Capítulo XVII

98 17 9
                                    

Era domingo de manhã e eu voltava pra casa sozinha. Decidi levantar menos de uma hora depois do meu sonho e fui embora enquanto Léo ainda dormia.

Dirigi em silêncio durante todo o trajeto até o Brooklyn Heights, onde uma nuvem negra começava a se formar no céu acinzentado.

Estacionei o carro na garagem externa sob uma chuva muito forte. Estiquei o braço para o banco de trás, onde peguei meu guarda-chuva vermelho e saí.

Entrei em casa e encontrei meu pai dormindo no sofá, coberto por folhas de papel soltas e o óculos meio torto em seu rosto.

- Pai - fechando o guarda chuva, me agachei ao lado dele. - vem, vamos pra cama.

- Hã? - ele despertou com um susto. - estava te esperando chegar. Onde você estava?

- Na casa de um amigo. Vem pra cama, anda.

Ajudei-o a levantar e o levei até sua cama. Antes de encostar a cabeça no travesseiro, ele já dormia.

Fui para meu quarto e tirei aquela roupa suja do dia anterior. Entrei direto no banheiro e tomei um banho bastante demorado pensando no interminável dia de ontem. "O pai dele literalmente morreu. Que droga. E eu quase levo uma bala na cabeça. Maravilha. Ele não tem um pai e eu não tenho uma mãe, que fofo. Uau, isso foi estranho. Mas uma coisa nossos pais têm em comum: ambos machucaram profundamente pelo menos duas pessoas antes de partir."

Me enrolei na toalha e saí do banheiro. Liguei o computador.

Eu tinha três mensagens.

"Ainda não voltou da casa daquela vaca??? Pelo visto a festa foi boa, não é mesmo Liandra traidora Jones?"

A primeira era do Sammy, que claramente ainda mordia os cotovelos pelo fato de eu ter ido àquela festa.

"Oi Lia. Eu não me lembro muito do que aconteceu ontem, mas espero que você não conte ao Sammy sobre o que eu te disse, ok? Espero que a gente se veja logo, querida."

A segura era da Iris. Dei risada ao pensar que eu com toda certeza do mundo diria ao Sammy o que ela me contou quase chorando.

"Lia, terminei o livro. Posso passar aí para entrega-lo?"

A última, como você já deve ter percebido, era do Leonardo. Involuntariamente, lembrei do sonho que tive aquela manhã e estremeci. "Mas que droga de sonho."

Voltei para a mensagem do Sammy e o respondi.

"Relaxa, não fiquei mais que vinte minutos na festa dela. Vem passar o domingo comigo e eu te conto tudo. P. S: acabei de chegar em casa."

Sorri ao reler a mensagem; imaginando as milhares de coisas pornográficas que ele pensaria.

"Oi Iris, pode ficar tranquila. Não contarei nada ao Sammy. Tchau."

Que vaca eu estava sendo, mas eu precisava compensar o Sammy por ter ido à festa dela. Dei de ombros e cliquei na mensagem do Leonardo.

"O que eu respondo?" perguntou uma vozinha dentro da minha cabeça. Eu poderia dizer:"Ah, ok". Mas a verdade era que eu não queria vê-lo. Ele claramente me deixava desconfortável.

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora