𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽

𝟕𝟔 ⌁ 𓈒 ֹ NARRADOR ˳ׄ ⬞

Nenhum dos irmãos Mattioli conseguia se lembrar da última vez que haviam pisado com seus impecáveis sapatos italianos em solo britânico. Desde a morte de Lucy, Londres, ou qualquer outro canto da Inglaterra, havia se tornado território esquecido por ambos. Não que temessem Bartor ou qualquer uma de suas alianças, mas a Cosa Nostra sabia respeitar limites e preservar uma paz silenciosa. Afinal, não havia razões para reacender antigos conflitos quando as máfias coexistiam num equilíbrio frágil.

A guerra entre os Blinders e a Casa Nostra sempre fora unilateral. Enquanto Bartor lançava ataques e ameaças, Lorenzo e Enrico mantinham sua posição inabalável, observando de longe. Como Lorenzo dizia: "Quando só um lado luta, o esforço é vazio."

Mas agora, tudo havia mudado. Bartor era mais do que um rival barulhento; tornara-se um inimigo marcado, alguém que precisava ser neutralizado. A Blinders, no entanto, não representava mais o mesmo perigo de outrora. Sob o comando de Louis, a organização havia se transformado. Ele era diferente do pai: um líder tão implacável quanto respeitado, que equilibrava medo e diplomacia com maestria. Um oponente calculista, cuja presença exigia mais estratégia que força bruta.

Quando os irmãos Mattioli descobriram quem estava com Angelina, não houve espaço para hesitação. A viagem à velha Inglaterra tornou-se inevitável. Serena, ainda sob o olhar desconfiado de Lorenzo, teve que acompanhá-los. Não houve discussão. Para ele, ela ainda tinha muito o que provar.

O carro deslizou suavemente pelos longos caminhos da propriedade de Louis Westwood. A mansão imponente surgiu à distância, um monumento ao poder britânico. Era um casarão de estilo vitoriano, com torres altas e janelas de vidro fumê. A fachada era composta por pedras escuras, reforçando a aura de austeridade. Jardins simétricos cercavam a entrada, com arbustos aparados como se fossem esculturas vivas. Estátuas de mármore branco pontuavam o caminho, enquanto uma fonte no centro do pátio lançava água cristalina em arcos perfeitos.

Serena, sentada ao lado de Enrico no banco de trás, olhava pela janela. Não conseguia esconder o nervosismo. Suas mãos estavam unidas sobre o colo, apertando-se de tempos em tempos. Lorenzo, por outro lado, mantinha a postura firme e o olhar fixo. Vestido em um terno impecável, ele parecia completamente alheio ao clima pesado que pairava dentro do carro.

Quando o veículo parou diante das escadarias de mármore que levavam à entrada principal, dois homens bem vestidos já os esperavam. Soldados da Cosa Nostra, armados e atentos, abriram as portas do carro. Lorenzo saiu primeiro, ajeitando o terno com um movimento automático, seguido por Enrico e Serena. O olhar de Lorenzo varreu o ambiente, observando os detalhes e analisando tudo como um estrategista experiente. Os soldados da Blinders estavam tão atentos quantos os outros, sendo possível diferenciar dos da Cosa Nostra apenas pelas roupas.

Serena hesitou antes de sair do carro, mas Enrico segurou sua mão, ajudando-a. Assim que ela pisou no chão, o som dos saltos ecoou contra a pedra, e seus olhos subiram para o casarão. Ela sentiu um calafrio. A grandiosidade do lugar não a impressionava; pelo contrário, a sufocava.

A porta dupla da mansão foi aberta, revelando o interior tão luxuoso quanto a fachada. Pisos de mármore negro brilhavam sob a luz dos candelabros que pendiam do teto, e o aroma de madeira polida misturado com um toque sutil de tabaco enchia o ar. Um homem alto, de cabelos castanhos bem penteados e terno cinza perfeitamente ajustado, desceu os degraus internos com passos firmes. Louis Westwood.

Ele parou a poucos metros dos visitantes e sorriu de forma calculada, mas não antes de analisar Lorenzo de cima a baixo, como quem avalia um adversário à altura.

─ Veio fazer uma visita, Mattioli?

A voz de Louis cortou o silêncio como uma lâmina, carregada de uma amargura que Enrico nunca tinha ouvido antes. O homem à sua frente, que ele lembrava como alguém caloroso e leve, parecia agora feito de gelo. O sorriso amistoso que tantas vezes o desarmara estava ausente, substituído por um olhar frio e distante, quase desafiador. Enrico sentiu o coração apertar no peito, cada batida pesada como se lutasse para manter o ritmo. O Louis que conhecia parecia enterrado sob camadas de mágoa e mudanças que ele não compreendia por completo.