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Joaquim Santiago

Como tio Richard estava demorando, resolvi verificar se não tinha acontecido nada, fui até a porta, passando pela fresta sem precisar empurrar mais porque ela estava meio aberta e eu era pequeno. Pensei em gritar por eles, mas parei quando encontrei Richard e a mamãe sentados no sofá, ela no seu colo e o meu amigão chorando.

Isso fez o meu coração doer. Comecei a me aproximar, mas parei quando vi a mamãe estendendo uma grande pasta branca com letras vermelhas para ele.
Como eu estava perto, só precisei virar a cabeça para ver as letras do meu nome logo abaixo de um “P” bem grande. Abri a boca, reconhecendo na hora o que era aquilo.

A letra P bem grandona… Só podia ser.
Não tinha como não ser. O P era de Papai Noel. E para completar, nós havíamos acabado de entrar no mês do
Natal.

— Eu já me sinto pai do Joca, não é uma palavra em uma folha que vai mudar isso.

Eu entendia o que ele queria dizer. O tio Richard era o papai que eu queria ter. Olhei para a mão dele, curioso. Mas não tinha problema eu descobrir a resposta do Papai Noel, né?

Por isso, corri até eles e estiquei a mão, puxando o envelope grande das mãos dele, que me olhou assustado.

— Isso é para mim?

— Joca, querido, me devolva isso. — Minha mamãe tentou me alcançar, mas como ela estava no colo do tio Richard, só precisei dar alguns passos para trás.

— Amigão, obedeça a sua mãe, ok?

Neguei com a cabeça, apontando para o meu nome.

— Tem o meu nome. — Comecei a andar de costas quando mamãe se levantou. — Olha! É o P do Papai Noel.

— Meu amor, isso não é…

Antes que ela falasse mais alguma coisa, corri em direção ao banheiro que ficava ali do lado, entrando e já virando a chave. Eu tinha falado menos palavrão e tinha sido um garoto até que legal, então era o meu direito saber o que o Papai Noel queria me dizer.

— Joaquim Santiago, abre essa porta agora!

Senti as batidas vibrarem contra as
minhas costas, me apressando para abrir a minha carta e vendo que não era bem uma carta, mas sim um bloco e comecei a folhear, não entendendo por
que o Papai Noel tinha me enviado uma resposta cheia de tabelas e, pior, em formato de trabalho de escola.

— Que troço confuso. — Cocei a cabeça,
tentando entender o que estava escrito.

Foi só na penúltima folha do bloco que encontrei a palavra CONCLUSÃO. Isso me chamou atenção, porque eu sabia que seria um resumão de tudo o que tava ali com a opinião de alguém, no caso, do bom velhinho, por isso, comecei a ler.

— Joca, por favor, nós precisamos conversar, amigão. — Era o tio Richard agora, mas o meu coração estava acelerado, porque ali, entre um monte de coisa que não entendi, estava o nome dele  também.

Richard Ríos

— Eu sinto muito, é minha culpa, eu deveria ter segurado a pasta com mais força, eu…

— Richard. — Helena tocou no meu ombro, balançando a cabeça. — A culpa não é sua. Nem eu imaginei que o Joca fosse fazer algo do tipo. — Ela passou as mãos pelos cabelos, tão aflita quanto eu. — Talvez nós…

Antes que ela terminasse de falar, ouvimos a porta sendo destrancada e um Joca pálido com os olhinhos cheios de lágrimas saía lá de dentro.

— Amigão? — chamei com a voz embargada, me sentindo levemente desesperado por não saber o motivo do seu choro.

Olhei para Helena, que parecia tão sem reação quanto eu. Joca era inteligente, esses exames não eram difíceis de interpretar e sempre tinha em algum lugar uma resposta clara do resultado.

— Querido, o que você leu aí? — ela perguntou, aproximando-se devagar para tirar o exame das suas mãos.

Ele passou o braço pelo rosto, tentando secar as lágrimas.

— Era o Papai Noel — Joca respondeu, erguendo o queixo para me olhar. — Tio Richard, eu não sou um garoto mal educado! Eu não sou! — gritou antes de se jogar contra as minhas pernas e começar a chorar mais alto. Me abaixei, pegando-o no colo para abraçá-lo enquanto esperava Helena folhear as páginas, entendendo que o resultado tinha sido positivo quando, mesmo começando a chorar, seus olhos sorriam para nós dois.

— Graças a Deus! — gemi, correndo os olhos pela folha quando ela virou para mim.

CONCLUSÃO

Tendo como verdade as informações de identificação dos envolvidos e o material genético (DNA) extraído de amostra biológicas dos examinados, está evidenciado que o suposto pai Richard
Ríos Montoya É PAI BIOLÓGICO de Joaquim Santiago. A probabilidade de paternidade é de 99,999996%.


Fechei os olhos, beijando os cabelos de Joca, que tirou a sua cabeça do meu ombro para me abraçar pelo pescoço.

— Eu sabia! — Ele riu entre os soluços e as lágrimas, se agarrando com ainda mais força em mim. — O Papai Noel mandou, sim, o meu presente, só que eu não percebi na hora! Por que você não me falou antes?

Senti os braços de Helena nos abraçando e estalando um beijo em cada um de nós.

— Também foi surpresa para nós, querido — ela respondeu, me fazendo abrir os olhos para olhar os dois.

— Eu ia pedir para o Richard ser o meu papai e nem precisei, mamãe. — Joca sorriu de novo, seus olhos minúsculos, tamanho era o seu sorriso. — Eu tenho um papai, mamãe! Eu tenho um papai agora!

— Você tem, filho — respondi com a voz embargada, apertando os dois em meus braços antes de dar um selinho na minha mulher.

Como foi a primeira vez que usei a palavra, ele respirou fundo antes de beijar a minha bochecha.

— Eu não sei se é possível, mas eu já te amava muito, agora eu te amo ainda mais. — falou nos fazendo rir.

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Pronto, durmam felizes e desidratem de chorar

Até o próximo 😘

Fuera de mi controlOnde histórias criam vida. Descubra agora