𝟕𝟕 ⌁ 𓈒 ֹ LOUIS WESTWOOD ˳ׄ ⬞

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A noite estava gelada, e o vento fazia as árvores nos arredores da mansão Westwood balançarem suavemente, como se sussurrassem segredos antigos. Louis atravessou os portões de ferro com passos firmes, sua mãe ao lado, segurando seu braço com tanta força que parecia buscar nele o equilíbrio que lhe faltava. Rosie tremia levemente, e não era apenas pelo frio; as sombras do passado recente ainda dançavam diante de seus olhos, a cada passo lembrando-a do que enfrentara.

Louis não disse uma palavra. Ele sabia que não havia palavras capazes de apagar o que ela vivera, mas sua presença sólida era uma promessa muda de que ela estava segura agora.

Ao atravessarem o imponente hall da mansão, Louis guiou Rosie com cuidado, sua postura protetora denunciando o peso de suas preocupações. Subiram as escadas devagar, e ele a levou até o quarto de hóspedes, um ambiente acolhedor com tons suaves de creme e azul, iluminado pela luz fraca de um abajur.

Rosie sentou-se na beira da cama, ainda segurando o braço de Louis, como se temesse que ele desaparecesse se o soltasse. Ele pegou uma manta dobrada sobre a poltrona ao lado e a ajustou sobre os ombros dela com delicadeza, como fazia quando era criança e ela o cobria nas noites frias.

Louis observou a mãe em silêncio, os segundos se estendendo enquanto ela fitava o vazio com olhos perdidos. Seu coração apertou ao vê-la tão diferente da mulher forte e destemida que ele conhecia. Rosie sempre fora o porto seguro da família, alguém que encarava qualquer desafio de cabeça erguida. Agora, parecia que o peso de tudo a esmagara.

─ Você está em casa agora, mamãe. ─ Ele murmurou, a voz grave quebrando o silêncio. ─ Nada mais vai te machucar.

Rosie ergueu os olhos para ele, e por um breve momento, o brilho de gratidão cintilou em meio às lágrimas que desciam silenciosamente por suas bochechas. Tentou sorrir, mas o gesto desmanchou-se em um soluço abafado. Louis ficou ao lado dela até que adormecesse, o corpo finalmente cedendo ao cansaço. Só então ele se levantou silenciosamente, ajeitando a manta mais uma vez antes de sair do quarto. Ao fechar a porta, deixou escapar um suspiro longo, sentindo o peso de tudo que carregava em seus ombros.

Lorenzo organizava as coisas para retornar para Itália após terem finalmente se livrado do corpo de Bartor. Cada movimento seu era meticuloso, como se estivesse tentando manter a mente ocupada diante da turbulência recente. Angelina permanecia no hospital, sob os cuidados diligentes de Serena, e ele sabia que precisava garantir que tudo estivesse bem com a garota antes de partir. Westwood, por sua vez, sentia um peso serenar em seu peito. A dor pela perda de sua irmã ainda estava ali, mas agora misturava-se com a sensação de que ela finalmente descansava em paz. O mundo ao redor começava, aos poucos, a se reorganizar. Era um alívio silencioso, embora ainda cercado pela tensão do que viria a seguir.

No meio desse momento carregado, o som estridente da campainha ecoou pela mansão, interrompendo qualquer resquício de calma. Louis levantou-se num impulso, uma pontada de alerta percorrendo sua espinha. Ele desceu as escadas rapidamente, os passos ecoando no mármore frio, o coração batendo mais rápido a cada degrau.

Ao abrir a porta, seus olhos encontraram Enrico Mattioli. O mais jovem dos Mattioli parecia desgastado, as feições marcadas por cansaço e noites mal dormidas. Apesar disso, sua postura era impecável, firme, quase desafiadora, como se se recusasse a mostrar qualquer vulnerabilidade. Mas havia algo em seu olhar uma mistura inesperada de alívio e gratidão que fez Louis hesitar por um instante. O ar entre eles parecia carregado, como se a simples presença de Enrico trouxesse com ela palavras não ditas e promessas por resolver.

─ Vim me despedir...

Louis abriu a porta mais ampla, permitindo que Enrico entrasse. O homem atravessou a entrada devagar, os passos ecoando pelo chão de mármore enquanto seus olhos percorriam o ambiente, atentos e quase calculistas, antes de finalmente pousarem no britânico. Havia um peso no olhar de Enri, uma hesitação que parecia brotar de um conflito interno. Ele buscava palavras, mas nenhuma parecia suficiente.

Westwood, por outro lado, sentia o coração apertado, batendo descompassado. A presença do Mattioli fazia a dor da possível despedida pulsar ainda mais forte. Ele queria segurá-lo ali, pedir, implorar, gritar para que Enri ficasse, para que lutasse por eles. Mas quando abriu a boca, tudo o que conseguiu dizer, em um tom baixo e carregado de sentimento, foi:

─ Enrico. Você não precisa ir...

Os olhos de ambos se encontraram, carregados de sentimentos que nenhum dos dois tinha coragem de verbalizar. Entre eles, pairavam amor, saudade e uma angústia quase insuportável. Louis sentia a garganta se apertar, os olhos brilhando com lágrimas que ameaçavam cair. Ele respirou fundo, tentando controlar a voz trêmula, antes de continuar:

─ Fica comigo. Tenho certeza de que Lorenzo vai entender. Ele pode encontrar outro subchefe, Vincenzo dá conta do trabalho, e...

Enrico ergueu a mão em um gesto suave, mas firme, pedindo silêncio. O gesto cortou as palavras de Louis como uma lâmina, deixando-o com o ar preso no peito. Westwood suspirou profundamente, tentando reunir forças para sustentar o olhar do homem à sua frente, mesmo com o coração prestes a se despedaçar novamente.

─ Mesmo que eu quisesse, não posso, Louis. ─ A voz de Enrico saiu baixa, mas carregada de convicção. ─ A Itália, a Cosa Nostra, meu irmão, minha família... Eles são minha casa. Não posso desistir disso.

Louis sentiu o nó em sua garganta se apertar ainda mais, engolindo seco enquanto assentia lentamente. Ele tentou sorrir, mas o gesto foi vazio, desprovido de qualquer humor, apenas um reflexo de sua resignação.

─ O conselho quer que eu me case. ─ Ele murmurou, a voz quase se quebrando. ─ E é isso que vou fazer...

O peso das palavras pairou entre eles, denso e sufocante. Enrico respirou fundo, seus ombros caindo levemente sob o fardo da derrota que ambos sentiam. Ele também estava quebrado, mas sabia que não havia outra escolha. Ambos estavam presos a mundos que os afastavam, mesmo que seus corações desejassem o contrário.

─ Acho que é a coisa certa a fazer.

As palavras de Enrico pareciam cravar ainda mais fundo no peito de Louis. Ele sorriu, mas era um sorriso amargo, repleto de ironia e dor. Enquanto limpava as lágrimas que deslizavam por suas bochechas, a voz saiu firme, mas quebrada por dentro.

─ A Cosa Nostra sempre terá o apoio da máfia Blinders. Mas você, Enrico... ─ Ele respirou fundo, como se as próximas palavras fossem um golpe que ele precisava desferir em si mesmo para sobreviver. ─ Não quero ver nunca mais na minha frente.

Mattioli parou por um instante, os olhos fixos no britânico, como se quisesse dizer algo, mas sabia que seria inútil. As palavras que talvez pudessem aliviar a dor não existiam, e qualquer tentativa seria apenas uma faísca no meio daquele incêndio emocional. Ele engoliu seco, o peso da derrota estampado em sua postura, e passou por Louis sem olhar para trás.

A porta se fechou, e o silêncio da mansão foi ensurdecedor. Louis permaneceu ali, parado no mesmo lugar, sentindo o coração se partir mais uma vez. A ausência de Enrico era como um vazio que engolia tudo ao seu redor, deixando apenas a sensação amarga de que, desta vez, não havia volta.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora