Campo de Batalha

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Assim que acordei me dei conta de apenas uma coisa - Meus ouvidos zumbiam como se algo tivesse explodido bem ao lado da minha orelha. Eu estava completamente surdo, completamente zonzo, e com uma baita dor de cabeça.

Abri os olhos devagar e a primeira cena que vi foi Nina caída no teto do carro... Levei dois segundos para descobrir que era porque estávamos de cabeça para baixo; e mais outros dois segundos para me dar conta de que aquela coisa sobre seu corpo era um enorme pedaço de vidro fincado em seu estômago.

Estiquei meus braços na sua direção imediatamente, sem a menor coordenação, mas não consegui alcançá-la. Só então notei que eu estava preso ao meu acento pelo cinto de segurança... Que estava totalmente emperrado.

Comecei a me debater.

Minha audição voltou na mesma hora, só para me deixar saber o quanto eu estava ofegante e desesperado.

"Nina..." - Sussurrei, com a garganta entalada e sem voz pela adrenalina do acidente - "Nina, acorda...".

Ela não se mexeu. De fato, estava mais do que claro... Ela sequer estava respirando. Talvez já estivesse morta.

Mas mal tive tempo de processar essa informação.

Assim que comecei a absorver com clareza tudo o que estava acontecendo à minha volta, ouvi um barulho do lado de fora do carro - Como se fossem passos lentos sobre vidro estilhaçado. Estiquei o pescoço e pela porta vi que alguém se aproximava do meu lado oposto. Era homem... Estava descalço... Usava calças brancas e de linho.

Travei a mandíbula.

Essa era definitivamente a última coisa que podia acontecer.

De repente ele se agachou e olhou pela janela, praticamente colocando a cabeça para dentro. E como se soubesse de forma exata onde ela estava e qual era a sua situação, seu braço já foi de encontro ao corpo dela, ignorando completamente todo o resto da cena; inclusive eu, que estava pendurado no alto do banco; inteiramente estático, sem conseguir ver o seu rosto.

A mão direita dele se aproximou certeira do vidro que estava na barriga de Nina, e sem cerimônias simplesmente o arrancou. Quando eu vi a quantidade de sangue que começou a jorrar pelo carro eu finalmente sofri um estalo.

"Ei! O que você está fazendo? Deixa ela em paz!" - Falei o mais alto que pude, tentando me soltar. Mas não obtive nenhum efeito. Nenhum, tirando ele ter olhado para cima e me encarado diretamente nos olhos.

Ali, então... Na mesma hora eu soube quem era.

Michael.

Dentro de uma carne com uma aparência que lembrava muito a do meu pai - Provavelmente tinha voltado no tempo e tomado alguém da linhagem sanguínea de Dean, como fez da última vez. Alguém que devia ser um parente bem distante, mas que ainda assim tinha exatamente os mesmos olhos do meu avô.

Os mesmos olhos de convicção e compromisso que eu encarei enquanto lutava contra Lúcifer dentro de mim para me jogar no buraco da jaula; e a mesma expressão de ódio profundo de quando o levei junto comigo.

Ele estava de volta.

E pelo visto bem mais sanguinário que antes.

Não esperou que eu dissesse sequer uma palavra a mais - Estendeu a mão novamente para ela e dessa vez a deixou pousada sobre seu ventre. Devagar uma luz azul vinda da sua palma começou a aumentar até cobrir todo o tronco de seu corpo.

Aí eu entendi o que ele estava fazendo. Exatamente o que nenhum outro Anjo poderia fazer - Curando-a. Só para não ter que lidar com único anjo que poderia livrá-la da morte, e com isso, da mordaça também.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora