Capítulo LIII

61 12 3
                                    

Conseguir a autorização do amigo do meu pai foi bastante fácil. Assim que cheguei em casa, ligue para ele e lhe contei sobre o que eu queria fazer.

- Eu estava mesmo pensando em fazer uma coisa dessas. Que bom que você tocou nesse assunto, Liandra.

- Que ótimo, porque se depender de mim eu já começo com isso amanhã mesmo, o que o senhor acha?

- Acho ótimo. Hoje mesmo, quando abrirem o restaurante para o turno da noite, mandarei providenciar embalagens para colocar a comida que será doada.

- Então está tudo certo, né? Amanhã quando acabar meu expediente, eu já posso recolher toda a comida que sobrar.

- Certíssimo.

Acertamos mais algumas coisas, nos despedimos e ele desligou.

Levantei da cama, explodindo em excitação e ideias novas que eu logo queria por em prática.

Saí do quarto à procura do meu pai e, quando lhe contei o que havia acontecido, ele ficou tão contente quanto eu havia ficado.

- Sabe, quanto mais você cresce, mais você fica parecida com a sua mãe - ele disse enquanto me abraçava.

"Crystal". Ouvir aquele nome já não me trazia a mesma angústia e tristeza de antes; acho que eu havia me conformado com o fato dela ter ido embora por minha causa. Eu sentia falta da minha mãe, mas pode ser que a partida tenha sido melhor para ela. Nem sempre nadar contra a tristeza significa um dia alcançar a felicidade. Você só está indo de encontro a algo desconhecido. Felizmente, a Crystal percebeu isso e se deixou levar pela correnteza; até que um dia ela chegou à praia... E pôde ser feliz outra vez.

Meu sorriso não murchou ao ouvir o nome dela.

- Obrigado - agradeci. Meu pai e eu nos afastamos do abraço apertado e ele tinha o cenho franzido.

- Obrigado?

- É, pai. Obrigado.

- Nossa, que surpresa. Achei que você fosse ficar brava.

- Já superei isso, relaxa.

- Isso é ótimo filha - nos abraçamos outra vez. - sua mãe adoraria te ver assim.

- Tá, mas não precisa exagerar né. Eu superei mas não vamos ficar invocando a Crystal toda hora.

Ele riu.

- Eu odiaria se ela resolvesse fazer isso - Meu pai falou sarcasticamente. - vou preparar nosso jantar.

- Certo... Preciso fazer uma ligação.

[...]

Chamava, chamava, chamava e ninguém atendia. Era a sétima vez naquele mesmo minuto que eu ligava pro Léo e ele não me atendia.

"Ele deve estar puto comigo. Eu dei motivos, eu sei.... Mas, qualé, isso não é desculpa pra ficar sem me atender. Eu nunca fiz isso com ele."

Na décima vez, desisti de ligar pra ele. Não queria parecer desesperada, mesmo que eu estivesse.

Superei o fato de ter sido ignorada e liguei pro Sammy pra perguntar se ele queria ser meu ajudante.

Quando eu lhe contei a minha ideia, ele riu exageradamente e perguntou se por acaso eu havia me transformado na Madre Teresa de Calcutá.

- Não, seu idiota, eu sou tô mais pra Nelson Mandela.

- Por que você é negra?

- Também, mas eu pretendo mudar a vida das pessoas.

Ele gargalhou ainda mais alto.

- Você é patética, Lia. Mas eu amo você, e por isso vou te ajudar. Quando é?

- Amanhã. Assim que eu sair do trabalho falo com você.

- Posso levar o Mark? - Ele perguntou.

- Como assim? Me explica isso direito.

Ele ficou alguns segundos em silêncio.

- Humm... - ele tossiu. - a gente meio que tá ficando.

Arregalei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver.

- Hã???? O que você quer dizer com ficar? Beijar? Na boca??

- Hum... É isso o que as pessoas fazem quando ficam, certo?

- E porque você não me contou?

- Esqueci.

- Ah, claro. Nos falamos ontem, mas você por acaso esqueceu de me contar que está enfiando a língua na boca do meu primo. Entendo. Super normal. Estou me sentindo traída.

- Ele disse que não queria que você soubesse.

- Por que não?

- Porque ele acha que você não sabe que ele é gay.

Agora foi a minha vez de gargalhar descontroladamente.

- Eu sei disso desde a oitava série.

- E por que você não disse pra ele?

- Se o Mark quisesse que eu soubesse, ele me contaria. E não é como se isso fizesse alguma diferença na minha vida. Minha tia é heterossexual e nem por isso eu conto pra ela que sei disso.

- Essa foi uma analogia bem estúpida.

- Mas você entendeu o que eu quis dizer e isso que importa. E, voltando ao assunto, você pode levar seu querido futuro namorado sim.

- Ele não é meu futuro namorado, sua pateta.

- Foi o que minha mãe disse antes de transar com meu pai pela primeira vez.

- Lia, cala a boca, pelo amor de Deus - ele disse, rindo e desligou.

Joguei o celular na cama e foi inevitável não tornar a pensar no Léo... E logo em seguida pensei no Leonardo. Minha cabeça estava uma confusão danada, mas de alguma forma eu conseguia pensar como uma pessoa normal.

Apesar de ainda ser umas seis da noite, meus olhos começaram a pesar e eu senti muito sono.

Deitei na cama de barriga para cima e observei o teto por algum tempo.

"Caramba, como eu vou sentir saudade de você. Não queria que tudo isso acabasse desse jeito, mas você nunca me amou mais do que eu te amei"... "Eu não sei o que sinto por você, mas gosto disso. Quero sentir isso pro resto da minha vida"... "Que droga de vida"... "Eu fodidamente amo a minha vida"

Meus pensamentos meio que oscilavam entre uma piscada e outra.

Desisti de tentar resistir ao sono e fechei os olhos.

Segundos depois eu me vi no meu último sonho com o Leonardo.

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora