Na Beirada

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"Vai ficar tudo bem, criança" - Ele murmurou com suavidade há uns 5 passos de mim - "Você é bem mais forte do que pensa".

Eu não me sentia assim.


Só tinha 9 anos de idade, e na minha cabeça eu era ainda mais fraca e mais estúpida do que seria aceitável ser para alguém do meu tamanho.


Uma prova disso era o que tinha acabado de acontecer.


"Eu me machuquei" - Sussurrei chorando - "Pode chamar a minha mãe, senhor?".

Ele me encarou com uma expressão leve, sem dar nenhum indício de que pretendia atender ao meu pedido, e mesmo assim parecia estar compadecido pela cena que tinha acabado de ver.

"Ela mora bem ali" - Insisti, apontando para a casa há 10 metros de distância, sem dar a mínima para o fato de que estava falando com um completo estranho.

"Eu sei" - Disse simplesmente.

Observei seu rosto, torcendo por algum socorro enquanto meus joelhos faziam uma pequena poça de sangue ao meu redor; me esforcei para não chorar; para não parecer desesperada - Mas o homem mal se moveu.

Lancei um olhar triste para as minhas feridas, desistindo de conseguir ajuda dele - Fiz uma careta; estava prestes a me entregar ao choro no meio do asfalto.

Não devia ter saído de casa feito uma louca. Muito menos numa bicicleta que eu ainda mal sabia pedalar.

Tinha tido um pesadelo horrível naquela tarde - Me via presa, no escuro, sangrando... Dois homens me diziam que eu era deles.

E no sonho, eu era mesmo.

Acordei assustada e sem dizer nada peguei a minha bicicleta vermelha para ir à pequena Igreja da esquina - Sempre me sentia mais calma por lá quando dentro da minha cabeça acontecia algo que eu não entendia.

Mas faltando poucos metros eu caí - Ralei os joelhos, as mãos, os braços... Nunca tinha me visto sangrar antes; pelo menos não estando acordada.

Olhei para o lado e ele estava lá.

Um homem alto, de rosto gentil, observando tudo o que tinha acontecido - Pareceu que ia ajudar, mas eu estava enganada.

Até que ele se agachou para me olhar nos olhos.

"Levante, vá para casa e lave suas feridas. Não há porquê preocupar sua mãe com isso" - Disse devagar.

"Eu não consigo" - Falei de imediato.

"Tem que conseguir. Infelizmente sua mãe não poderá te ajudar sempre".

"Por que não?!" - Respondi, já irritada.

"Pelo mesmo motivo que você não a procurou antes de sair de casa" - Arregalei os olhos e parei de chorar no mesmo instante - "Porque existem coisas que só você consegue entender".

Fiquei em silêncio.

E ele também.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora