A Promessa

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Então era essa a sensação que tinha...

Morrer lentamente.

Eu achava que seria mais doloroso - No início até foi; mas agora tudo era tão simples que eu me sentia uma idiota por ter sentido tanto medo antes.

Ia ser fácil - Sentir como se cada centímetro do meu corpo estivesse desaparecendo como vapor aos poucos; era como adormecer; de um jeito um tanto desconfortável, mas que no fundo era mais que resignado - Uma onda salgada da qual eu não podia fugir.

Então eu só ficava de olhos fechados, deixando ela me levar para longe daquele pesadelo.

Até que o Sam aparecia com aquela maldita bandeja e estragava tudo - Quando ele surgia na minha porta com aquela voz mansa e olhos preocupados eu era forçada a ficar alerta de novo; era forçada a começar a nadar contra a correnteza mais uma vez; e eu não tinha mais forças para aquilo.

Já tinha parado de gritar; minha garganta ainda estava ferida, e eu tinha finalmente me dado conta de que ninguém me ouviria.

Já tinha parado de chorar; depois de um tempo meus olhos começaram a doer e a me causar uma baita dor de cabeça.

Então eu só dormia a maior parte do tempo; meio que torcendo que de alguma forma eu descobriria um jeito de escapar em sonho - Mas eu estava cansada demais até para ter meus pesadelos. Tudo o que eu via era só uma tremenda e longa escuridão; meu medo era que aquilo fosse uma indicação do que me aguardava.

Não havia mais nada que eu pudesse fazer de qualquer jeito.

Não iria mais implorar feito criança; da mesma forma que não iria mais cooperar até que me dissessem o que estava acontecendo; nem que para isso eu precisasse brincar com a minha própria vida - Ela era meu único recurso afinal, e eu não tinha mais nada a perder.

Se eles não queriam mesmo me ferir, uma hora ou outra iriam ter que negociar.

                     ******

Ela não se assustou quando eu abri a porta - Podia ser um bom sinal.

Entrei devagar, equilibrando a comida no prato e tentando não fazer barulho já que ela parecia estar dormindo.

Numa posição bem desconfortável aliás; os ombros já se inclinavam para frente sem o menor receio de machucar os braços nas amarras; mechas de cabelo quase cobriam seu rosto mas eu podia vê-la; podia ver uma expressão tão machucada e cansada que quase me fazia lembrar de mim; quase me fazia sentir pena por ninguém ter dado nenhuma opção para ela... Nenhuma escapatória.

Mas afastei esse pensamento enquanto caminhava até o centro; eu sabia que logo ela começaria a falar e a vontade de matá-la voltaria.

Parei há uns 5 passos de distância com um enorme pré cansaço pela conversa que se seguiria.

"Nina" - Chamei uma vez, com a voz firme mas baixa, querendo acordá-la - Ela nem se mexeu.

"Nina" - Chamei de novo, dessa vez mais alto, esperando que pelo menos agora ela fosse se incomodar um pouco com a altura da minha voz.

Mas não. Ela continuou parada.

A observei por uns instantes, tentando descobrir se ela estava me provocando ou tentando conseguir algo; mas estava calma; completamente estática; tanto que por um instante eu podia jurar... Ela sequer estava respirando.

Não sei explicar o que aconteceu.

Quando dei por mim já tinha posto a bandeja de lado e estava em cima dela, segurando sua cabeça.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora