma onda de ansiedade inundou o ser de Don. Ele seguiu em sua direção, observando cada movimento enquanto se aproximava. Deixou a caneca vazia em uma mesa próxima, determinado a segui-la sem levantar suspeitas. Os degraus de madeira envelhecida rangiam melancolicamente sob seu peso. Ao alcançar o topo da escada, seu olhar capturou a porta do quarto dela se fechando suavemente.

Atravessou o corredor sombrio com cautela, sentindo a pressão do suspense fazer suas mãos suarem. Que porra, por que se sentia assim? Aproximou-se da porta, com o coração martelando no peito. Levantou a mão para bater, mas hesitou. O que diria? Agora, diante daquela porta de madeira simples, ele se sentia paralisado pela incerteza e pelo medo de parecer tolo.

Encostou a testa na madeira, fechando os olhos, tentando encontrar coragem. Podia ouvir os sons suaves do movimento dela do outro lado, e cada pequeno ruído parecia ecoar em sua mente, aumentando a ansiedade. Finalmente, respirou fundo, decidido a bater. Mas, no último momento, recuou. Ficou ali por um instante, incapaz de se mover, dividido entre o desejo de vê-la e o medo de estragar tudo. Estragar o quê? Eles não tinham nada. Sentia-se frustrado por não conseguir superar seus próprios receios até que...

— Don? — A maldita porta se abriu, e seu coração deu um salto.

— Don? — A maldita porta se abriu, e seu coração deu um salto

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