Sem Ela

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"Pelo amor de Deus, Sam... Vai vomitar de novo?" - Castiel me perguntou pela trigésima vez com aquela expressão de preocupação frequente, fazendo minha cabeça latejar ao som da sua voz que sempre parecia estar um pouco alta demais.

Minha visão estava embaçada.

Meus dedos tremiam, dormentes.

E pelo jeito eu não estava conseguindo esconder muito bem esse fato.

Enquanto ele me analisava eu podia sentir toda a sala girando, me empurrando para fora da cadeira da qual eu já tinha caído vezes demais para contar - Segurei-me pelas bordas da mesa; fechei os olhos, respirei fundo... Senti um cheiro forte de Whisky que nem deveria ter chamado minha atenção de verdade... Porque tudo cheirava a Whisky ultimamente.

Tudo ainda cheirava à gasolina que arremessei por toda a parte na última vez que fiquei bêbado e tentei pôr o bunker à baixo... Junto com todas as lembranças que Dean e... Ela... deixaram.

Uma das piores noites da minha vida.

Depois desse evento aleatório Cas não me deixou sozinho nem por mais um dia que fosse - Ficava me monitorando, insistindo em bancar o meu tutor como se agora eu fosse uma criança órfã... Bem... Era quase assim que eu me sentia, de qualquer forma. Acho que não havia outro jeito de descrever.

Puxei a garrafa para mais perto de mim, com cuidado para não manchar ainda mais os papéis sobre a mesa.

"Outro copo de Whisky?" - Ele reclamou quando me viu abrir a tampa do vidro com as mãos trêmulas - "Não sei muita coisa sobre a biologia humana, mas tenho certeza de que não tem como a sua bexiga ser tão grande assim".

Grunhi, incapaz de soltar uma palavra leve e descontraída sequer; se o assunto não fosse sobre eles, eu não queria saber.

Virei a garrafa no gargalo mesmo, enquanto Cas bufava do outro lado da mesa.

Lá estava uma coisa que me deixava contente: O líquido nem queimava mais... Não tinha mais gosto de nada.

"Alguma novidade, pelo menos? Seu novo jeito de fazer as coisas está ajudando de alguma forma?" - Provocou mais ainda, lutando para que eu tivesse algum momento de interação social que fosse.

Então decidi dar o que ele queria.

Respondi.

"Que bom que perguntou! Tenho uma novidade sim!" - Debochei e joguei uns documentos na direção dele - "Lá se foi Lori Sorensen! Alguém rasgou a garganta dela no dia que ela ia se casar, não é interessante?"

O rosto dele endureceu na hora.

Encarou-me, petrificado, só para uns dois segundos depois encostar-se no apoio da cadeira onde estava, afrouxando a gravata e cruzando os braços com indiferença; de alguma forma ele já previa que aquela conversa o esgotaria; mesmo assim, por fim, respondeu-me também - "Isso não prova nada".

Bufei - "A arma do crime foi um osso, Castiel. Um osso afiado de natureza não determinada, foi assim que o FBI colocou nos registros".

Então ele levantou os olhos e me encarou com a maior relutância que eu já tinha visto na vida... Não porque ele não acreditasse em mim... Mas porque tinha medo do que eu fosse fazer a respeito. E com razão.

"Só que ainda assim voltamos para a parte em que não há novidade nenhuma..." - Completei ao ver sua reação inquebrável - "Dean matando todas as mulheres com quem eu já me relacionei na vida, e você se fazendo de cego".

"Sam...".

"Foi ele sim, Cas! Ele está tentando me atingir, não consegue ver ou só não quer?" - Aumentei o tom da voz de repente, passando as mãos no rosto e soltando com a voz embargada, lutando para não cair num choro de raiva como agora eu fazia todo santo dia - "Dean quer me fazer sentir o que ele sentiu, o que é a maior burrice que aquele idiota já fez... Porque eu já me sinto assim... O tempo inteiro".

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora