Milagre

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Nunca achei que iria parar num lugar como aquele, nem em um milhão de anos.

Talvez porque a vida que levávamos sempre nos conduzia a cenários escuros, frios, assustadores... Sem esperança. Mas aquilo... Aquilo definitivamente não tinha nada disso.

O ar era puro... Envolvente.

O Sol, forte; mesmo de óculos escuros praticamente me cegava; me cobria como um manto debaixo de uma brisa fria e constante... Que parecia ser capaz de acalmar qualquer um ou qualquer coisa, em qualquer situação.

Tinha cheiro de lírio... De calcário novo.

Tudo era cercado de cores e risadas que muitos soltavam relaxadamente, sem conter a altura ou sem se importar com quem estava em volta. Até mesmo as roupas que usavam mostravam o quanto estavam à vontade... Afinal lá não fazia aquele frio quase que permanente do norte; não existiam jaquetas pesadas e camisas de flanela como as nossas... Só chinelos nos pés, shorts, chapéis... Camisas brancas e bem folgadas feito a que eu estava usando.

O brilho era tão insistente que fazia todas as ruas de pedra pelas quais passávamos estarem sempre quase amarelas... Laranjas como o céu nos fins de tarde... Era essa a sensação que aqueles becos estreitos passavam, em cada degrau disforme... Conforto, aceitação... Ainda que estivéssemos lá pelo motivo contrário.

E caramba, estávamos bem longe de casa dessa vez.

O lugar inteiro estava lotado, até onde minha visão alcançava. Todas as calçadas floridas e copas antigas formigavam de pessoas transitando para todos os lados... Nativos, crianças, comerciantes, turistas... E Dean com certeza conseguia disfarçar muito bem que era membro do último grupo. Cortava a multidão com determinação, como se soubesse exatamente para onde estava indo, ou como se pelo menos já tivesse estado lá antes.

Não prestava atenção em nada.

Não se deixava distrair por nada.

Na verdade, toda aquela mistura de sensações parecia irritá-lo ainda mais... Especialmente porque nos afetava.

"Anda! Vocês estão me atrasando!" - Exclamou de repente, quando deu uma rápida virada para trás e percebeu que estávamos nos distanciando.

Não esperou uma resposta. Simplesmente virou-se para frente e continuou a atropelar a massa feito um touro.

Lancei um olhar para Castiel, que caminhava do meu lado, ignorando os 27 graus em se recusar a tirar aquele sobretudo; sem saber muito bem o porquê nós dois acabamos sorrindo ao mesmo tempo, ao perceber o quanto meu irmão estava nervoso. Eu tinha que admitir. A situação toda era de enlouquecer e não podíamos fazer nada além de aceitar.

"Parece que a Marca finalmente encontrou um oponente mais forte, não é?" - Ele comentou.

Suspirei, sentindo uma onda cheirosa de café e pão recém saído do forno que estava invadindo as vielas por entre cada sombra fresca; por entre cada lojinha de antiguidades e de brinquedos artesanais.

Eu conhecia alguém que iria adorar aquele lugar.

Se fosse para visitar a passeio.

"Por que a Nina viria para a Itália?" - Soltei, mudando de assunto conscientemente enquanto apertava o passo para alcançar Dean - "Não me parece o tipo de lugar que precisa tanto assim de uma intervenção".

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora