O Topo

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"A gente tá ferrado" - Murmurei com a voz trêmula ao lado de Dean por entre as árvores assim que meus olhos se acostumaram com aquela cena sem sentido; afinal, uma multidão dançando era a última coisa que eu esperava encontrar no topo daquela montanha - "A gente tá ferrado de vez".

"Por que?" - Ele perguntou num sussurro depois de alguns instantes, completamente distraído com o que acontecia na nossa frente, sem colocar força nas suas palavras... Como que por puro reflexo. Eu conhecia aquela expressão profissional e concentrada; o jeito que juntava as sobrancelhas e movia o verde dos olhos rapidamente; estava estudando o problema, provavelmente pensando em fazer alguma coisa bem estúpida que acabaria matando um de nós dois.

"Como assim 'por que', Dean? Não está vendo que foi tudo para o espaço? Tem uma droga de um DJ num palco de dez metros de altura ali, por acaso vamos roubar o microfone e pedir para todo mundo se render?"

"Tudo bem, eu admito... Aqui está muito mais cheio do que eu achei que estaria, mas...".

"Você tá de sacanagem, não é? Esse é o menor dos nossos problemas".

Ele revirou os olhos bufando e finalmente virou o rosto para baixo para me encarar - "E qual seria o maior deles, Nina?".

"Não sabemos quem é quem, droga!" - Quase gritei, tremendo dos pés à cabeça por estar, devagar, perdendo todas as esperanças de reencontrar o Sam - "Pode ter gente inocente aqui, olha só para eles..." - Apontei para um grupo de meninas que se juntava num canto longe do palco para tirar setenta selfies seguidas - "E se a maioria dessas pessoas forem só... Adolescentes?".

"E daí?" - Dean soltou com irritação, como se o que eu tivesse dito não fizesse a menor diferença.

"Daí que não podemos entrar matando todo mundo, caramba!"

"Por que não?!".

Travei a mandíbula. Respirei fundo e contei de um a dez mentalmente, tentando falar com o máximo de calma possível - "Quer saber? Se eu nunca consegui te ensinar a diferença entre o bem e o mal antes, não vai ser agora que um milagre vai acontecer no seu coração. Só aceita que precisamos de outra estratégia, está bem?".

"Okay, mas seria bem mais fácil se nós...".

"Eu disse não!" - Cortei-o desesperada, como se estivesse falando com uma criança - "Começa a pensar em outra coisa rápido porque não podemos ficar aqui para sempre, uma hora ou outra alguém vai acabar nos..."

"Oráculo prometido nos arbustos à esquerda, pessoal!!" - Gelei dos pés a cabeça em uma fração de segundo.

Arregalei os olhos e paralisei.

Ouvi uma voz como de trovão gritar a minha localização da porcaria do microfone, de cima do palco.

Aí toda a música parou e a clareira fez silêncio.

Virei-me devagar, como um animal encurralado, e vi quem tinha feito o anúncio - O próprio DJ; enquanto manipulava os discos em meio as luzes e adicionava um eco sem fim à sua frase - A multidão inteira parou de pular e olhou para onde nós estávamos; só para na mesma hora começarem a aplaudir e gritar, como se estivessem esperando pela minha chegada; como se eu fosse bem-vinda.

Mas que merda.

Fiz uma careta, sem entender bulhufas daquela reação.

"Certo..." - Dean soltou do meu lado - "Vamos lá então" - Disse, dando de ombros e agarrou meu braço de repente, começando a me puxar para fora das sombras; com a expressão mais normal da vida na cara.

"Ficou louco?! Eu não vou sair daqui!" - Protestei, puxando meu braço de volta.

"Você tem que ser mais simpática, Nina. Pelo menos vai dar um oi para os seus fãs".

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora