07

1.6K 137 45
                                    

Richard Ríos


— O que foi agora Nicole?

— Queria saber onde você está? Saiu tão cedo.

— Estou no CT, onde mais estaria ? — Empurrei a cortina para ver que o menino agora estava acompanhado de uma mulher que não consegui ver o rosto, pois estava de costas para mim, agachada na altura dele e avaliando a sua testa.

— Vai passar o dia inteiro ai?

— Provavelmente sim, porque?

— Podemos sair pra jantar mais tarde?

— Não estou afim Nicole.

— Mas…

Não me preocupei em escutar o que ela ia dizer. Em breve ela estaria fora da minha vida. Empurrei o celular no meu bolso e abri a porta devagar para não interromper a conversa dos dois.

— Como sempre, me dando grandes sustos Joaquim.

A voz era familiar, mas como eu ainda não conseguia ver o seu rosto de onde estava, foi difícil identificá-la.

— Sinto muito, mamãe, a culpa não foi minha. Eu falei que não queria jogar, mas ele insistiu. Podemos processá-lo?

Me preparei para entrar na conversa, só que antes que fizesse isso, contra todas as possibilidades, a risada fofa dela encheu o corredor, chegando aos meus ouvidos. Eu reconheceria aquele som em qualquer lugar. Engoli em seco, sentindo o meu coração acelerar daquele jeito descompassado como há anos não acontecia.

A porra de sete anos.

— Eu não acho que ele jogaria uma bola para te machucar.

O garoto suspirou, contrariado. Eu não precisava ver o seu rosto para saber quem era, não quando conseguiria reconhecer aquele maldito som em qualquer lugar.

— As aparências enganam, mamãe. Não dá para ver a idole de uma pessoa pela TV.

Mamãe. Puta que pariu.

— Índole — o corrigiu, se inclinando para beijar a testa com o pequeno galo que despontou ali.

— Isso aí mesmo, índole.

— Não é bem assim, Joca.

Continuei parado, não deixando passar despercebido quando ela passou a mão pelos próprios cabelos, visivelmente nervosa.

— Eu o conheci antes de você nascer e posso te garantir que ele é um cara legal. Joca ergueu o rosto, seus olhos ficando cada vez maiores.

— Então ele conhece o papai também?

Papai… Se ela tinha filho, também estava casada. Aparentemente, eu era o único idiota que não conseguiu seguir em frente. Pensar nisso fez com que um riso seco escapasse por meus lábios, atraindo a atenção dos dois. Tentei não deixar que tudo o que ainda sentia viesse à tona, mas, no fim, eu não passava de um trouxa, porque assim que os nossos olhares se cruzaram, foi como se eu tivesse voltado ao passado, e revivendo aquela bagunça de sentimentos que sempre me envolviam quando estava com ela. A sensação estranha no peito, o coração acelerado numa mistura de ansiedade e medo pelo que nunca havia sentido antes. A vontade absurda de esticar a minha mão para tocá-la, beijá-la...

— Oi.

Oi? Depois de todo esse tempo, a primeira coisa que ela tinha para dizer era um suave oi?

— Eu… — comecei, mas parei quando notei que não sabia ao certo o que falar.

Uma parte dentro de mim gritava para sair dali e ir para o mais longe possível dela. A outra parte me mandava ser um filho da puta e agir como se não a conhecesse, na esperança de que a ideia de não me lembrar dela, a machucasse tanto quanto ela me machucou. Era justo, ainda mais levando em consideração o jeito como me deixou.

— Sinto muito pelo que aconteceu — ela voltou a falar, obrigando-me a afastar aqueles pensamentos para retornar à realidade, confuso com as suas palavras, afinal, existiam muitas coisas as quais deveria sentir muito. — Joca não estava muito empolgado para vir.

É claro que ela não estava se desculpando por ter me deixado. Isso não parecia ser importante o suficiente para se desculpar.

— Espero que ele fique bem. — Movi o peso do meu corpo sobre as minhas pernas, esfregando minhas mãos contra o tecido da minha bermuda de treino para secar o suor que tinha se acumulado ali. — Não foi minha intenção machucá-lo.

— Eu acho que era sim — o menino me acusou, descendo da cadeira para abraçar as pernas da mãe. — Talvez a gente deva chamar a polícia, mamãe…

Ela era a mãe do Joca.

Porra.

Helena Santiago era a minha vizinha há dias.

___________________________________________

E finalmente o reencontro veio...

Posso deixar pra soltar amanhã os próximos né ?

Não esqueçam de votar e comentar

Até o próximo 😘

Fuera de mi controlOnde histórias criam vida. Descubra agora