Capítulo IV

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- Hã? - ele me encarava sério, o cenho franzido.

- Você disse que não entrou em nenhuma rede social hoje, mas quando eu te enviei uma mensagem, você...

- Você me enviou uma mensagem?

Balancei a cabeça, envergonhada. O que eu estava pensando exatamente? Cobrar a ele respostas? Exigir o que quer que fosse a um cara que eu não via há quase uma década?

- Eu realmente não entrei, mas acho que sei quem entrou.

- Isso não é da minha conta - respondi, fechando a caixa registradora com mais força do que pretendia.

- É, então eu acho que já vou indo.

- Tchau.

- Tchau - ele balançou a cabeça e saiu. Não olhou para trás. E não é como se eu estivesse esperando que ele se virasse e dissesse que sonhava comigo por mais de dois anos, mas confesso que fiquei um pouquinho decepcionada quando isso não aconteceu.

Os outros funcionários voltaram ao Café e tudo voltou ao normal. Limpar, servir e agradecer. Limpar. Servir. Agradecer.

Meu expediente felizmente chegou ao fim e eu praticamente corri para longe daquele Café em direção ao metrô.

- Pai! Estou em casa! - gritei ao fechar a porta atrás de mim.

Joguei a bolsa no sofá e segui o cheiro de frango frito até a cozinha, onde meu pai se afogava num balde cheio deles.

- Você saiu para comprar?

- Não, pedi por encomenda - cruzei os braços para ele. - maaas, eles erraram o endereço e eu tive de ir até a casa ao lado e buscar a comida. Isso não é um grande avanço?!

- Ah, sim, sem dúvida alguma - lavei as mãos e peguei uma coxa gordurosa de frango.

- E como foi hoje no trabalho?

- Você não vai acreditar. No metrô, quando eu estava indo para o Café, encontrei meu antigo colega de classe chamado Leonardo e, lá no trabalho, uma das máquinas quebrou e um assistente foi lá e... Adivinha só?

- Era o mesmo cara? - ele tentou acertar, como sempre fazia. Errou.

- Não. Outro dos meus colegas de classe, também chamado Leonardo. Eu não via os dois há, tipo, uns sete anos - achei melhor esconder a parte dos sonhos. Meu pai costumava viajar muito nas ideias.

- Uau, isso deve ser um sinal.

- Sinal? - dei risada. - que tipo de sinal?

- Eu não sei, mas quando coisas assim costumam acontecer...

Não terminou a frase. Detestava quando ele fazia isso!

- Coisas assim?

- É. Você me entendeu.

- Não entendi não! - mas, no fundo no fundo, acho que eu tinha entendido sim.

- Finalmente eu consegui sair da sala.

- E agora está na cozinha, que maravilha! - ele me mostrou a língua de um jeito brincalhão. - tá, parei. Em que parte está agora?

- A Cathelin e o James estão parados de frente para o corpo do Sam. Eles não sabem o que fazer.

- Mas o que eles vão fazer?

- Eu não sei.

- Pessoas normais ligariam para a polícia - sugeri enquanto pegava a segunda coxa.

- Eles moram numa casa isolada de todo mundo numa aldeia isolada por todo mundo e se relacionam entre si há gerações, você acha mesmo que eles são pessoas normais? - meu pai era estranho. Quer dizer, ele gostava de escrever coisas estranhas. Se sentia bem com aquilo e eu o apoiava, mas a maioria dos seus livros tinham de envolver: sexo explícito, abuso sexual, assassinato explícito e pensamentos sócio e psicopatas.

- É, eles não são normais. Preciso dormir. Acho que vou lá pro meu quarto tomar um banho.

- Certo.

Lavei as mãos e peguei minha bolsa no sofá. No quarto, fechei a porta e tirei as roupas que estavam praticamente grudadas em meu corpo.

Liguei o computador e entrei numa das redes sociais que eu já não usava com tanta frequência quanto antes.

Quatro pessoas haviam falado comigo.

"Lia, que tal a gente se encontrar amanhã à tarde e você me ajudar com um trabalho de inglês que eu preciso muito muito muito tirar um dez?"

Era meu melhor amigo, o Sammy. Em algumas semanas, ele começaria o último ano do Colegial e nos conhecemos numa festa na casa da minha tia. Ele era o melhor amigo do meu primo até eu roubar ele pra mim.

" Lia, o Sammy não para de me encher o saco. Dá pra você responder logo ele?"

Essa mensagem era do meu primo. Eles ainda eram melhores amigos e talvez eu estivesse exagerando quando disse que roubei o Sammy para mim. Não tinha capacidade para tanto.

"Olha só quem eu encontrei! Até que foi bastante fácil, na verdade. Sabia que só existem umas cinco Liandra no mundo todo, contando com você?! Bom, pode me responder, se quiser. Espero que não esteja achando que estou te perseguindo!!"

Essa mensagem era do Léo. O Léo do metrô. Aquele que encontrei logo pela manhã e tive um papo super maneiro.

"Oi. Acabei de chegar e não encontrei nenhuma mensagem sua. Pode repetir o que você tinha enviado antes, por favor?"

Esta última era do outro Léo. O Leonardo que eu tinha encontrado aquela tarde e não podia dizer o mesmo sobre nossa conversa. Nenhum um pouquinho maneira. Alguma coisa havia acontecido e ele não lera minha mensagem. Seria um sinal? Talvez fosse.

"Oi Léo. Que bom que você me encontrou. Eu não teria tido a mesma facilidade em te achar, já que existem uns cinco milhões de Leonardo só nos Estados Unidos. E eu não acho que você esteja me perseguindo. Ou melhor, não achava até você sugerir isso."

Respondi.

Peguei o celular dentro da bolsa e disquei os números que já sabia de cor e sorteado.

- Meu caramelo favorito finalmente se lembrou de mim! Espero que tenha uma desculpa muito boa para ter se esquecido à essa altura do campeonato do seu melhor amigo desesperado.

- Ah, eu com certeza tenho.

Espero que estejam gostando, pessoas. Comentem o que estão achando e lembrem sempre de votar, por favor. Beijos de Luz =) 

(CONCLUÍDA) Eu, você e meu Guarda-Chuva Vermelho.           Onde histórias criam vida. Descubra agora