Capítulo 24

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Gregório Frank

Naquela noite, enquanto o cansaço finalmente me arrastava para um sono profundo, fui tomado por um pesadelo que me deixou inquieto. No sonho, eu estava em um lugar escuro e abafado, quase como um porão, com paredes frias de concreto. Meus pés ecoavam enquanto eu caminhava por um longo corredor, procurando por Rubi.

Eu pude sentir uma angústia enorme, até mesmo o cheiro eu podia sentir.

— Rubi! — Minha voz reverberava no vazio, mas não havia resposta. O silêncio era insuportável.

Eu continuava andando, cada vez mais rápido, meu coração batendo forte no peito. E então, à distância, vi uma porta entreaberta. A luz fraca escapava por ela, e algo dentro de mim gritava que Rubi estava lá.

Quando empurrei a porta, o que vi me fez gelar por dentro. Rubi estava ali, amarrada a uma cadeira, suas mãos presas com cordas. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, e seu rosto mostrava medo. Ao seu redor, sombras se moviam, figuras indistintas, ameaçadoras. Um homem alto e robusto se aproximou dela, o sorriso cruel iluminado por uma luz fraca. Eu tentei gritar, correr até ela, mas parecia que meus pés estavam fincados ao chão, como se o ar ao meu redor estivesse me sufocando. A angústia me dominava.

— Grego... — Ela sussurrava, sua voz era fraca e desesperada, enquanto o homem se aproximava mais, como se estivesse prestes a machucá-la.

No instante seguinte, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, tudo se dissolveu em escuridão, e eu acordei de repente, com o peito ofegante e o coração acelerado.

Sentei-me na cama, suando frio, tentando me recompor. Mas a sensação de impotência ainda estava ali, agarrada a mim. Algo estava errado. Muito errado. Não podia ser só um sonho. Respirei fundo, mas a angústia continuava, como uma sombra pairando sobre mim.

Olhei para o relógio no criado-mudo. Era muito cedo, mas não consegui voltar a dormir. Levantei-me devagar, sentindo o peso do pressentimento no peito. Fui direto para o banheiro, lavei o rosto e tomei um banho rápido, como se a água pudesse lavar aquela sensação terrível.

Depois de me secar, vesti a roupa do trabalho com pressa, camisa preta, calça social e meus sapatos de couro. Coloquei o relógio de pulso e passei as mãos pelo cabelo, tentando afastar o pesadelo da minha mente. Mas a imagem de Rubi presa, sozinha e indefesa, não saía da minha cabeça.

Peguei o celular e vi as horas. Não era o momento de ligar para ela, mas algo me dizia que eu deveria. Bufei, tentando ignorar a sensação, enquanto pegava as chaves do carro. Hoje seria um longo dia de trabalho, mas aquela preocupação com Rubi não me deixaria em paz tão cedo.

*****

Quando entrei na minha sala, senti uma tensão no ar. Algo que não conseguia definir, mas que me apertava o peito desde o instante em que acordei. Rubi ainda não havia ligado desde que chegou à Suíça, e aquilo estava me corroendo por dentro. Sabia que ela estaria ocupada, mas algo não parecia certo.

Eu mal tive tempo de me acomodar na cadeira quando a porta se abriu novamente. John e Calissa, os pais de Rubi, entraram atrás de mim, com expressões que me fizeram congelar no lugar. Eles não precisaram dizer nada — o olhar em seus rostos dizia tudo. Havia uma mistura de preocupação, raiva, ansiedade e medo.

— John... Calissa? — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, e me levantei, surpreso. — O que aconteceu?

Calissa segurava uma bolsa, os dedos trêmulos apertando as alças de couro. John, ao lado dela, parecia mais tenso do que nunca, o maxilar travado enquanto me encarava com olhos severos.

Doce pecado - Os Irmãos Frank 2Onde histórias criam vida. Descubra agora