𝟖𝟑 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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O prédio da Mattioli Corporation era mais que um edifício; era um monumento à ambição e ao poder. Erguia-se imponente no coração financeiro da cidade, refletindo em sua fachada de vidro o ritmo frenético das ruas, as luzes incessantes dos carros e o vasto céu que se estendia acima. Era um espelho das conquistas daqueles que ali trabalhavam e, para alguns, uma lembrança de que o topo era reservado aos mais audaciosos. Com 15 andares, sua grandiosidade ia além da altura. O último piso, inacessível a olhos comuns, abrigava os segredos mais profundos da Cosa Nostra território exclusivo do Don e seus Capos, onde decisões cruciais moldavam tanto os negócios da Mattioli Corporation quanto os destinos de seus aliados e inimigos.

Logo na entrada, o luxo sussurrava em cada detalhe. O piso de mármore polido refletia o brilho de um majestoso lustre de cristal suspenso no centro do saguão, suas facetas lançando um espetáculo de luzes pela área. Molduras douradas emolduravam portas e placas, enquanto a recepção, minimalista em preto e cinza, trazia um contraste de modernidade e tradição. Homens de terno impecável se posicionavam discretamente, mas sua presença era um lembrete claro de que segurança era prioridade. Câmeras escondidas nos cantos analisavam cada movimento, fazendo da entrada uma espécie de portal para um mundo regido por autoridade e vigilância.

Ao alcançar o elevador, o silêncio se tornava quase solene. Cada andar subido era como uma ascensão ao coração da organização, culminando em um corredor de sofisticação e poder. As paredes, adornadas com obras de artistas italianos renomados, exalavam história e bom gosto, enquanto tapetes de textura aveludada abafavam os passos. A iluminação suave destacava os tons de madeira escura e detalhes dourados, conferindo ao espaço uma atmosfera de realeza. Don Mattioli já aguardava no último andar. Ele era a personificação do comando absoluto.

Trajava um terno azul-marinho impecavelmente ajustado ao corpo, complementado por uma camisa branca impecável e uma gravata preta perfeitamente alinhada. Sapatos de couro polido ecoavam sua autoridade em cada passo. Seu perfume discreto, com notas de madeira e couro, parecia gravado no ambiente, um lembrete sutil de sua presença. Sentado em sua poltrona de couro preto, ele analisava documentos com atenção calculada, como se cada linha pudesse decidir o futuro de um império. A mesa de carvalho negro, ampla e austera, era tanto um altar quanto uma arena, onde aliados vinham prestar respeito e inimigos se encontravam diante de sua sentença. Ao fundo, uma janela panorâmica revelava a cidade, um reino em constante movimento sob o olhar vigilante do Don.

A porta se abriu de repente, quebrando o silêncio quase sagrado do escritório. Angelina entrou, passos firmes e postura ereta, empurrando a porta com força suficiente para fazer o impacto ressoar pelas paredes. O Don ergueu os olhos, abandonando os papéis sobre a mesa. Seus olhares se encontraram, e o ambiente, já carregado, pareceu se comprimir ainda mais.

Angelina carregava em si uma presença que desafiava expectativas. Seus olhos, ardentes e determinados, eram a única concessão à vulnerabilidade que seu corpo ainda exibia. Os hematomas que marcavam seu rosto e os traços de cansaço não diminuíam a imponência que ela exalava. Trajava roupas simples, mas o modo como as vestia revelava um espírito indomável. Era evidente que não estava ali em busca de justificativas ou perdões.

Mattioli largou os papéis, mas permaneceu em silêncio. Seus olhos a estudavam com intensidade, enquanto o ar entre eles parecia vibrar com a tensão crescente. O silêncio que se seguiu não era vazio, mas preenchido por tudo o que nenhum dos dois ousava dizer. Angelina permanecia firme, como uma tempestade prestes a romper. O Don, por sua vez, era a rocha sólida que enfrentaria o impacto. A batalha, naquele instante, já havia começado, mesmo que nenhuma palavra tivesse sido dita.

Seu nome foi tudo o que Lorenzo conseguiu murmurar. Era como se aquela única palavra carregasse todo o peso dos dias que se seguiram desde a última vez que a viu no hospital. Ele estava disposto a ouvir, a aceitar cada uma das palavras que Angelina viesse a dizer, mesmo que isso significasse atravessar novamente as noites insones, suportar o vazio que se instalou em seu peito desde que ela decidiu ir embora. Por mais que respirar fosse agora um ato árduo, algo mecânico e desprovido de vida, ele sabia que não tinha direito de exigir nada. Muitas decisões já haviam sido arrancadas de suas mãos ao longo da vida; Lorenzo não repetiria o mesmo erro com ela.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora