Capítulo XXXIV- Flash Back

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Assim que acordei olhei para o relógio e tomei um susto com o que vi: eram sete da manhã e eu estava mais que extremamente atrasada para o Colégio.

- Mãe! - gritei enfurecida. Não demorou muito e ela surgiu na porta do meu quarto; usava um avental azul bordado com rendas. - Por que a senhora não me acordou?

- Eu estava ocupada, Liandra. Por que você não colocou seu despertador pra tocar?

- Porque eu tenho uma mãe. E mães servem para isso - disse e levantei da cama já tirando o pijama. - cadê meu uniforme?

Ela apontou para a pilha de roupas dobradas em cima da cadeira.

- Você precisa prestar mais atenção nas suas coisas.

- Tá, tá, tanto faz - passei por ela e entrei no banheiro para escovar os dentes.

- Não vai comer nada? - ela perguntou. Balancei a cabeça negativamente e prendi meus cabelos muito bagunçados num coque. - tem certeza?

- Tenho. Cadê o papai?

- No escritório. Passou a noite toda escrevendo... Como sempre - ela disse num tom excessivamente dramático.

- Preciso ir - peguei a mochila e passei por ela.

- Ei, não vai me dar um beijo?

- Eca, mãe. Deixa de ser tão grudenta - reclamei e praticamente corri para fora de casa.

[...]

Cheguei ao Colégio quando todos já estavam na sala.

- Novamente atrasada, não é srta. Jones? - era a minha professora de história, Sra. Parker. Ela era uma velha de quase duzentos anos, mal humorada que fedia a cigarro.

Encolhi os ombros e encarei meus tênis vermelhos.

- Parece que sim - respondi.

- Sente-se - caminhei para o meu lugar e ouvi alguns murmúrios ao passar. Por ainda olhar para o chão, acabei dando de cara com um alguém. - Cuidado, srta. Jones! - gritou a velha lá da frente da sala.

Levantei a cabeça e todo meu corpo tremeu. Ele estava parado bem na minha frente e me encarava. Era Leonardo. Nessa época eu era apaixonada por ele. Não do tipo:"Ah, ok, eu gosto dele" era mais como: "Eu simplesmente esqueço de respirar quando o vejo".

- Foi mal - me desculpei em voz baixa, queimando de vergonha.

Ele deu de ombros e sentou onde costumava sentar: entre as duas garotas mais "chatamente populares" da sala.

Na fileira ao lado era exatamente onde eu sentava.

- Olha só que estranha - ouvi uma das garotas cochicharem.

- Ela com certeza deve ter feito isso de propósito. Ela ama você - a outra disse para Leonardo. Ele reparou que eu o observava e fixou seus olhos negros em mim. Não consegui desviar o olhar, mas me arrependi de não ter feito quando ele riu e disse:

- Ela é patética.

Baixei a cabeça e segurei fechei os olhos. "Você não ouviu isso". Passei o restante da aula com a cara enfiada no caderno fingindo copiar o assunto, quando na verdade eu só tentava desesperadamente desaparatar sem varinha dali*.

O intervalo chegou e todos saíram desesperados da sala. Menos eu. Não tinha motivos para sair. Era uma fracassada sem amigos.

Tirei meu mp3 da mochila e coloquei a minha playlist de músicas para tocar.

Mesmo com os fones, ouvi a porta abrir e, em seguida, Leonardo entrar se agarrando com outra garota. Alguma que eu não conhecia.

Eles se beijaram por um bom tempo e eu não consegui tirar os olhos da forma como eles se atracavam. Pareciam quase apaixonados. Mesmo que fosse apenas um grande "QUASE", era algo correspondido. Mais do que eu tinha. Eu não tinha nada.

Depois que eles se chuparam por um longo tempo, a garota saiu da sala e ele se encostou na parede. Os olhos fechados.

- Que beijo - comentei.

Ele me olhou e pareceu um tantinho sem graça.

- Você viu tudo isso?

- Ah, não, imagina - tentei disfarçar o quanto eu me importava com aquilo. - preciso sair agora... Pro caso dela voltar - Levantei e a pior coisa da vida aconteceu: tropecei no pé da cadeira e comecei a dispencar em direção ao chão. Bati o rosto no encosto da cadeira à minha frente e finalmente cheguei ao piso frio.

- MERDA! - gritei de dor. Minha cabeça rodava. Na mesma hora, o sinal tocou e os alunos invadiram a sala.

Ao me ver, uma das minhas colegas de classe começou a rir e todos a acompanharam. Levantei a cabeça procurando por alguma alma caridosa que pudesse me ajudar. Ao invés disso, vi Leonardo rindo com os outros.
Fechei os olhos por um tempo, cheia de vergonha e dor e quando os abri, levantei com um pulo e corri para fora da sala queimando de raiva. Não soube para onde ir. Desci os degraus em direção ao pátio e sentei no banco de madeira na sombra de uma árvore.

Dobrei as pernas e as abracei, enquanto lágrimas desordenadas escorriam pelo meu rosto.
Pra completar, um passarinho voou do seu ninho e cagou - ISSO MESMO, CAGOU - em mim.

[...]

Cheguei em casa e minha mãe preparava o almoço. Meu pai permanecia em seu escritório, escrevendo feito louco e eu corri pro quarto.

- Liandra? - minha mãe chamou. - Já chegou, querida?

- Não! Me deixa em paz! - gritei, tirando a blusa suja e fedida. Enfiei a cara no travesseiro.

- O que houve? - ela entrou no quarto.

- Já disse pra você me deixar em paz! Que saco!

- Filha, não fala assim comigo.

- Vai embora daqui! - berrei.

Esperei até escutar a porta fechar para tirar o rosto do travesseiro e pegar um pouco de ar.

Depois de me acalmar, liguei o computador e entrei no Orkut. Sim, o pobre do Orkut ainda existia e fazia muito sucesso nessa época! A primeira coisa que vi me deixou boquiaberta. Alguém havia me filmado estatelada no chão da sala e postou ali.

Os comentários eram a pior parte.

Que otária! - comentou uma garota que eu não conhecia.

Caralho, que menina retardada.

Essa daí deve ter feito especialização em "demência"

Minha primeira vontade foi de quebrar a tela daquele computador (mas eu cheguei a conclusão de que a única que sairia perdendo seria eu). Depois, eu quis que todos morressem (ninguém morreu, obviamente). E por último, quis me vingar... (Isso era possível.)
*Desaparatar sem varinha é uma termo usado na série Harry Potter. É como se fosse um teleporte só que mais dahora.
Espero que estejam gostando serumaniiiinhos. =)

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora