Capítulo LVII - Parte 4

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Flash Back On:

Era meu último dia de aula antes do ensino médio e eu não tinha nenhuma vontade de levantar da cama, até a minha mãe bater na porta e praticamente me obrigar a levantar.

Tomei um banho bastante demorado e lavei os cabelos; saí do banheiro, vesti o uniforme azul, calcei meus tênis vermelhos e escovei os dentes.

Ao sair do quarto, olhei pela fresta da porta do quarto dos meus pais e encontrei meu pai dormindo; passei para a cozinha e a minha mãe preparava o café.

- Bom dia - falou sem me olhar.

- Ontem você e o papai brigaram? - perguntei, me lembrando da discussão que eu havia escutado por um bom tempo na noite passada.

Segurando o bule, ela se virou e me serviu.

- Foi só uma discussãozinha de marido e mulher, querida.

- Ah - Tomei um gole do café quente e a acompanhei com os olhos. Ela não parecia feliz. Na verdade, fazia muito tempo que eu não a via sorrir. - Preciso ir mais cedo hoje - disse, não dando muita atenção àquele meu pensamento.

Terminei de tomar o café rapidamente e apanhei minhas coisas no quarto.

- Tchau - falei antes de bater a porta atrás de mim.

Flash Back Off.

Acordei com os olhos doendo e por um segundo cheguei a acreditar que aquele era um dia normal. Mas aí eu lembrei de tudo e a vontade de chorar voltou, mas eu já não tinha mais lágrimas e isso só piorou a minha dor.

Sentei na cama, a cabeça doendo como se mil martelos de Thor tivessem me agredido enquanto eu dormia; tentei esquecer de tudo o que havia acontecido na noite passada e liguei pro restaurante para avisar que eu não iria.

Crhisten, mesmo contrariada, aceitou sem muita reclamação e eu logo desliguei.

Para combinar com meu estado de espírito, o dia estava nublado e ventava bastante.

Meu pai, como era de se esperar, estava trancado em seu escritório mais uma vez; sua reação não foi tão desesperadora quanto a minha quando eu lhe contei sobre a morte do Leonardo, mas ele me abraçou e me ouviu chorar por horas e horas. Quando as minhas lágrimas finalmente secaram, ele me levou para a cama e me deixou sozinha para que eu pudesse tornar a soluçar.

Antes disso, ainda no hospital, eu havia criado forças que nem sabia que tinha para providenciar o funeral do Leonardo. Liguei para a mãe dele e lhe contei tudo o que havia acontecido. Eu mal a conhecia e já partilhavamos a mesma dor.

Preferi não atrapalhar meu pai e voltei ao meu quarto para tomar um banho, já que eu estava quase criando uma camada de sujeira em minha pele.

Tirei as roupas e parei na frente do espelho, meu rosto estava uma droga: os olhos inchados e vermelhos e, ao redor deles, terríveis olheiras escuras marcavam território. Passei as mãos pelo cabelo e respirei bastante fundo, antes de mergulhar embaixo do chuveiro.

Flash Back On:

Cheguei ao Colégio e quase não o reconheci: os alunos pulavam e gritavam de animação por conta do último dia de aula.

Ajeitei a mochila nas costas e me apressei para entrar em minha sala de aula e permanecer ali até que o sinal tocasse e eu finalmente me visse livre de todo aquele inferno.

- Bom dia - falou alguém atrás de mim. Me virei para ver quem era e vi Leonardo ao lado de outra garota.

- Oi - falei e sorri para ele.

A garota fez uma careta horrorosa de nojo como se uma meleca estivesse grudada na minha testa e olhou para ele.

- Você conhece ela?

Permaneci encarando-o, esperando por uma resposta e ele fez o que eu já esperava que fizesse. Deu de ombros e a beijou. Minha garganta se fechou e eu virei para a frente, de cabeça baixa.

Flash Back Off.

Meu pai dirigia o carro e eu estava sentada no banco do carona, enquanto o Sammy e o Mark sentavam nos assentos de trás, em silêncio.

Segurei o choro por todo o caminho e fitei as folhas das árvores balançarem por causa do vento durante o trajeto até o cemitério.

Tinha em meu colo o guarda-chuva vermelho que Leonardo havia me dado lá em San Diego e eu o apertava como se dependesse daquilo para que ele voltasse à vida. Ele não voltou, mas nem por isso eu deixei de desejar.

- Vai ficar tudo bem, querida - disse meu pai carinhosamente. Desviei o rosto das árvores do lado de fora e forcei um sorriso para ele.

- Eu sei - falei, mesmo não sabendo de droga nenhuma.

Nos aproximamos do cemitério e meu pai estacionou o carro embaixo de uma árvore. Saí, ainda segurando firmemente o guarda-chuva, e caminhei lentamente sobre o chão gramado.

Sammy e Mark se mantiveram afastados de mim durante todo o caminho até onde o Leonardo seria enterrado, e eu agradeci por aquilo. Naquele momento, tudo o que eu queria era ficar sozinha.

Flash Back on:

Tudo o que eu queria era um amigo, mas eu não tinha. Estava sozinha dentro da sala de aula, enquanto todos aproveitavam o ensolarado dia de verão no pátio.

Pus os fones no ouvido e coloquei minha música favorita para tocar.

"When she was just a girl, she expected the world, but it flew away from her reach, so she ran away in her sleep..." cantei mentalmente o início da música e abri um livro que eu não tinha a minha vontade de ler.

Alguém entrou na sala. Era a tal garota que estava com o Leonardo há poucos minutos.

Seus lábios se moveram e eu soube que ela estava falando comigo. Tirei os fones e murmurei um: "Hã?". Ela revirou os olhos - tão debochadamente que cheguei a achar que estivesse sendo possuída por um espírito maligno - e repetiu:

- Você gosta dele, não é?

- Isso é tão óbvio assim? - respondi ironicamente, cansada de tentar esconder algo que não podia ser escondido.

Ela sorriu. Não de um jeito legal, mas como quem diz: "Olha só pra você... Você é patética. Nunca vai ter chance com ele". Sim, o sorriso dela dizia tudo isso, acredite.

- Pobrezinha.

- Não se preocupe. Não é como se eu me importasse com isso - falei.

- Ótimo, porque agora ele está comigo.

- Que bom pra você.

- E se você tentar dar em cima dele... - ela inclinou o corpo para frente.

Ao mesmo tempo, a porta tornou a abrir e viramos nossos rostos na direção dela. Era o Leonardo.

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora