Don decidiu descer a torre. Após percorrer toda a escadaria, abriu a porta do quarto dela e, para sua surpresa, ela também não estava lá. Ele fechou a porta com frustração, sentindo uma energia sombria puxá-lo para baixo, como se a própria escuridão o estivesse chamando. Passou pelo quarto do mago, onde uma luz solitária projetava sombras distorcidas nas paredes de pedra. Como em um transe, ele continuou descendo os degraus, deixando-se levar pela inquietação que o consumia.
O ar ao redor parecia mais denso à medida que ele descia, carregado com o cheiro de mofo e a sensação de isolamento. As paredes de pedra robustas e gastas pareciam se fechar ao seu redor, sufocando qualquer traço de esperança que ainda restasse em seu coração.
De repente, ele avistou uma silhueta desaparecendo na completa escuridão. Seu corpo se retesou e o coração parou por um instante. Por um segundo, ele sentiu como se tivesse perdido sua pequena.
— Loren! — gritou em desespero.
Havia um motivo pelo qual ninguém descia até o fundo da torre. Séculos atrás, quando seus antepassados começaram a construir essa fortaleza, vossa ambição os levou a cavar cada vez mais fundo na terra. No início, a construção parecia uma obra-prima, mas, à medida que a torre se afundava, histórias sombrias começaram a surgir.
Os primeiros sinais de loucura começaram a aparecer entre os mineiros. Homens que antes eram robustos e cheios de vida tornaram-se pálidos e inquietos, seus olhos refletindo um terror inexplicável. Alguns começaram a murmurar sobre vozes que sussurravam promessas vazias de riquezas e poder. Logo, esses sussurros se transformaram em gritos de agonia, levando muitos a tirar a própria vida em um desespero que ninguém conseguia compreender. Corpos foram encontrados pendurados nas vigas de madeira, ou estirados no chão de pedra, com expressões de horror eterno gravadas em seus rostos.
Mesmo os magos, cujas mentes eram fortes e treinadas para resistir às tentações, não foram poupados. Aqueles que desceram para ajudar na escavação voltaram diferentes. Uma vez carregados de conhecimento, tornaram-se vazios, e muitos enlouqueceram, incapazes de suportar o que haviam encontrado nas profundezas. Um mago em particular, conhecido por sua sabedoria e calma, foi encontrado vagando pelos corredores superiores, murmurando sobre sombras vivas e uma escuridão que devorava desejos. Ele não viveu muito depois disso.
O medo da escuridão tornou-se real, um terror coletivo que se enraizou no coração de todos os que habitavam a torre. Contos de que há algo nefasto lá embaixo, uma presença que aguarda pacientemente por qualquer tolo corajoso ou ganancioso o suficiente para desafiar sua prisão.
Enquanto Don descia apressadamente os degraus, a escuridão parecia envolvê-lo como um manto denso e gélido. Cada passo era acompanhado pelo som abafado de sua respiração acelerada, como se o próprio ar ao redor estivesse carregado com uma presença maligna. Sussurros sutis, de segredos sujos se enroscavam em seus ouvidos, tornando cada avanço mais asfixiante. A torre o consumia lentamente, intensificando seus medos e despertando uma inquietação que ele não conseguia afastar.
Mesmo com cada instinto gritando para retroceder, ele persistia. A urgência de encontrar Loren superava qualquer terror que pudesse sentir. O ambiente ao redor conspirava contra ele - os corredores estreitos e a atmosfera opressiva alimentavam seus pensamentos mais sombrios, mas sua determinação o mantinha em movimento.
Então, ao estender a mão na escuridão, o inesperado alívio o atingiu quando seus dedos encontraram os dela. Sem hesitar, Don a puxou para si e, sem olhar para trás, os direcionou para cima.
Quando Don olhou para Loren, viu o pânico estampado em seu rosto, seus olhos dilatados refletindo um terror profundo. Ela se agarrou a ele com uma força que revelava o quão assustada estava, seu corpo tremendo, quase frágil sob o peso do medo que a consumia. Ele a segurou com firmeza, como se sua presença pudesse ser um escudo contra a escuridão que parecia prestes a engoli-la.
— O que diabos você estava fazendo? — esbravejou, em uma mistura de alívio e frustração.
Ela lançou um olhar perturbado para a escuridão de onde haviam vindo, como se ainda sentisse os dedos gelados do medo rastejando sobre sua pele.
— Eu... eu ouvi meu nome ser chamado — sussurrou, a voz trêmula.
— Eu estou aqui, está tudo bem agora — ele murmurou contra o topo da cabeça dela.
Enquanto se abraçavam na penumbra, Don sentiu que a escuridão ao redor parecia viva, pulsando com uma energia maligna que observava cada movimento deles, sempre à espreita, com um interesse mórbido.
— Loren... — Murmurou seu nome, tentando acalmar sua agitação — estamos juntos nisso. Não importa o que aconteça, eu estou aqui por você.
Ela soluçava contra o peito de Don, suas lágrimas quentes escorrendo pela pele, enquanto sua respiração permanecia irregular. Ele não suportava vê-la assim, tão vulnerável e assustada.
Por um longo momento, permaneceram ali, envolvidos pela penumbra, encontrando conforto na presença um do outro. Quando o pior do medo pareceu passar, eles se afastaram lentamente, dolorosamente. A garota ergueu os olhos para ele, sua expressão marcada por confusão e gratidão.
— O que eu faço com você? — murmurou Don, um sorriso reconfortante surgindo em seus lábios. A pergunta, apesar de leve, era sincera. — Vamos voltar para a luz, certo?
Ela assentiu, e juntos começaram a subir os degraus, deixando o pesadelo para trás. Suas mãos permaneciam entrelaçadas, e Don, por um instante, sentiu-se o homem mais sortudo do mundo apenas por poder segura-la.
No meio da escadaria, eles deram de cara com Ryan, que lançou um olhar curioso para suas mãos unidas. Loren soltou a mão de Don imediatamente, como se estivesse segurando uma brasa, seu rosto corando de um vermelho intenso. A vergonha de ser flagrada era evidente, e Don tentou ignorar a pontada de desconforto que sentiu ao perceber isso.
Notando o livro nas mãos de Ryan, o príncipe mudou o foco.
— Alguma resposta?
— Quase — Ryan respondeu com um sorriso enigmático. — Venham, quero mostrar algo a vocês.
Ele abriu a porta de seu quarto, fazendo um gesto para que entrassem.
— Você também, Loren. Isso é particularmente do seu interesse.
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A Torre Invertida - Volume I
Fantasy🪙 ROMANTASIA ✶ DARKFANTASY ✶ WEBNOVEL +18 ✶ Em uma terra onde a magia é tanto um presente quanto uma maldição, Loren, uma sacerdotisa com poderes de cura, vive sob um decreto real que a torna intocável. Ironicamente, o príncipe designado como seu p...