✶ Capítulo vinte e dois ✶

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Na manhã seguinte, Don desceu novamente para a cozinha, mas dessa vez sua busca não era por North

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Na manhã seguinte, Don desceu novamente para a cozinha, mas dessa vez sua busca não era por North. Ele atravessou o ambiente com um objetivo claro: encontrar Liza, a cozinheira de meia-idade que sempre o acolhia como se fosse seu filho. Suas bochechas rosadas estavam marcadas pelos sinais de uma manhã atarefada, mas nada disso a impediu de dar um sorriso caloroso quando viu o príncipe entrar.

Sem qualquer cerimônia, Liza o envolveu em um abraço apertado, ignorando completamente as formalidades que alguém da realeza esperaria.

— Bom dia, meu querido! — disse ela, com sua voz calorosa, enquanto o apertava mais do que o necessário.

Don riu, aceitando o gesto e retribuindo o afeto que sempre recebia dela.

— Bom dia, Liza. Quero lhe pedir um favor — falou, com um sorriso travesso no rosto.

Ela recuou só o suficiente para encará-lo nos olhos, com uma expressão curiosa. — Chora, pode chorar que não há nada que eu não faça por você! 

— Eu queria que você preparasse um doce especial.

— Que doce seria? — perguntou, já desconfiada.

— Doce de mirtilo, daquele bem açucarado — explicou ele, tentando soar casual.

Liza, no entanto, não era tola. Seu sorriso se alargou ainda mais enquanto o observava com um olhar acusatório e divertido.

— Hm, coincidentemente, o doce preferido da sua sacerdotisa... 

Don deu uma risada, sabendo que ela o conhecia bem demais. — Preciso acalmá-la. Pensei que algo doce ajudaria. E não me olha assim, foi você que me ensinou essa tática! 

Liza soltou uma risada baixa, balançando a cabeça. — Você sempre foi apaixonado por ela desde garotinho, né, Don? — murmurou, sua voz baixa para que ninguém mais ouvisse.

O príncipe corou ligeiramente, desviando o olhar por um breve momento antes de voltar a sorrir. — Talvez. Mas isso não significa que precise ser assunto de corredor, Liza — respondeu, com um tom leve, mas claramente carregado de afeto e admiração pela mulher que, de certo modo, também o criara.

— Lembro-me de quando você era apenas um garoto travesso. Quantas vezes você entrou escondido na cozinha para roubar doces para a Loren! — dizia ela, rindo com carinho, seus olhos brilhando com nostalgia.

— Eu entrava de mansinho, pensando que ninguém me via.

— Ah, Don, você era péssimo em ser furtivo. Sempre deixava um rastro de migalhas — continuou, com um sorriso afetuoso. — E eu, fingia não ver. Mas logo depois aparecia com uma bandeja cheia de doces, como se fosse mágica.

O príncipe coçou a nuca, envergonhado. 

— Como eu poderia resistir a dois olhinhos coloridos e a uma desculpa esfarrapada? — Ela acariciou o rosto de Don com ternura. O toque dela, leve e carinhoso, mexeu com ele de uma forma inesperada. Ele não era inseguro pelas cicatrizes, ou pelo menos era o que ele dizia a si mesmo. Mas a verdade é que ele se perguntava, em segredo, se Loren teria nojo ao tocar seu rosto marcado. Será que ela o tocaria com a mesma gentileza, não para curá-lo, mas para demonstrar carinho?

Liza, sempre atenta às emoções, mudou o foco da conversa. — Vai, senta-se ali e espera um pouco. Vou preparar o doce mais delicioso que a Loren já provou — disse, e então começou a misturar os mirtilos frescos com mel, suas mãos habilidosas moviam-se com a familiaridade de quem fazia aquilo por anos.

Don, obediente, se sentou, observando-a trabalhar. Conforme o cheiro doce dos mirtilos começava a preencher a cozinha, os pensamentos dele vagaram para outro lugar, uma memória de sua infância. A imagem de sua mãe surgiu em sua mente. Quando pequeno, eles eram inseparáveis. A rainha era um farol de luz e calor em sua vida. Juntos, invadiam a cozinha para preparar sua famosa torta de morango, ela o deixava colocar os pedacinhos de fruta na massa, e ele se sentia orgulhoso em ajudar sua mãe. O cheiro doce daqueles momentos trazia uma sensação de segurança e amor. 

Mas essa sensação fora cruelmente arrancada dele no dia em que a encontrou morta ao pé da torre. A queda havia torcido seus membros de forma grotesca, e a expressão em seu rosto era marcada pelo terror absoluto. O pequeno Don olhou para o alto, tentando desesperadamente entender por que ela se lançaria ao vazio. A visão da torre, erguendo-se imponente e ameaçadora, tornava a dor anda mais insuportável. Ele não entendia, não conseguia aceitar como alguém tão cheio de vida e amor poderia ter se jogado, deixando-o para trás.

Seu peito apertava com essas lembranças, e a dor que ele havia tentado enterrar retornava em ondas silenciosas.

— Você já comeu hoje? — Liza perguntou, sua voz interrompendo seus pensamentos e o trazendo de volta à realidade.

Ele balançou a cabeça, afastando as memórias. — Não estou com fome.

Mas Liza, conhecendo-o bem demais, não aceitou essa resposta. — Não existe isso de não estar com fome, você é um guerreiro. Vá, coma um pouco de carne assada pelo menos — ordenou, apontando para a mesa repleta de comida, pronta para o café da manhã que em breve seria servido no salão principal. 

— Você também não tem dormido, né? 

— Hm, pequenos cochilos, honestamente, acho que nunca dormi de verdade. — Ele esfregou os olhos como se o gesto por um milagre pudesse afastar a exaustão, nunca afastou. 

— Então vá e coma! Você parece fraco! 

Don se dirigiu à mesa, onde um prato foi prontamente colocado em suas mãos por um servo atento. Embora não estivesse com fome no momento, sabia que tentar convencer Liza do contrário seria um esforço inútil. 

Com um suspiro, ele pegou a concha e começou a servir de carne assada, observando como sua resistência se dissolvia rapidamente diante do banquete à sua frente.

Após a refeição, que realmente valeu a pena, a cozinheira apareceu com o pote do doce que ele havia pedido. Ela o entregou junto a um abraço, carregado de compreensão. 

Don retribuiu o gesto com um sorriso sincero, ele se retirou da cozinha, o pote em mãos e a sensação de estar um pouco mais preparado para o que estava por vir.

Enfrentar sua grande, pequena teimosa. 

 

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