Boas Vindas

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A família Esperonni era um tanto cômica, para se dizer o mínimo. Eu diria "meio que insuportável a longo termo, mas interessante, se for só por duas noites". E graças a Deus esse era o máximo de tempo que ficaríamos por lá.

Sam achou a pensão deles nos classificados depois que se convenceu que eu não estava completamente louco. Pegamos um trem até a propriedade e descobrimos uma casa antiga, de mais ou menos 200 anos, toda reformada para o propósito de acomodar "turistas" como nós.

Três andares, vasos de flores murchas, cortinas de 100 quilos e quadros de um metro e meio refletindo pinturas de homens na casa de seus 90 anos.

A dona da casa não conseguia ficar mais de dez segundos sem apertar nossas bochechas; sempre com aquele avental vermelho que não tirava nem por um decreto... Era onde mantinha uma colher de pau sabe se lá Deus porquê, e também todas as chaves da casa, fazendo-a levar um barulho de chocalho aonde quer que fosse.

E ela estava sempre andando para todos os lados.

Seu marido era praticamente surdo. Então tudo o que fosse preciso dizer, deveria ser dito aos gritos... O que foi bem desconfortável quando ele questionou a nossa orientação sexual por termos pedido só um quarto. A rua inteira deve ter escutado nossa tentativa de explicação que ainda não sei ao certo se foi entendida.

E por último, mas não menos irritantes, estavam as filhas do casal - Gêmeas de longos cabelos ruivos sempre presos em maria-chiquinhas, rostos cobertos de sardas, magreza excessiva em todo o corpo, e muita, mais muita desinibição.

"Essas garotas estão te comendo com os olhos" - Sam sussurrou para mim enquanto subíamos as escadas praticamente correndo para nos escondermos delas no quarto de hóspedes.

"Não demorem muito, rapazes!" - Uma delas exclamou do início dos degraus -"O jantar está quase pronto e hoje vamos ter algumas delícias especiais na mesa".

"Literalmente" - A outra replicou e imediatamente ganhou uma cotovelada da irmã.

"Continua andando, Sam" - Sussurrei de volta para ele, arregalando os olhos e fazendo uma careta.

Ele olhou em volta com uma expressão divertida, procurando pela porta, e logo se adiantando para abri-la e assim me deixar disparar para dentro.

Esperei ele passar e girei a tranca.

"Então... Qual é o plano?" - Indagou assim que me virei para ele.

Bufei, fazendo outra careta.

Franzi a testa e fui até minha cama devagar para pôr minha mala sobre o colchão.

"Posso sequer respirar primeiro?" - Respondi finalmente, sem deixar de soltar um sorriso sutil.

"Achei que não tivesse tempo para isso".

Bufei de novo e comecei a tirar a jaqueta devagar - "Ah, agora você leva em consideração o que eu falo? Legal da sua parte".

Ele ficou em silêncio por fim; não apenas calado, mas pelo canto do olho eu também percebia que estava imóvel; tão estático na penumbra do quarto que eu mal via nada em seu rosto além da barba grossa que ele vinha deixando se cultivar desde que ela foi embora.

Estava me analisando.

Do jeito que eu odiava.

Joguei a camisa que eu tinha acabado de tirar de dentro da bolsa para o mesmo lugar e com irritação virei para encará-lo.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora