"Como está se sentindo?" - Sam murmurou ao passar pela porta, com os olhos grudados em mim. Encolhi meu corpo na cadeira e virei o rosto, sentindo meus olhos queimarem pela claridade da fresta que invadiu o local quando ele destrancou a porta para entrar.
"Desculpe por isso. Não tive tempo de arrumar a iluminação para você... Aconteceu rápido demais".
Ele parou de falar e eu finalmente recuperei minha visão; virei-me para olhá-lo - Ele estava de pé, há poucos passos de mim; segurando uma bandeja de alumínio em uma mão, e uma lamparina na outra. Ele a estendeu para que eu a visse melhor.
"Mas eu trouxe isso. E comida. Deve estar morrendo de fome" - Ao terminar de falar ele puxou outra cadeira e sentou-se bem na minha frente, joelhos com joelhos, e então posicionou a lamparina aos meus pés e a acendeu.
Quando eu me iluminei com aquela luz azul incandescente ele voltou seu rosto para mim; por um instante pareceu que ele não fosse insistir no contato visual, mas algo o fez mudar de ideia.
Ele examinou cada centímetro do meu rosto com o olhar, não dando a mínima se eu me sentiria desconfortável com isso. Quando eu estava prestes a protestar, ele estendeu a mão num movimento lento e tocou meu rosto - Seu toque fez minha pele arder.
Devagar ele virou meu rosto de um lado para o outro; apalpou a minha bochecha e testou a temperatura da minha testa. Por instante pareceu que realmente estava preocupado com o que via; que não me queria daquele jeito; e por outro instante eu realmente me deixei levar - Deixei que ele me tocasse.
Até que a verdade me atingiu finalmente - Aquele era um sequestrador.
Então rapidamente esquivei meu rosto de sua mão e me afastei o máximo que podia; mesmo assim ele continuou a me encarar com suavidade.
"As marcas que seu irmão deixou em mim devem estar bem roxas agora, não é?" - Sussurrei com a voz rouca.
Ao me ouvir, Sam desviou os olhos para o prato em seu colo e respirou fundo; pude ver suas mãos tremerem por um instante.
"Eu trouxe bife e batata frita. Ouvi dizer que é um prato bem comum no Brasil" - Ele pegou um garfo e uma faca para começar a cortar - "Espero que esteja bom... Eu mesmo fiz, mas... Não estamos muito acostumados a cozinhar por aqui".
Antes de acabar a frase ele já tinha cortado um pedaço generoso de carne; sem hesitar ele ergueu o garfo na direção dos meus lábios e me ofereceu, com uma certa esperança no olhar.
Em resposta eu apenas o encarei, deixando toda a minha raiva aparecer em meu rosto, sem dar a mínima indicação de que eu pretendia me mexer.
Depois de alguns instantes ele insistiu.
"Por favor, coma".
Continuei em silêncio - Mal pisquei.
"Nina... Você precisa se alimentar".
"E você precisa me deixar ir".
"Sabe que eu não posso fazer isso".
Esperei alguns segundos e deixei minha fúria tomar conta do meu juízo:
"Então não quero mais nada vindo de você" - Abaixei a cabeça e suspirei, dando a conversa por encerrada.
"Eu sei como é" - Ele cortou o silêncio depois de um minuto - "Eu mesmo já estive em situações assim várias vezes".
Não resisti - Ergui a cabeça outra vez e o encarei com uma expressão horrorizada.
"E isso não ajudou nem um pouco, não é?" - Ele sorriu sutilmente, envergonhado - "Me desculpe, é que às vezes não sei mais o que te dizer para te acalmar".
"Que tal a verdade?".
"Você não acreditaria em mim" - Disse, aumentando o tom da voz - "Você tem que ver, Nina... Tem que ver com os próprios olhos, por isso vamos esperar o Castiel".
"Dane-se esse tal de Castiel. Ele fez vocês pegarem a pessoa errada".
Ele suspirou - "Não vai comer mesmo?".
"Vai se ferrar".
Ele se levantou da cadeira num movimento rápido e se afastou; quando eu achei que ele estivesse indo embora ele se virou e começou a gritar - "Eu já estou ferrado. Todos nós estamos droga, não consegue ver que isso não é uma brincadeira?! Eu não queria que isso acontecesse, nem eu, nem o Dean".
"Sinto muito te informar Sam, mas o monstro que você chama de irmão queria isso. E o fato de você aceitar te torna tão maníaco quanto ele".
"O Dean... Está com problemas".
"Isso eu já notei" - De repente ele soltou uma risada fraca e me olhou com um certo cansaço.
"Se der tudo certo você vai ter a chance de conhecê-lo de verdade. Não aquele animal agressivo lá em cima, mas... O tipo de gente que você nunca mais iria querer fora da sua vida".
Ri sem vontade - "Você quer apostar?".
Ele endureceu o rosto - "Na verdade... Eu quero sim" - Levantei uma sobrancelha, sem acreditar no que ouvia - "Aposto 10 pratas que você ainda vai querê-lo por perto".
"Vocês são completamente loucos" - Fiz uma expressão enojada.
Ele se virou e começou a caminhar até a saída, e enquanto caminhava me respondia de costas - "Somos sim. Mas não pegamos a pessoa errada".
"Pegaram sim, estão cometendo um engano!" - Gritei, já entrando em pânico por estar prestes a ser deixada naquela escuridão de novo.
Então ele parou na porta e enquanto a segurava ele se virou pela última vez para me responder.
"Nina Bela Melo, 20 anos, 1.70m; mãe Eliza Gomez Melo, pai Walace Artur Melo, irmã Ana Clara Melo; 45, 50, 15. Endereço Rua Dom Marques 305, morava lá desde que nasceu e sempre estudou na mesma escola, Instituto Pedro Gregório. Formada em inglês e literatura, mas nunca foi para fora do Brasil; toca violão e piano, mas nunca tocou na frente de ninguém. Tem poucos amigos, não porque faça o tipo solitária, mas porque sempre acreditou que iria embora um dia e se aproximar das pessoas só tornaria tudo mais difícil... Especialmente nesses últimos dias em que você realmente achou que estava enlouquecendo por conta de uns pesadelos que não contou para ninguém... Fez bem em manter em segredo".
Eu parei de respirar; podia ouvir meu próprio coração enquanto eu tentava não ter um ataque em minha cadeira. Tirando forças sabe lá Deus de onde, eu criei coragem para falar, gaguejando em tremores.
"Como você...".
"Pegamos a pessoa certa. Esse tempo todo... Tinha que ser você, Nina" - Disse, me interrompendo.
"O que isso quer dizer?".
E então devagar e com atenção ele disse suas últimas palavras antes de me trancar no porão novamente:
"Quer dizer que devia temer seus pesadelos muito mais do que pensa".
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A Menina Dos Winchester
FanfictionNaquele momento eu soube que não podia ir embora. Não podia simplesmente deixar os dois que me encaravam com uma concentração extrema enquanto o de sobretudo me lançava um olhar inocente e admirado. Eu nunca mais voltaria para casa... Nunca mais con...