Profecia

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Meu corpo vibrou como em um estalo.

Tremeu como em um choque elétrico.

E a próxima coisa de que me dei conta foi que uma grande quantidade de líquido estava fluindo para fora do meu peito, rasgando a minha garganta no caminho - Abri os olhos em desespero e comecei a tossir toda a água de uma só vez, lutando para respirar como se eu tivesse ficado por horas e mais horas sem nenhuma fração de ar.

Sentei-me depressa enquanto meu pulmão queimava e se esforçava ao máximo para expulsar o que parecia ser um litro de água; se esforçando ao máximo para voltar a funcionar. Meus olhos lacrimejaram; meus dedos se contorceram; minha vista esbaçou. Aí, então, consegui puxar meu primeiro trago de ar.

Só assim, enfim, pude olhar em volta, percebendo que eu estava em cima de uma pedra grande na margem da cachoeira, no escuro completo... Batendo os dentes de frio... Completamente encharcada... Começando a me perguntar se o Serafim tinha me trazido de volta; porque eu com certeza me sentia como se tivesse morrido naquela noite... No fundo daquela água negra.

Depois disso não tive tempo de pensar em mais nada.

"Vai ficar tudo bem..." - Ouvi alguém sussurrar bem perto do meu ouvido e em seguida repousar a mão quente nas minhas costas; tomei um sobressalto e me virei imediatamente. Lá estava o Dean, molhado dos pés à cabeça, me encarando como se eu fosse um fantasma, e ofegante, porque definitivamente, agora eu entendia, tinha nadado até o fundo da cachoeira e feito RCP em mim.

Ele é que tinha me trazido de volta.

A expressão de preocupação no rosto dele... A postura tensa e o tom de voz cuidadoso... Tudo o deixava com a guarda tão baixa e solta que seus olhos se escureceram enquanto eu estava desacordada, revelando o que tinha dentro dele - Dean provavelmente nem percebeu, porque assim que me virei para olha-lo, ainda consegui ver a escuridão por uns dois segundos antes dele se dar conta e fazê-la desaparecer, dando lugar aos olhos verdes do Winchester original.

Da mesma forma que ele sempre fazia quando queria disfarçar a realidade.

Por um milésimo de segundo desejei ter o Dean verdadeiro ali; desejei que fosse ele, e não um demônio, que fosse o único a quem eu pudesse abraçar naquela floresta enquanto chorava de medo... De raiva... De saudade. Saudade dele.

Mas não.

Dean não estava lá.

"Não vai... Ficar... Tudo bem" - Murmurei, lutando contra meus dentes batendo, enquanto finalmente tentava me colocar de pé.

"O quê? Ei! Vai com calma, não se levanta agora" - Respondeu na mesma hora, estendendo as duas mãos para agarrar meu braço e me manter sentada.

Gritei com rouquidão e sem rodeios ao dar um passo cambaleante para trás - "Não toca em mim!".

"Não seja ridícula Nina, você vai cair e bater com a cabeça. De novo".

Continuei recuando enquanto ele tentava achar uma brecha para me segurar, como se eu estivesse bêbada; quando na verdade... Nunca estive mais lúcida - "Exatamente Dean... Não seria a primeira vez e com certeza não vai ser a última!".

"Qual é o seu problema?!".

"Meu problema? Meu problema é que eu preciso de você Dean, o você de verdade!" - Ao ouvir isso ele finalmente parou e franziu a testa - "Preciso do cara com quem eu fui ligada antes mesmo de nascer! Preciso do caçador que me derrubou naquele bosque, me mostrou o Arco no braço e me fez todas as promessas possíveis sem dizer uma palavra...".

Coloquei uma mão na cabeça e tomei fôlego... Quando dei por mim já estava chorando.

"Eu preciso do Dean que conversou comigo às cinco da manhã daquela cozinha escura porque tinha medo de virar um monstro... Lembra disso?" - Perguntei, desesperada - "Lembra que você segurou minha mão naquela noite?".

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora