Capítulo XLVI

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Ele sentou no sofá e eu sentei ao seu lado.
Leonardo observava alguma coisa à sua frente e meus olhos estavam fixos em sua orelha direita.

- Você veio aqui só pra sentar no meu sofá? - quebrei o silêncio da melhor forma que pude.

- Não. Vim aqui pra falar com você, acho - ele entrelaçou os próprios dedos, demonstrando nervosismo.

- Acha?

- É. Eu não sei direito. Estava pensando em você... Estou pensando em você... E decidi te ver - desviei os olhos da sua orelha e encarei o estofado bege do sofá. - Pode me dar água?

- Claro - levantei na mesma hora, agradecida por poder sair daquele momento incrivelmente desconfortável.

Passei pelo corredor e fui até a cozinha. Abri a geladeira e peguei a garrafa de água. Quando me virei, tentei disfarçar o susto de vê-lo há alguns passos de distância de mim. Enchi o copo de água e entreguei a ele. Eu estava trêmula e, por isso, a água no copo também tremeu.

Ele sorriu meio sem graça e bebeu um golinho da água.

- Você dormiu bem essa noite? - perguntou. Que diabos de pergunta era aquela.

- Não passei a noite em casa.

- Ah - falou. - o que tinha no envelope que a Lilá te entregou?

- Isso é realmente importante? - ele deu de ombros. - Nada que me fizesse ficar surpresa. Ela ainda me odeia e quer distância.

- Achei que ela tivesse mudado.

- Pessoas como ela não mudam; apenas fingem para conseguir o que querem.

Ele meneou a cabeça por um tempo e sentou-se no banco em frente à bancada. Levou as mãos à cabeça baixa e seu silêncio me intrigou mais que me deixou nervosa.

Toquei seu ombro e ele estremeceu de um jeito muito suave, quase imperceptível.

- Que foi? - perguntei me aproximando ainda mais dele. Podia ouvir seu soluço quase inaudível. - O que aconteceu?

- Me perdoe, por favor - sua voz era um tanto melancólica.

- Perdoar pelo quê? - agora sim eu começava a ficar nervosa, ansiosa em saber o que estava acontecendo.

- Por fazer você passar por isso. Outra vez.

Com os olhos fixos nele, toquei seu queixo e levantei seu rosto para que eu pudesse vê-lo melhor. Seus olhos vermelhos e inchados me deixaram preocupada. Quis abraça-lo. Me controlei.

- Não entendi - murmurei com a voz trêmula.

Leonardo respirou muito fundo e fechou os olhos por uns dois segundos. Era como se ele estivesse buscando forças e coragem para falar. Ao abri-los, disse:

- Ela está grávida - uma lágrima rolou pelo seu rosto cor de caramelo. Eu senti minha respiração falhar e precisei me concentrar para não perder a cabeça.

"Isso não pode estar acontecendo. Ela não pode estar grávida. Deve ser só mais uma das mentiras dela..." e como se tivesse lido meus pensamentos, ele disse:

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora