O Demônio e a Garota

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Eu estava tremendo de frio de novo.

De frio e de medo, no meio de uma estrada cinzenta qualquer ao lado de Dean.

Escapamos por um triz naquela noite.

Tínhamos sido completamente cercados por uma multidão de criaturas que não fazíamos a mínima ideia do que eram, e mesmo assim... Ele conseguiu me tirar de lá - Corremos pelos corredores em busca da saída mais próxima e a encontramos... Só para chegarmos do lado de fora e Dean começar a balbuciar um discurso conspiratório: o de que o objetivo deles não era realmente nos levar, porque se não, teriam conseguido... Mas que antes, queriam apenas nos assustar.

"Então missão cumprida!" - Gritei na cara dele em estado de choque no meio da rua, completamente atônita e ensopada da chuva; numa vulnerabilidade que só a falta dos meus poderes poderia produzir. Àquela altura eu já começava a pensar que Dean teve razão o tempo inteiro na noite que Cas apareceu como o "caçador de Miguel"; que ele teve razão quando me mandou arrumar as malas para sairmos da cidade imediatamente - Se tivéssemos feito isso Belvedere ainda seria um caso perdido, mas pelo menos Sam estaria a salvo... E Jacob também.

Eu me enfureci.

Nada daquilo podia estar acontecendo.

Eu estava perdendo tudo de novo; engasgando num sentimento de luto de novo; me desfazendo de novo... E no final descobrindo que a resposta esteve sempre debaixo do meu nariz; convivendo comigo, e mesmo assim não pude ver. O tempo inteiro achei que eu estava lá para salvar os jovens de Belvedere... Quando na verdade... Deveria salvar Belvedere daqueles jovens.

Era uma infestação.

Uma infestação claramente monitorada - Alguém além de ter uma richa pessoal comigo por bagunçar com a força dos meus poderes, também tinha cortado a comunicação com o mundo lá fora; minhas orações não seriam ouvidas... Nem as de ninguém. Eu e Dean estávamos sozinhos.

Na verdade... Eu estava sozinha. Porque eu sabia que era só questão de tempo até que ele colocasse em prática contra a minha vontade o que tinha gritado de volta para mim:

"Nós vamos embora, Nina! Esquece o Sam, esse já está morto!" - Ele me segurou pelos ombros com firmeza quando eu disse que estava indo na casa do reitor da universidade exigir respostas, nem que para isso precisasse torturá-lo. Dean não ligava para nada disso. A Marca não deixava que ele ligasse. Tudo com o que ele se importava no momento, graças ao Arco, era me tirar de lá.

"Eu não vou embora sem o Sam" - Falei lentamente e com calma, semicerrando os dentes, tentando fazê-lo entender - "E se você encostar um dedo em mim para me forçar a ir, só vai estar apressando ainda mais a minha decisão de deixar vocês".

"Pode esquecer isso também" - Ele grunhiu, tentando manter os passos na mesma velocidade que os meus -  "Você sabe que não conseguiria nem se tentasse. Eu fecho os olhos e te vejo, sempre sei exatamente onde você está e o que está sentindo".

"Existem maneiras de bloquear isso" - Respondi com rispidez.

"Conversa fiada".

"Você sabe muito bem que eu não consigo mentir!" - Parei de andar finalmente, fitando-o nos olhos, sem mais um pingo de paciência para conversar sobre aquilo. Primeiro porque só de olhar para o rosto dele eu já tinha vontade de chorar; segundo porque no fundo eu sabia que se eu o escutasse o bastante... Ele me convenceria a ficar. A ficar para sempre.

Eu não ia deixar isso acontecer.

"Me ajuda a achar o Sam, me ajuda de verdade a fazer uma coisa pelo menos uma vez na sua vida e talvez, só talvez, eu considere ligar de vez em quando para vocês saberem que eu estou viva".

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora