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Louis subiu para acudir Freddie que deveria ter acordado com os gritos. Subi atrás dele e tranquei-me no banheiro do corredor. Sentei-me dentro da banheira e dobrei as pernas até ao peito libertando o choro que, até então, estava preso na garganta.

Vamos ser sinceros, a culpa de tudo é minha. Eu é que fiz os meus pais aproximarem-se, simplesmente por existir. Eu é que fui motivo das maiores confusões e problemas. Eu é que atraio confusão e os outros levam por tabela. Não queria que fosse assim, preferia mil vezes não ter nascido do que estragar famílias.

Agora a minha mãe está triste e magoada, e eu não queria feri-la desse jeito. Ela não merece, ninguém merece. Papai está arrasado por causa da Amélie, até eu, nunca esperei que ela fosse capaz de vender o corpo, sempre soube que de santa ela não tinha nada mas dar-se assim, era demais para mim. Se Rayna ficasse com raiva de mim, novamente, eu iria entender. Ela tinha razões para tal. Eu sou uma inútil, não sirvo pra nada a não ser magoar quem me rodeia, não sirvo pra nada e não sei como algum dia isso poderá mudar.

Levantei-me da banheira e fui até aos armários atrás de algo que pudesse aliviar a minha dor. Se paixão cura paixão, dor cura dor, não é? Pelo menos parece fazer sentido. Encontrei algumas lâminas no fundo da gaveta e observei-as reluzentes em minhas mãos. Peguei apenas em uma e passei o dedo levemente nela. Era o que eu tinha de fazer agora. Eu tinha de encontrar uma válvula que me desviasse dos pensamentos anteriores. Apoiei-me no lavatório e fechei os olhos chorando baixinho, ninguém precisava ouvir, nem saber que eu estava ali e, muito menos, precisavam saber o que eu estava prestes a fazer.

Estendi o meu braço e pressionei a lâmina fazendo movimentos. O sangue logo fez-se presente e o ardor que sentia atenuava o aperto do meu peito. Eu estava certa, dor cura dor. Pressionei mais algumas vezes a lâmina e assustei-me com a porta a bater.

- Nana estás aí? Abre a porta pra mim amor. – respirei fundo e limpei as lágrimas. Escondi a lâmina num lugar qualquer e peguei em papel para limpar o sangue no meu pulso. Puxei a manga do casaco para baixo e preparei-me pra falar com ele.

- Eu já vou sair.

- Está tudo bem? Que vozinha é essa?

- Está tudo bem. – respondi o mais normal que consegui sabendo o quão difícil é enganar Louis.

- Não mintas Nana, abre a porta. – disse autoritário e tive medo que ele a arrombasse.

- Eu já vou sair. – disse com a voz falha, maldita voz traiçoeira.

- Vou ter de quebrar a porta? – questionou nem um pouco contente e respirei fundo.

Lavei o rosto e aproveitei para limpar algumas gotas de sangue da pia. Observei o cômodo para ver se nada denunciava o que estive a fazer e abri a maldita porta.

- Graças a Deus, estava a ver que te tinha acontecido alguma coisa. – Louis disse abraçando-me forte contra ele.

- Estou bem, apenas estava a pensar. – respondi correspondendo ao abraço inalando o máximo de perfume que conseguia, Louis era o meu porto seguro, a melhor coisa que me aconteceu.

- Não estás bem coisa nenhuma. – olhou-me negando com a cabeça – Não precisas chorar, as coisas vão ficar bem. Eu prometo.

- Prometes? – indaguei e ele olhou-me preocupado.

- Prometo. Não te quero ver assim, não quero nem pensar que poderás ter alguma recaída. – abraçou-me de novo, era desespero na voz dele, era medo de eu voltar a ser a mesma Katerina de antes. – Promete-me também que vais ficar bem? – assenti com a cabeça e ele beijou-me os lábios docemente. – Amo-te tanto.

Nana, who are you? || L.T. ||Onde histórias criam vida. Descubra agora