Capítulo 27

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Rubi Sentinelli

Estou ajoelhada no palco, esfregando o chão como se minha vida dependesse disso. Os joelhos doem, os músculos das minhas costas estão tensos, e minhas mãos já estão calejadas pelo esforço repetitivo. O cheiro da boate é horrível, uma mistura de álcool derramado, suor e perfume barato. Tento não pensar muito, apenas focar no movimento do esfregão, para me distrair da realidade em que estou presa.

Já se passou três semanas desde que cheguei aqui e a minha vida tem se tornado um inferno. Todos os dias, antes da boate abrir, Hugo inventa algo só para me prejudicar. Toda noite o Ricardo vem para a boate ficar comigo, ele paga altas quantias a essas pessoas para ficar a noite toda comigo e eu passo a noite conversando com ele e de vez em quando, ele liga para o Grego.

Ah Gregório, como eu sinto falta dele, dos beijos dele.

De repente, ouço passos pesados atrás de mim. O coração acelera, e eu sei que é Hugo antes mesmo de olhar. Ele sempre chega de surpresa, o ar ao meu redor fica mais pesado quando ele está por perto.

— Rubi. — A voz dele é fria, seca, sem um pingo de emoção. — Hoje à noite você vai trabalhar na rua com as outras meninas.

Levanto o olhar para ele, meu estômago se embrulha. Hugi está parado, com aquele sorriso nojento no rosto, os dentes amarelados brilhando sob a luz fraca da boate.

— Não adianta tentar fugir, porque tem seguranças em cada esquina. — Ele continua, cruzando os braços e me encarando de cima como se fosse o dono do meu destino. — Você faz o que eu mando, ou a coisa vai ficar feia.

Eu quero gritar, quero fugir, mas ao mesmo tempo sei que ele não está mentindo. Já vi outras meninas tentando escapar e sendo arrastadas de volta, machucadas e apavoradas. Tento manter a calma, então apenas aceno com a cabeça, voltando a esfregar o chão. Ele me observa por mais alguns segundos, como se quisesse me lembrar de quem tem o controle, antes de se virar e sair.

Meu corpo inteiro treme, o esfregão cai das minhas mãos, e sinto as lágrimas ameaçando transbordar. Mas não posso chorar. Não aqui. Não agora. Respiro fundo, forçando-me a terminar o que estava fazendo, cada segundo se arrastando como uma tortura.

*****

No final do dia, me levam para o sótão onde estão as outras meninas. O clima é pesado, todas nós sabemos o que nos espera lá fora. Meu corpo está exausto, mas isso não importa. Eles sempre nos empurram para a rua como se fôssemos mercadorias.

Quando finalmente me arrumo, olho para o espelho e quase não me reconheço. Estou vestindo uma minissaia de couro preto, tão curta que mal cobre minhas coxas. O top vermelho justo aperta meu peito, deixando minha barriga exposta. O salto alto preto completa o visual. Eu me sinto tão vulnerável, tão exposta, mas é isso que eles querem. Eles querem que sejamos o centro das atenções, que cada homem na rua nos veja como um objeto.

Sinto novamente um enjoo e eu corro para um balde que fica perto da janela, coloco para fora toda a comida do almoço. Lavo minha boca e vou para a frente do espelho.

Minhas mãos estão trêmulas quando tento ajeitar o cabelo, mas não adianta. Meus pensamentos estão em Grego. Ele sequer sabe o que está acontecendo comigo, Ricardo e eu combinamos de não contar nada para ele do que tem acontecido comigo, eu tenho passado muito mal comendo a comida daqui, a água tem um gosto horrível e os tapas que Hugo me da, nem se fala. A saudade por Grego está me corroendo por dentro. Tento me manter forte, tento não deixar o medo me dominar.

Saio do camarim e me junto às outras meninas. A noite está apenas começando, e sei que será longa.

*****

Doce pecado - Os Irmãos Frank 2Onde histórias criam vida. Descubra agora