Nós dois

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O lugar tinha um cheiro intoxicante de borracha e madeira.

De todo o álcool que tínhamos usado para limpar o sangue do tatame repetidas vezes... O meu sangue. O meu suor.

E agora...

Estávamos nos preparando para sujar tudo mais uma vez - Eu e Dean, de novo, em mais uma das situações que basicamente se resumiam na minha humilhação e terror totais.

Ele olhava para mim.

Não como quem se concentrava na minha expressão ou na minha postura; não como quem prestava atenção na minha respiração ou no jeito que minha carne tremia... Não... Ele olhava para dentro de mim; examinava todas as coisas que eram invisíveis para todo mundo, menos para ele.

Dean me conhecia.

Sabia de tudo assim que colocava os olhos em mim.

Da mesma forma que eu sabia de tudo assim que colocava os olhos nele.

Seu peito estava ofegante; mesmo sem ainda ter se mexido um centímetro ele já parecia ter corrido um quilômetro. Era como um animal faminto diante de uma presa - Uma extremamente vulnerável que estava sendo balançada diante do seu rosto, sem poder fazer nada a respeito.

Sua testa brilhava de suor; não estava calor, mas no entanto... Era quase como se eu pudesse ver de longe sua pele queimando, ardendo como se estivéssemos numa fornalha. E sem camisa eu literalmente podia ver seus músculos se contraindo; se avermelhando; se transformando num animal; contendo um peso inimaginável de adrenalina.

Ele estava prestes a avançar.

"Está pronta?" - Ele murmurou quase inaudível, erguendo os punhos para mim e respirando fortemente feito um touro.

Lancei um olhar para Sam, sentado do outro lado do salão, fora do tatame; exibindo uma pistola por cima do joelho. Ele assentiu devagar, me encorajando, como se o professor fosse ele.

"Estou" - Praticamente sussurrei, me consolando no fato de que se eu conseguia dizer aquilo mesmo sem sentir... Então devia ser verdade. Só podia ser verdade.

Dean então começou a vir na minha direção devagar, estudando minha postura e meu olhar no seu corpo. Fiz o mesmo com ele; a diferença é que eu era emotiva demais; irritadiça demais; o sorrisinho que ele soltava sempre que estava prestes a pôr as mãos em mim me distraía; me deixava bem mais irada do que era necessário estar para uma luta. E dessa vez ele fez de novo.

Não esperei que me alcançasse. Ataquei.

Um soco. Dois. Três.

Ele se desviou de todos.

"Mais rápido" - Decretou com animação, como se quisesse que eu o acertasse.

Mas eu não estava nenhum pouco inclinada a fazer o que ele mandava. Em vez de desferir um soco, apliquei um golpe contra sua garganta; assim que ele se inclinou com o engasgo eu o acertei com as costas da mão aberta nas têmporas; o estalo do tapa ecoou - Era bem menos efetivo, é verdade; não ia feri-lo; mas o provocaria bem mais do que se eu usasse os punhos.

E eu queria muito provoca-lo.

Preparei-me para continuar no mesmo instante e só então acertá-lo com um soco; mas, mesmo sem olhar na minha direção, ele pegou meu punho no ar, e travou a outra mão em volta do meu pescoço. Começou a me sufocar.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora