Eu fazia o tipo previsível.
Menina quieta, estudiosa, trancafiada em seu próprio mundo. Tinha os meus compromissos; meus deveres; faculdade; trabalho; família; e meus dramas pessoais demais para serem comentados sem que achassem que eu tinha perdido o juízo. Nunca cruzei esses limites; nunca coloquei o pé para fora do território que eu mesma tinha traçado à minha volta. E parecia que agora, só agora, eu podia começar a questionar meus reais motivos daquilo.
Pensei por muito tempo - Numa razão para eu ter me mantido escondida como uma prisioneira; numa razão para eu ter afastado amigos e não ter agido como uma filha dependente da compreensão dos pais; ou mesmo numa razão para eu me comportar sempre como se estivesse sozinha num mundo de criaturas nada humanas. Pensei e cheguei a uma conclusão simples e não necessariamente verdadeira: Eu tinha medo.
Tudo que estivesse fora do meu controle era como uma areia movediça e negra, disposta a me sugar se eu me distraísse - O universo era meu inimigo... E estava querendo me pegar; me transformar em algo que eu não queria ser... Apesar de dever. Eu era como uma rosa... Uma flor prestes a estar no ponto para ser colhida... E quanto mais linda eu ficasse, mais corria o risco de alguém passar e me arrancar do chão; me matar para fazer alguma pessoa sem nome sorrir por alguns segundos.
Essa era a minha questão: Eu nunca tinha feito nada de errado; meu problema não era o fazer, e sim o ser. Então não importava o quanto eu me escondesse... Alguma coisa estava vindo... A hora estava chegando. E eu não podia fazer nada para impedir... Nada além de aceitar e bancar uma completa idiota por isso.
Era meu aniversário de 18 anos. E eu tinha decidido. O universo podia se explodir. Naquela noite eu ia fazer tudo o que me desse na telha e muito mais. Não dava a mínima para o quanto eu estava morrendo de medo de me ferrar no final, ou do quanto eu sabia que tudo acabaria de um jeito assustador e estranho como todo o resto da minha vida. Porque eu já tinha uma imagem e gostava dela: eu seria aquela pessoa desagradável que todo lugar tem; aquela que fala alto demais; que ri de um jeito esquisito demais; que sempre quebra alguma coisa ou faz algum comentário ridículo que faz todo mundo olhar. Normalmente eu detestava essas pessoas; saía de perto quando elas chegavam; mas dessa vez não. Eu não só ia incorporar o personagem como também ia me cercar de mais um grupo inteiro desse tipo.
Um cara tinha me abordado há mais ou menos uma semana com uma proposta exatamente nesse nível. Eu estava no campus da faculdade e ele se aproximou com mais dois que se comportavam como seus guarda-costas. Cabelo bagunçado, jaqueta de couro, um cigarro em uma mão e seu número de telefone na outra. O meu normal seria agradecer e negar. Mas naquele dia eu enlouqueci; aceitei o número; disse que ligaria; sorri; e o pior de tudo... Foi que eu realmente liguei; o chamei para sair; pedi que os garotos que estavam com ele fossem também... E como se não bastasse... Falei das minhas reais intenções... Todas, incluindo que não estava planejando fazer nada certo naquela noite.
"Então você escolheu a pessoa perfeita para isso" - Ele riu do outro lado da linha.
E meu estômago só fez embrulhar.
Fui na casa da minha prima e peguei emprestado o vestido mais curto e decotado de seu guarda-roupa enquanto ela me encarava de olhos arregalados e uma postura desconfiada. Não tão desconfiada, no entanto, quanto meus pais ficaram quando eu disse que ia sair com alguns "amigos da faculdade". Eles se encolheram no canto e procuraram não prestar muita atenção enquanto eu combinava um scarpan preto e alto com o vestido; enquanto eu passava um batom vermelho nos lábios e um delineador em forma de gatinho nos olhos, coisa que eu sempre me recusei a usar com frequência pela quantidade de tempo que me fazia perder.
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A Menina Dos Winchester
FanfictionNaquele momento eu soube que não podia ir embora. Não podia simplesmente deixar os dois que me encaravam com uma concentração extrema enquanto o de sobretudo me lançava um olhar inocente e admirado. Eu nunca mais voltaria para casa... Nunca mais con...