Não dá para acreditar que eu esteja realmente te contando tudo isso.
Há muito tempo atrás eu tinha jurado para mim mesma que a minha história com os Winchesters era um fardo que eu teria que carregar sozinha - Não dizia respeito a ninguém, principalmente porque muita gente não entenderia.
Não entenderia as partes feias, caóticas, sem cor e que na época me fizeram amaldiçoar o dia em que os conheci.
Mas tudo isso foi inevitável.
Não existia nem nunca existirá uma versão disso em que eu não acabe embaraçada nos filhos de John Winchester - Acredite em mim, eu sei.
E tudo bem.
Eu já posso lidar com isso hoje bem melhor do que antes; quase tanto quanto com o fato de que preciso contar tudo o que aconteceu.
Incluindo as coisas que eu queria esquecer... Como aquela noite horrível em que descobri o que era realmente sentir medo - Um medo aterrador, paralisante e descontrolado que nos faz perceber o quanto a gente tem medo de morrer.
Naquela época eu já não conseguia dormir há dias.
Toda a vez que tentava acabava acordando aos gritos, suando frio, tremendo da cabeça aos pés com uma adrenalina que não passaria mais até o dia amanhecer.
Eu menti para os meus amigos.
Menti para a minha família - Disse que estava tudo bem quando na realidade eu sentia que estava literalmente morrendo. Só não sabia explicar como ou porquê.
Eu sabia que talvez fossem os sonhos que eu estava tendo; não conseguia lembrar deles muito bem no dia seguinte, mas alguns flashes sem sentido me atingiam com toda a força quando eu menos esperava durante o dia... Eles me faziam não querer dormir nunca mais.
Eram olhos... Negros, vermelhos, amarelos e brancos...
Eram sombras... Que comiam, falavam e caminhavam feito homens...
Eram mãos... Amarradas, geladas e sem vida como as de um cadáver esquecido na escuridão de um buraco qualquer.
Minha cabeça latejou com aquela imagem mais uma vez.
Levei a palma à boca rapidamente, tentando impedir a comida de voltar bem no meio do jantar em família - Normalmente eu conseguia fingir que meu estômago não estava tentando me matar de fome até que meus pais fossem dormir, sem desconfiar de nada.
Então eu me trancava no banheiro e deixava meu enjoo colocar tudo para fora por horas a fio.
Mas dessa vez parecia que não ia dar tempo.
"Você está bem?" - Minha mãe virou a cabeça na minha direção quase que imediatamente e me encarou com concentração.
Respirei fundo.
"Estou"- Foi tudo o que consegui dizer.
Ela levantou uma sobrancelha.
"Você está estranha e não é de agora. Sempre cansada, encolhida... Quase como se estivesse assustada" - Falou colocando a mão na minha testa devagar - Estava pegando fogo.
"Deve ser só alguma virose. Mas não espere ficar pior para dizer que precisa ir ao hospital, filha" - Interferiu meu pai. E por Deus, eu desejei mesmo que fosse algum tipo de doença. Assim eu saberia que não estava ficando completamente louca.
"Está tudo bem" - Menti de novo - "Só estou cansada e ansiosa com a faculdade... O que eu preciso mesmo é ir dormir" - Eles pararam de comer e me lançaram um olhar cheio de instinto ao mesmo tempo. Levantei da mesa devagar tentando disfarçar a tontura e a vontade de vomitar; pus a mão no ombro do meu pai e me forcei a não tremer e preocupá-lo ainda mais - "Boa noite gente, vejo vocês amanhã".
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A Menina Dos Winchester
FanfictionNaquele momento eu soube que não podia ir embora. Não podia simplesmente deixar os dois que me encaravam com uma concentração extrema enquanto o de sobretudo me lançava um olhar inocente e admirado. Eu nunca mais voltaria para casa... Nunca mais con...